Segundo a Polícia Civil, Gilcimar Flor Silva teria ameaçado mulheres trans que faziam programa na noite que Katarina Ariel Silva foi assassinada
Um homem preso preventivamente suspeito de ter assassinado a transexual Katarina Ariel Silva, 22 anos, na sexta-feira (14/2), em São Paulo, pode ter ameaçado outras mulheres trans que faziam programa no mesmo ponto na noite do assassinato da jovem, segundo a Polícia Civil.
Conforme apurado pela Ponte, testemunhas relataram à polícia que Gilcimar Flor Silva, preso desde sábado (15/2), teria ido ao menos três vezes no ponto em que elas faziam programa no Parque do Carmo, zona leste de São Paulo.
Leia mais:
Mulher trans é espancada ao se recusar a fazer programa na zona leste de SP
Mataram Verônica, a ‘Mãe Loira’ da população trans de Santa Maria (RS)
‘Minha vida se foi junto com ela’, diz mãe de transexual assassinada a pauladas em SP
Na primeira abordagem, o suspeito teria aceitado o valor cobrado por programa com uma das garotas e, depois que ele mesmo desistiu, teria ameaçado a vítima com uma faca. Ele dirigia uma caminhonete. “Ele disse que voltaria e nos mataria, apontando uma arma”, relatou uma das garotas.
Mais tarde, o homem foi ao local com um veículo vermelho, no qual Katarina foi atacada e, posteriormente, encontrada morta no entorno do parque. Uma pessoa confirmou à Polícia Civil, segundo o registro da ocorrência, que viu a jovem trans subir no carro para fazer um programa.
De acordo com a investigação, Gilcimar teria confessado o crime à polícia por supostamente Katarina não ter troco para o valor acertado: enquanto o acordo era de R$ 50 pela prática de sexo oral, ele teria apenas uma nota de R$ 20 e uma de R$ 100 para pagar.
O suspeito, conforme relato da polícia, disse que a trans recebeu os R$ 100 e teria tirado a chave do carro da ignição para tentar ir embora, quando ele a puxou pela bolsa e a jovem teria sacado uma faca. Gilcimar então teria invertido a direção da arma branca para se defender e, consequentemente, a feriu.
De acordo com o delegado Eduardo Bernardo Pereira, que comanda a equipe D-Leste do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa, o suspeito é conhecido pelas transexuais que trabalham no entorno do Parque do Carmo como um homem violento.
Pereira afirmou à Ponte que o suspeito declarou ter ido mais uma vez ao ponto das transexuais, novamente com sua caminhonete, mas não acertou nenhum outro programa. Depois, ainda se dirigiu à um bar para beber, ainda de acordo com a versão da polícia.
“O que apuramos é que ele tem uma predisposição a agredir transexuais e, além disso, tem [no histórico] uma tentativa de homicídio com mesmo modus operandi: usou uma faca”, explicou. No caso citado, Gilcimar esfaqueou um homem por conta de uma discussão em um bar. Esse processo ainda corre na Justiça, segundo o delegado, sem maiores informações.
Agora, a Polícia Civil investiga se há outros casos como o de Katarina em que ele teria participado. “Nosso esforço é apurar para outras possíveis vítimas”, explicou Pereira.
Gilcimar permanecerá preso por ao menos 30 dias, conforme decisão da Justiça de SP. Um dos próximos passos da investigação é o resultado de exame do DNA recolhido nas unhas da vítima, que teria tentado resistir à agressão.
A polícia coletou material do suspeito para identificar se há compatibilidade com a pele recolhida no corpo de Katarina. “Ele tinha bastantes ferimentos, estava arranhado”, afirmou o delegado. A previsão é de 20 dias para a conclusão do exame.
Katarina era natural do Ceará e dividia casa com ao menos outras dez jovens transexuais que fazem programa no entorno do Parque do Carmo. A Ponte apurou que elas se juntaram e pagaram os R$ 5 mil de traslado para que o corpo fosse enterrado pela família no estado de origem.