Polícia Civil havia solicitado imagens do dia 8/12, quando duas mulheres foram flagradas com bilhetes em que a facção dava aval para assassinar promotor e coordenador de presídios; em ofício, diretor da Penitenciária 2 de Presidente Venceslau (SP) afirma que filmagens antigas são apagadas para novas gravações
A Penitenciária 2 (P2) de Presidente Venceslau , onde estão recolhidos os presos mais perigosos do país, não tem um moderno sistema de câmeras de segurança. O equipamento do presídio não tem capacidade para armazenar por longo período as imagens gravadas no interior e nas proximidades da unidade, de acordo com o diretor-geral da P2, Luís Fernando Negrão Bizzoto.
O delegado da Polícia Civil Everson Aparecido Contelli, responsável pelas investigações das ameaças de morte feitas ao promotor de Justiça Lincoln Gakiya e ao coordenador dos Presídios da Região Oeste Roberto Medina, precisava das imagens gravadas no dia 8 de dezembro de 2018.
Nessa data, duas mulheres de presos acabaram flagradas na saída da P2 de Venceslau, depois de visitarem seus maridos no raio 1, com cartas codificadas que davam aval para assassinar Gakiya e Medina. A motivação seria a possível transferência de líderes do PCC (Primeiro Comando da Capital) a presídios federais após a descoberta de um plano de resgate da facção. Na ocasião, a Justiça de SP chegou a mandar fechar o aeroporto da cidade.
Em resposta ao ofício enviado pelo delegado Contelli, o diretor-geral da P2 informou que o “sistema de câmeras possui pouca capacidade para armazenamento de imagens” e que as filmagens mais antigas são apagadas automaticamente pelo sistema, para que as novas sejam gravadas.
A P2 de Presidente Venceslau abriga, desde maio de 2006, os líderes do PCC, entre eles Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, apontado pelo Ministério Público Estadual como líder máximo da facção criminosa.
Cartas “forjadas”
A Polícia Civil apurou que as cartas apreendidas com as duas mulheres saíram da cela de Marcola, a de número 107 do raio 1. O companheiro de cela de Marcola, o detento Mauro Cesar dos Santos Silva, é marido de Alessandra Cristina Vieira, uma das mulheres presas em 8 de dezembro.
Marcola foi ouvido no dia 17 do mesmo mês por cinco delegados da Polícia Civil e cinco promotores de Justiça. Ele afirmou ter certeza de que o material apreendido por policiais da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar) com as duas mulheres “é forjado” pois “não tem texto bem formulado e apresentam erros grosseiros de português e de concordância”. O preso também frisou em depoimento que as duas mulheres não estão envolvidas com o crime organizado nem com os bilhetes.
Marcola também se propôs a ser submetido a exame grafotécnico para provar que não foi ele quem escreveu as cartas e acrescentou que não pertence à facção criminosa, que nunca ordenou a morte de Gakiya e de Medina e muito menos a do deputado estadual Coronel Telhada e do ex-secretário da Administração Penitenciária, Lourival Gomes. Os quatro, além do ex-secretário de Segurança Pública Antonio Ferreira Pinto, compõem uma lista de alvos da facção, segundo o Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) do Ministério Público paulista.
Pastor
No auto de coleta de material gráfico solicitado pelo delegado Contelli para analisar as letras de Marcola e saber se ele escreveu ou não as cartas apreendidas, consta que a profissão de Marco Willians Herbas Camacho, o homem apontado como chefão do PCC, é Pastor. No ofício, no entanto, não está especificado se Marcola é Pastor evangélico ou de ovelhas e carneiros.
A Polícia Civil garante que conseguiu decodificar as cartas graças a outras correspondências com os mesmos códigos encontradas em unidades da SAP (Secretaria de Administração Penitenciária), contendo a mesma série de caracteres.
Outro lado
A Ponte procurou a assessoria de imprensa da SAP questionando sobre o armazenamento do sistema de câmeras na Penitenciária 2 de Presidente Vesceslau, na noite de sexta-feira (11/1), mas não obteve retorno. Em novo contato, por e-mail e telefone no sábado, a assessoria disse que não poderia se posicionar porque as seções administrativas das unidades prisionais não funcionam após às 18h durante a semana e não têm expediente aos sábados e domingos. A reportagem aguarda uma resposta da secretaria.
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