‘Respeitado lá no Brooklin de ponta a ponta’: 17 anos sem Sabotage

    Maestro do Canão foi homenageado em evento com mais de 20 atrações na região onde ele viveu, na zona sul da cidade de São Paulo

    Tatuador Ramon Luiz fez uma homenagem ao rapper Sabotage | Foto: Daniel Arroyo/Ponte

    O cenário é o relatado nas músicas: no Brooklin, zona sul da cidade de São Paulo. Ao lado da Favela do Canão e outras quebradas onde Mauro Mateus dos Santos Filho, o Sabotage, viveu, aconteceu o evento de homenagem 17 anos após a morte do cantor, compositor, ator e ativista, neste sábado (25/01).

    Rappin Hood | Foto: Daniel Arroyo/Ponte

    “O Sabotage é eterno, serve de inspiração para pessoas de todas as quebradas do Brasil. Em qualquer lugar que você chegar, todo mundo já ouviu rap e já ouviu Sabotage”, disse o cantor Rappin Hood, um dos organizados do 16º Tributo ao Sabotage. 

    Trecho da música ” Um Bom Lugar” de Sabotage | Foto: Daniel Arroyo/Ponte

    O rapper está eternizado também na pele de muitos fãs. É o caso do tatuador Ramon Luiz, o Magrello, de 25 anos, que tem a imagem do Sabotage na barriga e um trecho da música “Rap é Compromisso” escrito no peito.

    Apesar de ter apenas oito anos quando o Maestro do Canão morreu, Magrello diz que o cantor mudou o rumo da sua vida. “As músicas dele abriram minha visão e eu saí do crime por causa do que ele falava nas músicas”, conta.

    “É gratificante ver que as músicas dele ainda ecoam, que o som bate, que a letra dele e as mensagens que ele passava têm resgatado as pessoas”, diz a filha do Sabotage, Tamires Rocha, 25 anos. 

    Tamires Rocha, filha de Sabotage | Foto: Daniel Arroyo/Ponte

    Desde a morte do Maestro do Canão, em 24 de janeiro de 2003, amigos e fãs se reúnem anualmente para prestar homenagens e relembrar o quanto ele foi e segue sendo importante para o rap nacional e influencia os jovens das periferias. 

    Nos anos anteriores, era sempre muito difícil realizar o evento, conforme lembra Tamires. “No começo não tínhamos recursos, então a gente fazia com o palco, som e nos lugares que davam, e começou a ficar ainda mais difícil por causa da polícia”.

    Neste ano, no entanto, a estrutura foi a melhor que já teve até aqui. Os 44 mil metros quadrados a Área de Lazer Água Espraiada, onde era a favela Rocinha Paulistana, foram destinados ao evento.

    O rapper está eternizado também na pele de muitos fãs. É o caso do tatuador Ramon Luiz | Foto: Daniel Arroyo/Ponte

    O espaço favoreceu, inclusive, a festa a parte que grupos de fãs organizaram. Um exemplo é o pessoal de Americanópolis, também na zona sul paulistana, que levou churraqueira, bebidas e ficou no meio do parque curtindo rap. “É o quarto ano que a gente vem, e esse ano fizemos até a camiseta em homenagem”, disse o autônomo Júlio Souza, de 33 anos. 

    No mesmo grupo, o promotor de vendas Augusto César, de 35 anos, destaca a diferença que já é possível notar a evolução nos eventos em homenagem ao artista. “Começou daquele jeito pequeno, com as caixinhas dando aquelas falhas, e hoje, olha a qualidade: tem o palco, tem uma iluminação, o ambiente está bem melhor”.

    O espaço que aconteceu o evento é gerido pelo Instituto Cria Conexões, formado por moradores da região do Sabotage, desde a inauguração, no final de julho do ano passado.

    Marcelo, 48 anos fã de Sabotage | Foto: Daniel Arroyo/Ponte

    Segundo o presidente do instituto, Fagner Saturno, não tem como ganhar um espaço na região que o Maestro do Canão viveu e não usar para prestar homenagens. A área, que vai ser gerida pela organização não-governamental por 10 anos, já recebe diversos grafites relembrando o cantor.

    Rappin Hood, que também é diretor do instituto, disse ainda que já existem planos de nomear a área como Arena Cultural Sabotage. 

    Além dos shows, com mais de 20 atrações, e toda estrutura do parque para lazer das crianças e adultos, dezenas de moradores de comunidades do Brooklin tiveram oportunidade de montar barraca e trabalhar no evento. 

    Fãs acompanham os shows em homenagem a Sabotage |Foto: Daniel arroyo/Ponte

    Um dos que usaram o tributo para conseguir uma renda extra foi o comerciante Ocimar de Araújo Monteiro, o Bicudo, de 49 anos. Dono de um bar, ele levou garrafas de bebidas para fazer a brincadeira para acertar o alvo. Por R$ 10, o jogador ganhava 12 argolas para tentar acertar uma garrafa e levá-la.

    “Ao longo dos 17 anos sempre tivemos dificuldade para realizar esse evento, mas sempre os grupos e artistas quiseram participar, porque todos curtem o Sabotage e é uma forma de agradecer ao que ele fez”, conta o produtor cultural Nenê, da Família Brooklin Sul, que participa da organização do evento desde o começo. Mas, segundo ele, a tendência é que a partir de agora a estrutura seja cada vez melhor para homenagear o Maestro do Canão.

    Área de Lazer Água Espraiada | Foto: Daniel Arroyo/Ponte

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