Walisson, o golpista de Brasília que enganou o Brasil

    Como um rapaz criou uma história comovente de superação para aplicar golpes financeiros e enganar o país inteiro; além da Ponte, UOL, Globo e SBT, entre outros veículos, caíram na mentira

    Walisson em dois momentos: bancando o estudante esforçado e “na farra” como ele mesmo costuma dizer | Foto: arquivo pessoal

    A história de Walisson dos Reis Pereira da Silva convenceu e comoveu o Brasil. Não é para menos. O enredo é digno de um filme do tipo À procura da felicidade, especialmente pelo contexto de superação: um ex-morador de rua que conseguiu se formar na universidade. Mas a história de Walisson mais se parece com Vips. Com o discurso de vítima bastante alinhado todas as vezes em que veio a público pedir ajuda, ele enganou a boa fé de pessoas que o ajudaram em pelo menos três vaquinhas online: duas para pagar a festa de formatura – que ele havia ganhado da empresa – e a última, feita no início desse ano, para ajudá-lo porque, após se formar, estaria desempregado, “desesperado e sem rumo”, como escreveu à Ponte no dia 29 de janeiro.

    A imprensa também embarcou na corrente de solidariedade a esse suposto Brasil real. Nos últimos três anos, UOL, G1, SBT e até a Ponte publicaram reportagens contando a triste história de Walisson. Graças à propaganda midiática, levantou nas três vaquinhas ao menos R$ 13.830, segundo o próprio Walisson, levando em conta apenas o que foi depositado por meio do site Vakinha. Como ele também disponibilizava o número de sua conta bancária nas campanhas, o valor arrecadado pode ter sido muito maior. E não para por aí.

    A história de vida de Walisson, contada por ele próprio, é de que nasceu no interior de Minas Gerais e, após ser abandonado pelos pais, voltou a encontrá-los anos mais tarde. A convivência, porém, era ruim, porque o pai o torturava. Essa situação de extremo sofrimento levou Walisson a ir morar nas ruas, em Brasília, onde viveu até 2008. A rodoviária teria sido seu lar durante aqueles anos. Mas ele venceu na vida e com muito esforço foi estudar Direito na Fortium, instituição particular no Distrito Federal. De lá, foi para para a UPIS – Faculdades Integradas, onde concluiu o curso.

    Seria uma linda história – se fosse verdade. Mas a apuração da Ponte apontou que, tirando a origem humilde e o fato de ter estudado direito, todas as outras afirmações de Walisson se perdem em meio a contradições, mentiras e mistérios.

    Em 18 de fevereiro deste ano, o G1 informou que o jovem havia se formado em dezembro e que a festa de formatura aconteceria no final de março. Na reportagem, Walisson informa que criou uma vaquinha para pagar um tratamento dentário e se “preparar para o grande dia”, já que as despesas da festa haviam sido pagas pela própria empresa de formatura. Uma pessoa próxima ao estudante afirmou à Ponte que o tal tratamento dentário é  uma faceta, um tratamento estético que virou febre entre famosos e pode chegar a custar o preço de um carro popular.

    Ao revelar que não havia gasto um centavo com a festa de formatura, Walisson acabou desmentindo o motivo alegado para as duas vaquinhas anteriores, realizadas em 2016 e 2018. No pedido do ano passado, que continua no ar, ele escreve:

    Walisson viveu na Rodoviária de Brasília por quatro anos. Voltou a estudar e hoje cursa direito. O sonho agora é conseguir pagar o baile de formatura e continuar sendo um exemplo vivo de perseverança para as crianças que cresceram sem oportunidades como ele.

    O perfil de quem criou a vaquinha é o nome de Bruno Costa, mas por telefone à Ponte, Walisson confirmou que era para ele a arrecadação

    Foi esse o ponto detonador de tudo. Nos comentários da plataforma de arrecadação virtual criada por Walisson para o tratamento dentário, que já foi excluída, uma pessoa escreveu o seguinte: “Tenho dó das pessoas que estão dando seu dinheiro suado e acreditando em tudo isso. Eu conheço a família e ele. Ele tem um HB20, tem processos, fez outras vaquinhas e a família disse que ele gastou o dinheiro a toa”. Isso foi a ponta de um novelo de lã que se desenrolou em mais suspeitas de que Walisson age como um estelionatário.

