Em postagem do MBL sobre o ocorrido, Thiago Moreno admitiu ter jogado ovos no ex-deputado durante conferência em Portugal, ganhando mais de mil curtidas e palavras de incentivo; ele promete nova tentativa
O Movimento Brasil Livre (MBL) postou, no dia 26 de fevereiro, em suas redes um vídeo do político e ativista Jean Wyllys sofrendo ataques com ovos durante uma conferência na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (FEUC), em Portugal. Seguranças da universidade agiram rapidamente e bloquearam a ação. Mesmo assim, a ação foi comemorada na página, em especial por Thiago Moreno, que postou a seguinte frase.
“Os créditos da ovada são meus, amanhã tem mais em Lisboa?✌?.” O comentário já ganhou mais de mil curtidas e centenas de respostas de incentivo. O vídeo foi compartilhado mais de 5,5 mil vezes. Procurado em seus dois perfis no facebook, Thiago Moreno respondeu à Ponte na manhã desta quarta-feira (27/2).
Moreno é enfermeiro e está em Portugal para um tratamento de saúde. Ele confirmou a autoria do conteúdo postado na página do MBL, mas quando questionado se considerava o que fez como um tipo de agressão, ele discordou. “Não é atingir, é protestar, repudiá-lo”, justificou. “A agressão que ele está impondo aqui na Europa, dizendo inverdades, nada do que ele fala condiz com a verdade. Isso é o mínimo que eu posso fazer em forma de manifestar meu descontentamento com as ideologia dele, com as mentiras dele e tudo que ele representa, que é o avesso a sociedade de bem.”
Em seu perfil Thiago expõe toda sua trajetória, postando até mesmo uma foto às nove da manhã do dia 26 mostrando uma caixa com meia dúzia de ovos e a seguinte frase: “Já cheguei logo cedo para pegar a primeira fila. ?#jeanwyllysnaoébemvindoemPortugal?”. Segundo reportagem do site português Notícias de Coimbra, um dos dois homens que tentou atacar Jean tinha justamente uma caixa com seis unidades de ovos. A Folha de São Paulo fez a mesma constatação. Nenhuma das publicações, no entanto, identificou os autores do ataque com ovos e nem explicou se eles foram detidos para averiguação. Thiago disse que chegou, sim, a ser detido e logo foi liberado.
A Folha, porém, ressaltou que logo após a conferência os agressores comemoraram o feito com um pequeno grupo de pessoas do PNR (Partido Nacional Renovador), legenda de extrema-direita portuguesa, que foi ao local para criticar Wyllys, o marxismo cultural e a esquerda. Thiago, por sua vez disse que se juntou ao grupo por conta da presença de manifestantes antifascistas que, segundo ele, teriam agredido ele e outros colegas antes mesmo da ovada.
Ainda em seu perfil, Thiago reforçou as ameaças já contidas na página do MBL e postou fotos de sua passagem para Lisboa, onde aparentemente espera que Jean Wyllys faça outra conferência ou aparição pública. A Ponte tentou entrar em contato com a assessoria e com o ex-deputado para confirmar seu calendário na cidade, mas não obteve retorno.
Uma das principais motivações para o ataque, segundo Moreno, é a suposta ligação de Jean Wyllys, do PSOL e de Adélio Bispo, o homem que esfaqueou o presidente Jair Bolsonaro, ainda no período de campanha eleitoral, em setembro do ano passado.
“Não tenho receio de ser detido nem processado, porque estou exercendo o meu direito também, assim como ele julga exercer o dele. Ele deveria estar à disposição da justiça brasileira para eventuais questionamentos da Polícia Federal sobre Adélio que tentou matar o presidente Bolsonaro”, afirmou Thiago Moreno. Não há, contudo, qualquer comprovação de que haja essa ligação.
Quem criou a notícia falsa foram anônimos apoiadores de Bolsonaro, mas ela foi impulsionada com o apoio de perfis famosos como do cantor e compositor Lobão, que criou a hashtag #InvestigarJeanWillis (assim, com a grafia do ex-deputado incorreta mesmo) e o ex-ator pornô e agora deputado Alexandre Frota.
ESSA PARADA DE JEAN WILLIS SAIR DO BRASIL E DEIXAR A VIDA PÚBLICA SÓ LEVANTA SÉRIAS SUSPEITAS SOBRE SEU ENVOLVIMENTO NA TENTATIVA DE ASSASSINATO A JAIR BOLSONARO.,DEVE SER INVESTIGADO IMEDIATAMENTE.
ESSE PAPO É LOROTA. #InvestigarJeanWillis— Lobão (@lobaoeletrico) January 25, 2019
O próprio presidente, em postagens no Twitter, que ele usa como espécie de ferramenta oficial de comunicação do governo, também indicou ligação de Adélio com o PSOL, embora não tenha citado nominalmente Jean Wyllys.
Primeira reunião ministerial após a última cirurgia, consequência de tentativa de assassinato feita por um ex-integrante do PSOL. Obrigado Deus pela oportunidade! Excelenteinício de noite a todos! 🇧🇷👍 pic.twitter.com/pBvVk4t7z2
— Jair M. Bolsonaro (@jairbolsonaro) February 19, 2019
Um dos filhos do presidente, o deputado federal Flávio Bolsonaro, também citou a ligação entre o agressor de seu pai e partido de Jean Wyllys.
Já se passaram 5 meses! A facada sabemos que quem deu foi um ex-integrante do PSOL, mas quem tentou matar Bolsonaro? pic.twitter.com/JSYfZ0E1AI
— Eduardo Bolsonaro🇧🇷 (@BolsonaroSP) February 7, 2019
A Ponte informou que a tese da suposta ligação entre Adélio e Jean foi desmentida por agências de fact-checking, mas Thiago refutou e disse que essas agências de checagem não são confiáveis.
Ameaças de morte levaram Jean Wyllys a deixar o Brasil
O deputado federal pelo Rio de Janeiro Jean Wyllys, do PSOL (Partido Socialismo e Liberdade) decidiu renunciar ao cargo no final de janeiro e se auto-exilou, com medo das ameaças de morte que vinha sofrendo de forma constante e que aumentaram desde a eleição de Bolsonaro. Ele é alvo recorrente de notícias mentirosas, especialmente durante a campanha eleitoral, sendo perseguido por grupos conservadores que apoiam o presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL).
Em entrevista para a Ponte no dia 10 de dezembro de 2018, o deputado já dizia ter medo de acabar como Marielle Franco, assassinada em 14 de março do ano passado no centro do Rio – crime ainda sem solução -, e que estava vivendo “pela metade”. “A minha vida é uma vida pela metade. Eu fico constrangido de ir num lugar de passeio, de lazer, com uma escolta. Não é bacana. Nos últimos meses eu fui apenas uma vez ao cinema. Quando eventualmente consigo ir ao teatro vou de escolta”, explicou Jean. “Moro a duas quadras da praia de Copacabana e tem dois meses que não piso na areia. Eu posso ser atacado a qualquer momento. Essa não é apenas uma sensação, é uma constatação”, completa.