Maestro do Canão foi homenageado em evento com mais de 20 atrações na região onde ele viveu, na zona sul da cidade de São Paulo
O cenário é o relatado nas músicas: no Brooklin, zona sul da cidade de São Paulo. Ao lado da Favela do Canão e outras quebradas onde Mauro Mateus dos Santos Filho, o Sabotage, viveu, aconteceu o evento de homenagem 17 anos após a morte do cantor, compositor, ator e ativista, neste sábado (25/01).
“O Sabotage é eterno, serve de inspiração para pessoas de todas as quebradas do Brasil. Em qualquer lugar que você chegar, todo mundo já ouviu rap e já ouviu Sabotage”, disse o cantor Rappin Hood, um dos organizados do 16º Tributo ao Sabotage.
O rapper está eternizado também na pele de muitos fãs. É o caso do tatuador Ramon Luiz, o Magrello, de 25 anos, que tem a imagem do Sabotage na barriga e um trecho da música “Rap é Compromisso” escrito no peito.
Apesar de ter apenas oito anos quando o Maestro do Canão morreu, Magrello diz que o cantor mudou o rumo da sua vida. “As músicas dele abriram minha visão e eu saí do crime por causa do que ele falava nas músicas”, conta.
“É gratificante ver que as músicas dele ainda ecoam, que o som bate, que a letra dele e as mensagens que ele passava têm resgatado as pessoas”, diz a filha do Sabotage, Tamires Rocha, 25 anos.
Desde a morte do Maestro do Canão, em 24 de janeiro de 2003, amigos e fãs se reúnem anualmente para prestar homenagens e relembrar o quanto ele foi e segue sendo importante para o rap nacional e influencia os jovens das periferias.
Nos anos anteriores, era sempre muito difícil realizar o evento, conforme lembra Tamires. “No começo não tínhamos recursos, então a gente fazia com o palco, som e nos lugares que davam, e começou a ficar ainda mais difícil por causa da polícia”.
Neste ano, no entanto, a estrutura foi a melhor que já teve até aqui. Os 44 mil metros quadrados a Área de Lazer Água Espraiada, onde era a favela Rocinha Paulistana, foram destinados ao evento.
O espaço favoreceu, inclusive, a festa a parte que grupos de fãs organizaram. Um exemplo é o pessoal de Americanópolis, também na zona sul paulistana, que levou churraqueira, bebidas e ficou no meio do parque curtindo rap. “É o quarto ano que a gente vem, e esse ano fizemos até a camiseta em homenagem”, disse o autônomo Júlio Souza, de 33 anos.
No mesmo grupo, o promotor de vendas Augusto César, de 35 anos, destaca a diferença que já é possível notar a evolução nos eventos em homenagem ao artista. “Começou daquele jeito pequeno, com as caixinhas dando aquelas falhas, e hoje, olha a qualidade: tem o palco, tem uma iluminação, o ambiente está bem melhor”.
O espaço que aconteceu o evento é gerido pelo Instituto Cria Conexões, formado por moradores da região do Sabotage, desde a inauguração, no final de julho do ano passado.
Segundo o presidente do instituto, Fagner Saturno, não tem como ganhar um espaço na região que o Maestro do Canão viveu e não usar para prestar homenagens. A área, que vai ser gerida pela organização não-governamental por 10 anos, já recebe diversos grafites relembrando o cantor.
Rappin Hood, que também é diretor do instituto, disse ainda que já existem planos de nomear a área como Arena Cultural Sabotage.
Além dos shows, com mais de 20 atrações, e toda estrutura do parque para lazer das crianças e adultos, dezenas de moradores de comunidades do Brooklin tiveram oportunidade de montar barraca e trabalhar no evento.
Um dos que usaram o tributo para conseguir uma renda extra foi o comerciante Ocimar de Araújo Monteiro, o Bicudo, de 49 anos. Dono de um bar, ele levou garrafas de bebidas para fazer a brincadeira para acertar o alvo. Por R$ 10, o jogador ganhava 12 argolas para tentar acertar uma garrafa e levá-la.
“Ao longo dos 17 anos sempre tivemos dificuldade para realizar esse evento, mas sempre os grupos e artistas quiseram participar, porque todos curtem o Sabotage e é uma forma de agradecer ao que ele fez”, conta o produtor cultural Nenê, da Família Brooklin Sul, que participa da organização do evento desde o começo. Mas, segundo ele, a tendência é que a partir de agora a estrutura seja cada vez melhor para homenagear o Maestro do Canão.
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