    O analista de sistemas Marco Amorim, que mora em Brasília, conta que se comoveu ao ler a história, mas, ao realizar uma rápida pesquisa, viu inconsistências e encontrou processos diversos na justiça envolvendo o nome de Walisson. “Um deles dizia respeito a um bloqueio de transferência de veículo HB20 no nome dele em 2015. Como um cara que tá precisando fazer vaquinha tem um carro? Suspeitei, compilei provas e enviei a dois jornais locais. Além disso, fui indo em publicações da história dele no Facebook, como a da página Quebrando o Tabu, e alertando as pessoas do golpe. Foi aí que um perfil possivelmente fake dele entrou em defesa e me fez uma ameaça velada postando fotos da minha família no meu inbox”, relatou à Ponte.

    “Ontem [27/2] soube que ele andou disparando posts em massa atribuindo meu perfil ao suposto pai dele, que ele diz ser um torturador”. Marco registrou um boletim de ocorrência por calúnia e difamação e ainda aguarda a orientação jurídica para saber como proceder com a ameaça do perfil fake.

    Paralelamente, um grupo negro chamado Quilomboche no Facebook também desconfiou da veracidade e passou a investigar Walisson, como explica Christian Santos. “Descobrimos que talvez ele estivesse mentindo pelo fato de ele ter oferecido uma carona e então significa que tem um carro. Fomos procurar mais sobre ele e ao ser indagado, ele mentiu e foi excluindo e bloqueando quem ia no perfil pessoal dele. Depois disso, o mesmo produziu um vídeo tentando justificar e acabou dando mais informações mentirosas e de fácil checagem”, explicou.

    Christian foi convidado por Eila Bessa a criar um grupo no Facebook chamado “Walisson golpista de Brasília”, que já tem quase 300 pessoas reunindo histórias, informações e evidências contra ele. Nas conversas e postagens, ficou quase impossível não lembrar do emblemático caso da Grávida de Taubaté, a mulher que, em 2012, enganou o Brasil inteiro com uma falsa gravidez de quadrigêmeos. A jornalista Chris Flores, que trabalhava no Hoje em Dia, da Record, foi uma das primeiras a entrevistar Maria Verônica Aparecida César Santos, a ‘grávida’. Chris Flores, que iniciou a história, foi também quem a desmascarou. A falsa grávida se sentiu mal e no hospital se recusou a ser examinada. No grupo do Facebook, já estão até rolando montagens dos dois.

    Golpistas, ativar: Walisson e Maria Verônica, a grávida de Taubaté (montagem do grupo “Walisson golpista de Brasília”, no Facebook)

    O jovem, que antes era muito ativo nas redes sociais, desativou o perfil na quarta-feira à noite, quando a Ponte entrou em contato com ele enviando 17 questões sobre o caso.

    Chave de ouro

    Em 15 novembro de 2016, reportagem do UOL trazia como título “Nunca desisti de estudar, diz ex-morador de rua que se formará em Direito”. O texto conta que Walisson “trocou o chão frio da rodoviária do Plano Piloto pelo calor das bibliotecas da cidade” e, mais adiante, que está no 8º semestre e que faz estágio na Casa Civil. Mais adiante, a reportagem afirma que “para fechar com chave de ouro a conquista da graduação, Walisson sonha com a festa de formatura, que será realizada no ano que vem”.

    Na sequência, o texto traz as seguintes informações: que Walisson ganha R$ 760 e, desse valor, R$ 500 são usados para pagar o aluguel da quitinete onde vive e o que sobra “usa para comer e tirar cópia das apostilas”. O texto direcionava o leitor para uma campanha no site Vakinha Virtual, que já está desativada.

    Em março de 2018, Walisson procurou a Ponte pedindo ajuda pela mesma razão pela qual, há quase dois anos, havia procurado o UOL. Em 8 de abril de 2018, a reportagem é publicada com informações muito semelhantes à que Walisson tinha dado dois anos antes. A diferença é que ele disse à Ponte que estava no 9º semestre. Disse também que ganhava R$ 760 no estágio e que gastava R$ 500 para aluguel. Além disso, afirmou que o sonho era ser defensor público para “levar justiça às pessoas”.

