Dezenas de cidades em todo o país registram protestos contra o presidente. Manifestações pelo impeachment de Bolsonaro acontecem desde 2020, mas foram reforçadas a partir de maio deste ano
Neste sábado (2/10) milhares de pessoas estão nas ruas do Brasil para protestar contra as ações do governo federal durante a pandemia e pedir o impeachment do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). O principal ato está marcado para a Avenida Paulista, em frente ao Masp, às 13h. A previsão é que as manifestações reunirão pelo menos 21 partidos e lideranças de diferentes correntes políticas.
Outros atos serão realizados durante a manifestação em São Paulo. Entidades de direitos humanos e pelo desencarceramento relembraram que a data também marca os 29 anos do massacre do Carandiru. Uma audiência pública acontece na Praça do Ciclista, próximo ao cruzamento da Paulista com a Rua da Consolação. Um ato ecumênico e a apresentação de grupos indígenas também estão previstos.
Maior que o ato do dia 12 de setembro, o protesto porém reuniu menos pessoas na Avenida Paulista do que a manifestação golpista liderada por Bolsonaro no dia 7 de setembro. Segundo nota da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP), o público estimado do ato deste sábado foi de 8 mil pessoas. A contramanifestação convocada pela esquerda em 7 de setembro, no Vale do Anahngabaú, e esvaziada pelo medo de confrontos, teria reunido 15 mil pessoas, também de acordo com a SSP. A organização do protesto deste sábado (2), por sua vez, estima um público de 100 mil pessoas.
As manifestações deste sábado (2) foram convocadas pela Campanha Fora Bolsonaro, que reúne partidos de esquerda como PT, PSOL e PCdoB, movimentos populares e centrais sindicais, como CUT e CSP-Conlutas. Apesar disso, reuniu nome sda direita também, como o deputado federal Alexandre Frota (PSDB-SP), feroz apoiador do presidente durante a campanha de 2018: “Eu ajudei a colocar o Bolsonaro lá e agora tenho obrigação a ajudar a atirar. Todo mundo erra. Eu fui mais um que acreditei nele. Em março de 2019 rompi com o Bolsonaro. De lá pra cá me tornei mais oposição que a própria oposição, já ouvi isso de gente do PT”.
Como tem sido a tônica nas manifestações contra Bolsonaro, para além das pautas contra a inflação e a má-condução da pandemia, o ato foi marcado por diversidade, com blocos de feministas reivindicando a legalização do aborto no Brasil e grupos de religiões de matriz africana cantando e realizando rituais na avenida. O Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) também levou centenas de pessoas à via.
Apesar da diversidade, o ato não transcorreu sem incidentes. A equipe da Ponte flagrou uma revista aparentemente arbitrária da PM a uma jovem de 24 anos que levava comida para casa. “Eles falaram que iriam me levar para a delegacia e colocar 1 kg de maconha nas minhas costas”, contou o rapaz, que não quis se identificar. O pré-candidato à presidência Ciro Gomes (PDT), que discursou em São Paulo ao lado de outros postulates ao Executivo federal em 2018 como Fernando Haddad (PT) e Guilherme Boulos (PSOL), foi quase agredido por um militante quando deixava o ato, segundo o UOL. Perto do fim da manifestação, um bloco de autonomistas carregando bandeiras pretas e vermelhas rasgou uma faixa verde e amarela que havia sido estendida no chão da Paulista pela organização do ato.
Juntos com amigos da ocupação Genilda Bernardes, localizada no bairro do Pimentas, em Guarulhos, região metropolitana da Grande São Paulo, o auxiliar de pedreiro Jairo Damasceno, 28 anos, salientava a importância de estar nas ruas para pedir o fim do que ele considera o pior governo da história. “A gente não consegue mais trabalho, mesmo para a gente que vive de bico. Não tem mais serviço.”
Segundo Damasceno, dentre os vários absurdos que o país vive atualmente, o que ele menos consegue entender são aqueles que ainda apoiam o governo Bolsonaro. “Sei nem o que dizer dessas pessoas. Ele é um racista que está acabando com o Brasil. Ele ofende mulher, ofende todo mundo.”
O paisagista Agnaldo Carlos, 36 anos, levou a sua cadela Sophia para a Avenida Paulista. O animal chamava a atenção das pessoas que estavam na manifestação por está vestido com as cores da bandeira do Brasil e a frase pedindo a saída do presidente em pedras brilhantes. “Eu estou muito insatisfeito com esse governo. Ele foi eleito prometendo acabar com a corrupção e hoje a gente vê o quanto ele é corrupto”.
Quem também colocou a corrupção como um dos motivos para estar no ato pedindo a queda do presidente foi o artista de rua Jahsa João, de 21 anos. “O que não falta é motivo para estar aqui, mas o principal é tirar esse corrupto da presidência. Acho que ninguém aguenta mais.”
Por volta das 18h20, começou a chover na região da Paulista e os manifestantes começaram a se dispersar.
No Recife, capital de Pernambuco, um motorista atropelou uma jovem no fim do ato, realizado na manhã deste sábado (2) no centro da cidade. Segundo o militante Jones Manoel, o motorista de um Jeep Renegade parou na esquina do Armazém do Campo do MST da cidade e discutiu com manifestantes que fechavam a via. Depois de uma discussão acalorada, enquanto outros manifestantes liberam a via, uma jovem entrou na frente do veículo, o motorista acelerou e a atropelou, diz Jones. “Ela foi arrastada por cerca de 50 metros, ele balançou o carro para ela cair do capô e passou por cima dela de propósito. O motorista passou por cima das pernas dela e ela bateu a nuca no chão”, completa o militante.
Segundo o portal Marco Zero, a mulher atropelada é uma advogada de 29 anos. Ela teve que passar por uma cirurgia por causa da fratura na perna e deve ser submetida a outro procedimento para tratar o traumatismo craniano que sofreu ao bater a cabeça. Ainda de acordo com o portal, O delegado Diego Acioli, do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa, pediu a prisão preventiva do motorista por homicídio doloso, mas ele não foi encontrado mesmo depois de dar entrevista para uma emissora de TV local.
Veja abaixo mais imagens do protesto em São Paulo: