Três PMs são presos por tentativa de homicídio em emboscada na Grande SP

Agente de segurança foi surpreendido por encapuzados armados em um veículo Prisma e trocou tiros; soldado William Leite e os cabos Wagner Cunha Junior e Rafael Francesconi foram identificados em hospitais por terem sido baleados no mesmo dia

O soldado William Quintino Leite e os cabos Wagner Aparecido Cunha Junior e Rafael Francesconi foram indiciados por organização criminosa e dupla tentativa de homicídio qualificado contra um agente de segurança em Carapicuíba (Grande SP) e o filho dele, nesta quinta-feira (13/5). As prisões do trio foram convertidas em preventiva (por tempo indeterminado) nesta sexta-feira (14/5).

De acordo com o boletim de ocorrência, os policiais militares Wesley Fernandes de Oliveira e Magney Souza Rodrigues, do 33º Batalhão Metropolitano, receberam chamado a respeito de um grupo de pessoas que conversavam ao redor de um Toyota Hilux preto, na Rua da Lagoa, e abordaram o dono do veículo, o agente de segurança Jorge Ferreira da Silva, que relatou a tentativa de homicídio quando foi buscar seu carro em um lava jato e que seu filho de 18 anos, que estava com ele no local, foi ferido.

Por meio dos relatos de testemunhas e de imagens de câmeras de segurança de estabelecimentos no local, identificaram pelo menos quatro pessoas armada e usando máscaras pretas que ocupavam um automóvel GM/Prisma preto, que para em frente a esse grupo e começa a fazer disparos em direção a ele.

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Dois atiradores que estavam no banco de trás do carro desembarcam, como mostram as imagens, e passam disparar contra o agente de segurança cujo filho foi baleado na perna. Jorge, segundo o documento, tem porte de arma e passou a trocar tiros com a dupla, que fugiu a pé. O Prisma seguiu até a esquina, e o suspeito que estava no banco do passageiro saiu do veículo, se escondeu atrás de um caminhão estacionado, continuou efetuando tiros e depois voltou ao carro e fugiram. Jorge não se feriu.

O dono da lava jato disse à polícia que Jorge foi buscar seu carro no local à tarde e que eles estavam conversando ao redor do veículo quando percebeu que “uma pessoa havia abaixado o vidro da porta de trás do motorista e percebeu que referida pessoa estava de capuz, com uma blusa vermelha e com uma arma na mão”.

Ele saiu correndo, ouviu disparos, subiu a rua e depois e se escondeu dentro do lava jato. Disse que não viu mais nada, mas ouviu muitos tiros. Logo em seguida, o filho de Jorge entrou no estabelecimento baleado. O dono do local disse que o colocou dentro de casa e fechou os portões até a chegada da Polícia Militar.

Jorge declarou que um dos atiradores entrou dentro de uma loja de materiais de construção que existe de frente onde estavam, continuou trocando tiros e depois sumiu. Ele afirmou que não conseguiria reconhecer os atiradores por estarem mascarados, mas que seriam todos altos sendo um deles com “tom de pele morena escura”, e que tentou ir atrás do veículo Prisma, mas não conseguiu encontrá-lo e retornou ao local.

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Depois, a corporação teve conhecimento de que, naquele dia, o soldado William e o cabo Rafael, ambos lotados no 20º Batalhão Metropolitano, haviam dado entrada no Hospital Regional de Osasco. O primeiro foi atingido no antebraço direito e no dedo da mão esquerda; já o segundo foi atingido no ombro esquerdo. No hospital, foi encontrado com os dois PMs a carteira funcional do cabo Wagner, que é lotado no 5º Baep (Batalhão de Ações Especiais de Polícia), de Barueri (Grande SP). A Polícia Civil identificou que o Prisma pertence à mãe de Rafael.

Wagner foi atingido no rosto e no ombro e foi levado ao Sameb (Serviço de Assistência Médica de Barueri) por colegas do 5º Baep após um ex-policial militar dono de uma lanchonete chamada “Che Guevara”, em Carapicuíba, ter ligado para o batalhão informado que o cabo estava “zuado”. Os policiais Leandro Amorim Dibe e Antonio Wagner Pinto Malta de Sá foram à paisana, devido à “emergência”, segundo o depoimento, e socorreram Wagner.

De acordo com a dupla, o cabo estava sem arma e “evidentemente abalado”, “falava frases desencontradas e também com muita dificuldade na pronúncia”. A Polícia Civil encontrou com Wagner uma blusa vermelha semelhante à usada por um dos atiradores que aparecem nas imagens.

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No 1° Distrito Policial de Carapicuíba, o delegado Leandro Alberto Ferreira indiciou em flagrante os três policiais militares por tentativa dupla de homicídio qualificado e organização criminosa, com o agravante de serem funcionários públicos. Também solicitou perícia, a apreensão das armas, inclusive de Jorge, exames de corpo de delito e residuográfico além de escolta policial onde os suspeitos estavam hospitalizados para depois serem encaminhados ao Presídio Militar Romão Gomes.

Em audiência de custódia, nesta sexta-feira (14/5), o trio não participou presencialmente. O Ministério Público se manifestou pela conversão da prisão em flagrante em preventiva por entender que se tratou de um crime “gravíssimo” com um agravante de ter envolvimento de policiais. “Importa ressaltar que os indiciados são policiais militares, estavam à paisana e encapuzados quando da prática dos crimes, em atividade típica de grupo de extermínio”, escreveu a promotora Daniela Domingues Hristov.

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A juíza Marcia de Mello Alcoforado Herrero seguiu o entendimento do MP. “Entendo que há prova de materialidade e indícios de autoria, por estarem os autuados inexplicavelmente alvejados, e ter sido empregado veículo condizente com o da mãe de um dos autuados e blusa condizente com a de outro autuado”.

O que diz a polícia

A Ponte não localizou as defesas dos policiais presos.

Por meio de nota, a SSP (Secretaria da Segurança Pública) de Sâo Paulo informa que “a Polícia Militar esclarece que um dos policiais preso, integrante do 5º Batalhão de Ações Especiais de Polícia (Baep), teve alta e foi encaminhado ao Presídio Militar Romão Gomes. Os outros dois permanecem internados sob escolta policial. O caso foi registrado pelo 1º DP de Carapicuíba, que apura todas as circunstâncias relacionadas aos fatos. As diligências prosseguem, com acompanhamento da Corregedoria da instituição, para identificar outros possíveis envolvidos”.

Procuramos a assessoria de imprensa da PM e aguardamos posicionamento.

Reportagem alterada em 15/5/2021, às 17h10, para incluir posicionamento da SSP-SP

Correções

Reportagem alterada em 15/5/2021, às 17h10, para incluir posicionamento da SSP-SP

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