    Mas datas e locais pouco importam na trajetória de Walisson que, em conversa por telefone com a Ponte, se colocou como vítima e, em dezenas de ligações durante a manhã e tarde desta quinta-feira (28/2), negou qualquer acusação, não respondeu às perguntas, se contradisse, mudou versões e, por fim, ameaçou processar a reportagem.

    Eloquente e um pouco teatral, Walisson oscila entre falar bem depressa e passar muitas informações, na provável tentativa de confundir o seu interlocutor, com momentos de perda repentina de memória e silêncio. Em alguns momentos, adotou um tom debochado, soltando frases como “Tenho processos, sim, quem não tem?”. Mas, na maior parte do tempo, tem domínio do raciocínio que segue e se mantém tranquilo.

    Quem já teve contato com Walisson, afirma que ele curte uma farra, sempre feita com o dinheiro que pediu em arrecadações nos últimos anos, é vaidoso e gosta muito da vida fácil. “Você tá doido que eu quero trabalhar? Eu mereço um Iphone, um carro novo e eu não vou trabalhar pra isso, não”, disse uma pessoa próxima.

    Um funcionário do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, sob a condição de anonimato, contou que ele é “figurinha carimbada” nas mais diversas varas, até porque responde a vários processos. “Ele ligava para saber o andamento do processo falando que era defensor público. A gente passou a saber que era ele porque ele ficava ligando de celular e a Defensoria Pública nunca liga no Fórum de celular. Esse processo que ele teve lá na Vara foi de lesão corporal grave. O juiz ia classificar como tentativa de homicídio, só que deu a entender que foi lesão corporal”, conta. “A mãe de uma amiga fez a transferência de uma das vaquinhas e eu comentei no grupo que ele era 171, que ele manipulava. No mesmo dia ele ligou no meu trabalho, já sabia meu nome todo e me ameaçou. Quis falar com minha chefe e falou que ia me fazer perder o emprego. Ele está enganando as pessoas com essa historia da vaquinha e existem pessoas boas ajudando ele, como a mãe da minha amiga. Eu falei para ela ir na delegacia e ela disse para deixar pra lá porque não quer se envolver. São três anos seguidos que ele faz vaquinha pra formatura”, afirma. 

    Ao telefone, Walisson tentou fazer com a reportagem o que fez nos últimos anos: confundir. E também fez ameaças: “Escreve aí no seu jornalzinho o que você quiser, mulherzinha da Ponte, que eu vou te processar. Meu corpo jurídico vai cuidar de tudo”.

    ‘Não usei a vaquinha para dar golpe’

    Eram aproximadamente 9h da quinta-feira quando Walisson me ligou. “Essas fotos são as fotos de onde o cara rico mora”. A frase não fazia sentido. A gente sequer havia iniciado uma conversa. No dia anterior eu apenas havia feito por escrito os questionamentos. Mais adiante, na entrevista que durou mais de uma hora, Walisson iria cair em contradição ao dizer que as fotos que tinha enviado eram, na verdade, do local onde mora e onde paga um aluguel de R$ 730. Na sequência, começa a atacar Marco Amorim, um dos internautas que o denunciou. “Ele foi em todos os comentários de reportagem, eu soube que ele é amigo do meu pai e eu não falo com meu pai, porque meu pai me torturava quando eu vim morar com ele. E eu não quero ter contato com meu pai, claro. Tenho mágoa dele”. A própria família de Walisson nega que isso seja verdade.

    Walisson então começou a contar, mais uma vez, a sua suposta história de superação e, de cara, várias informações não se conectavam. “Eu fui abandonado pelos meus pais quando fui pequeno. Morava eu e minha irmã com meus avós em Minas Gerais. Minha irmã veio morar com meu pai. Ele agredia ela, mas ela acabou ficando por aqui mesmo. No ano de 2000, eu terminei a oitava série e vim morar com meu pai. Só que aí não deu certo. Ele me batia muito, me torturava, me amarrava, tirava foto e mandava para minha família. Eu fugi de casa e fui morar na rua. Aí eu fui morar com minha mãe, no Recanto das Emas”.

    Em seguida, Walisson inicia uma nova narrativa: a de que jamais conheceu a mãe quando criança, de que não tem lembrança dela e que veio encontrá-la em Brasília, mas que “a convivência não deu certo” e ele acabou indo morar “mais uma vez” com o pai, que seguia com as agressões. “Eu fugi de casa de novo e fui morar na rodoviária de Brasília. Eu fiquei lá de 2001 até 2007, quase 2008. Qualquer pessoa que você for perguntar na rodoviária me conhecesse, eu vivia lá, eu comia resto de comida.”

    A fixação pela fome aparece em outros momentos do discurso de Walisson e ele chegou até mesmo a espalhar imagens de uma geladeira sem comida – uma delas estampou uma das vaquinhas virtuais feitas por ele. Nesta quinta-feira, enviou para a reportagem fotos da famosa geladeira vazia – e suja.

    A geladeira vazia em foto que ele mandou por Whatsapp para a reportagem

    Ao ser questionado sobre as acusações que as pessoas fazem contra ele, Walisson é taxativo e se diz inocente de tudo. Quando percebe que está perdendo o controle da conversa, muda de assunto ou finge amnésia. “Talvez tenha me equivocado”, disse, quando perguntado sobre o motivo de ter dito ao UOL e à Ponte, com quase dois anos de diferença, que estava no 8º semestre em 2016 e no 9º em 2018. Além disso, Walisson se perde em datas e é comum dizer que não se recorda se estava estagiando ou não. Confira um dos trechos da conversa:

    Ponte – Você procurou a Ponte em janeiro dizendo que estava desempregado. Quando você saiu do último estágio?

    Walisson – O meu último estágio foi em dezembro de 2018… 2018? Acho que foi…. Não, espera. Foi dezembro de 2017, no Tribunal de Justiça. De lá pra cá não tive mais emprego.

    Ponte – Na entrevista para a Ponte em abril do ano passado, você disse que estava estagiando e que ganhava R$ 760. Se você estava estagiando só até 2017, você mentiu?

    Walisson – Talvez eu tenha me equivocado. Não foi uma mentira. Talvez um equívoco. Talvez, eu digo que foi.

    Ponte – Nesse sentido, você disse que estava no 8º semestre…

    Walisson – 8º semestre….ano passado. 2016 você esta falando? Porque eu me formei ano passado.

    Ponte – Isso, você disse que estava precisando da vaquinha para se formar…

    Walisson – Em 2017.

    Ponte – Não foi 2017. A reportagem nossa foi feita em abril do ano passado. Vamos falar a verdade? Você enganou a gente, Walisson?

    Walisson – Eu enganei vocês?

    Ponte – Enganou, sim.

    Walisson – Eu me formei em 2018.

    Ponte – E em 2016 você deu uma entrevista falando que estava no 8º semestre. Que faculdade é essa em que o semestre dura 2 anos?

    Walisson – Não falei isso, não.

    Ponte – A reportagem mentiu?

    Walisson – Mentiu.

    Ponte – Por que você fez duas vaquinhas, uma em 2016 e uma em 2018, para a formatura?

    Walisson – Venha para Brasília conversar com as pessoas que me conhecem.

    Ponte – Eu não quero falar com as pessoas que te conhecem, eu quero falar com você. Me responda. Estou dando essa possibilidade para você.

    Walisson – Olha só como você esta me tratando.

    Ponte – Você esta enrolando. Por que você fez duas vaquinhas?

    Walisson – Então, é… fiz a matéria com vocês… eu não me recordo muito. O SBT fez uma matéria comigo em 2016. Eu estava no 8º semestre. 2016? Eu me formei em 2018. No segundo semestre de 2018, a empresa me concedeu a formatura. O pessoal da Luna Eventos. O dinheiro que consegui antes eu usei para pagar aluguel e para comer. E agora a vaquinha que fiz foi para fazer um tratamento dentário e comprar alimentos, porque estou desempregado. O aluguel onde moro é R$ 730 com o condomínio, que vem água e gás. Também sou inscrito no bolsa-família, ganho R$ 295.

    Na última vaquinha, Walisson afirma ter conseguido R$ 8.300. A campanha não está mais no ar. Walisson disse que havia saído automaticamente do ar. O site Vakinha Online explica que, mesmo que a meta tenha sido batida, o usuário pode optar por deixar ou não a campanha no ar e que apenas ele tem o poder de excluir. Mais adiante, Walisson mudou a versão e disse que “foi excluída porque tinha batido a meta e as pessoas poderiam me acusar de má fé”.

    Carro, laptop e mala extraviada

    “Processo todo mundo tem”. É assim que Walisson respondeu à reportagem quando questionado sobre seu histórico na justiça. Em agosto de 2015, ele se envolveu em um enrosco: flagrante de receptação de produto roubado. Segundo denúncia do Ministério Público, ele tentou vender um laptop no valor de R$ 2.500 na OLX que era produto de furto. “Na residência do apelante havia diversos outros bens, os quais estavam sendo igualmente anunciados à venda na OLX pelo acusado, deixando claro que ele mantém comércio informal de objetos irregulares”, escreve a acusação.

    Walisson afirma que o laptop era de uma amiga travesti, que teria recebido como pagamento de um cliente e que teria lhe pedido que vendesse o objeto no comércio virtual. Afirma que não sabia que o produto era roubado.

    Pelo crime de receptação, Walisson foi condenado a três anos de reclusão. Por ainda ter bons antecedentes, o juiz João Lourenço da Silva permitiu que cumprisse a pena em liberdade. O réu entrou com diversos recursos nos últimos anos para questionar a condenação e tentar atenuá-la. Em agosto do ano passado, o juiz Rogério Schietti Cruz considerou improcedente o recurso e manteve a condenação. Walisson recorreu mais uma vez e aguarda decisão.

    Em 16 de janeiro de 2017, Walisson quase matou com uma tijolada um rapaz que havia lhe cobrado por um plano odontológico contratado em Riacho Fundo (DF). Ele foi condenado a 2 anos e 6 meses de reclusão. Segundo a sentença judicial, Walisson foi até a casa do vendedor do plano para discutir sobre a dívida. Os dois brigaram na rua e, num momento em que a vítima virou de costas, Walisson o golpeou com um tijolo na cabeça. Após o ataque, o vendedor perdeu parte da fala e da coordenação motora.

    Tanto no processo quanto à Ponte, Walisson afirmou que agiu em legítima defesa. Como a decisão do juiz impunha cumprimento de pena em regime aberto, Walisson nunca foi preso, entrou com apelação da condenação no TJDF e ainda aguarda o término de todas o recursos possíveis.

    Walisson, que adora aprontar várias e se meter em confusões, como a chamada da Sessão da Tarde da TV Globo, deu perda total em um veículo HB20 que estava em seu nome, em 2017. Só que tem um pequeno detalhe: o seguro estava no nome de um terceiro, que é um funcionário público aposentado. Walisson, então, foi atrás dos seus direitos: entrou com uma ação tentando conseguiu o dinheiro da apólice, mas perdeu até a última instância.
     
    A Ponte questionou de onde vinha o veículo, já que ele é uma pessoa que afirma passar uma vida de necessidade. Walisson contou que ele e o servidor público haviam tido um caso de amor e que ele ganhou o veículo de presente. Em janeiro deste ano, um post dele no Facebook anunciava uma carona de Brasília para Minas Gerais com 4 vagas disponíveis.
     
     
    Quando questionado qual o veículo que ele estava usando, uma vez que havia destruído o HB20, ele disse que o carro seria da irmã: “A minha irmã tem carro e a gente ofereceu carona”. Questionado sobre o número de ofertas de vaga e o número máximo de ocupantes do carro, ele rapidamente disse: “eu dirijo”.  “Mas e sua irmã?”, questionou a reportagem. “Nesse dia minha irmã não ia.”
     
    Anos antes, em 2015, Walisson registrou uma reclamação no site Reclame Aqui contra a empresa aérea Gol. De acordo com ele, a mala havia sido extraviada no trecho Rio de Janeiro – Brasília. A lista de supostos itens é imensa e cara, ainda mais para um ex-morador de rua que vive com a geladeira vazia.
     
     
    Ele alega que o funcionário público com quem manteve um romance – o mesmo que deu a ele um HB20 e que, ainda na versão dele, chegou a namorar uma prima dele – é quem tinha lhe dado os agrados.
     
    Walisson se sente injustiçado com tudo isso. “Eu sai do Facebook porque não vou ficar lá olhando todo mundo me escrachar”. Antes de desligar, afirma que tem um sonho: “Fazer a prova da OAB e me tornar defensor público”.

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