Justiça absolve PM acusado de participar da chacina de 8 de agosto de 2015 em Carapicuíba

    Justiça entendeu que era “humanamente impossível” Victor Cristílder Silva dos Santos, conhecido como Boy, trabalhar na PM, fazer bico de escolta e ainda integrar milícia

    Bar na periferia de Osasco onde 8 foram mortos em atentados a tiros | Reprodução
    Bar na periferia de Osasco onde 8 foram mortos em atentados a tiros | Reprodução

    O cabo da Polícia Militar Victor Cristílder Silva dos Santos, integrante da Força Tática do 20º Batalhão da PM, em Barueri, e conhecido como Boy, preso pela morte de Michael do Amaral Ribeiro, durante uma série de ataques na madrugada de 8 de agosto de 2015, em Carapicuíba, na Grande São Paulo, foi absolvido pela Justiça de São Paulo nesta terça-feira (13/12).

    De acordo com denúncia do Ministério Público, o PM prestava serviços de segurança a um comércio local e acabou formando uma milícia para vingar delitos praticados contra policiais militares. Também naquele dia 8, foram registradas execuções em Barueri e Osasco.

    O grupo, de acordo com o MP, teria se revoltado com o assassinato do cabo da PM Admilson Pereira de Oliveira em um posto de gasolina, em Osasco, no fim da manhã do dia 7 de agosto. Por isso, programou uma chacina para o dia seguinte, visando aqueles que entendia serem os responsáveis pelo crime.

    De acordo com decisão da 1ª Vara Criminal da Comarca de Carapicuíba, além da atividade de cabo da PM, ele fazia bico de escolta armada, de segunda a segunda, trabalhando dia sim, dia não, de acordo com a escala da Polícia Militar.

    “Disso, entendo como humanamente impossível o acusado exercer essas duas atividades, além de constituir, organizar e integrar uma organização paramilitar – simplesmente não daria tempo para o exercício dessas três atividades”, determina a sentença.

    “Afasto a acusação de que o acusado integra organização paramilitar, milícia privada com a finalidade de cometer crimes, em especial o homicídio, tal como narra a denúncia”, complementa.

    A Justiça também põe em xeque o depoimento da testemunha de acusação. “A testemunha afirma que os disparos ocorreram por volta das 2h05 daquele dia. Nesse horário, o PM afirmava que estava na Base da Força Tática do 20º BPM, em Osasco. “A alegação do réu é confirmada pelos depoimentos das testemunhas [de defesa]”.

    Assim, a acusação de homicídio simples contra Victor Cristílder Silva dos Santos foi julgado como improcedente em referência à chacina do dia 8. No entanto, não foi expedido alvará de soltura. O policial segue preso por causa do processo da chacina de Osasco, ocorrida dia 13 de agosto de 2015.

    O reconhecimento do PM “boy”

    Michael Ribeiro foi executado a tiros durante a matança que ocorreu na Grande São Paulo em agosto do ano passado. A investigação apontou que o crime, praticado na rua Alvorada, teve a participação de Victor Cristilder, conhecido como “boy” e outras pessoas ainda não identificadas. O policial praticou a execução, efetuando disparos contra a vítima, e ainda ocultou o cadáver, que foi arremessado em um córrego, de acordo com a denuncia apresentada pelo MP.

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    Conhecida como “Testemunha 795” na apuração sobre as mortes Osasco, Barueri, Itapevi e Carapicuíba, ocorridas entre 8 e 13 de agosto, após a morte de um PM e de um GCM (guarda civil metropolitano) na região, uma pessoa cuja identidade é preservada por medo de represálias, identificou o policial militar Cristilder como responsável pelo assassinato de Michael do Amaral Ribeiro.

    Por volta das 2h56 de 8 de agosto, “795” e Ribeiro estavam na rua Alvorada, em Carapicuíba, saindo de um bar, quando dois homens desceram de um Honda Civic que estava estacionado havia cerca de uma hora na mesma rua.

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    Enquanto caminhavam, já perto de uma ponte, “795” e Ribeiro foram abordados pelos dois homens do Civic, que estavam armados. Ao olhar para um deles, “795” o reconheceu como um morador de Carapicuíba conhecido como “boy”. Assim que os dois homens foram na direção de Ribeiro, “795” pensou que eles iam conversar com ele.

    Menos de dez segundos após a abordagem de Oliveira e sem dizer nada, um dos homens, aquele conhecido como “boy”, começou a atirar contra Oliveira. Foi nesse momento que “795” correu e conseguiu escapar.

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    Quando estava distante cerca de 250 metros de onde Oliveira havia sido baleado, “795” encontrou outro amigo de infância e pediu uma carona até sua casa. Passados cinco minutos, os dois voltaram a pé ao local onde Oliveira havia sido baleado, mas o corpo do amigo de “795” não estava na rua. A vítima dos tiros só foi encontrada dentro de um córrego, de onde foi retirada por “795” e outro amigo.

    A testemunha “795” foi à casa de Oliveira e avisou a mãe dele sobre o crime contra o filho. A Polícia Militar foi chamada por ela, mas “795” não falou para ninguém que havia reconhecido “boy” como um dos dois assassinos do amigo.

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    Naquela madrugada de 8 de agosto, “795” foi levado para a delegacia por dois PMs que estavam em um carro Palio Weekend da corporação. No trajeto do local do crime até o distrito policial, revelou “795”, os dois PMs o ameaçaram diversas vezes.

    “Você não viu nada, você não sabe de nada! Se abrir a boca, vou ferrar com você e com a sua família!” – foi o que “795” relatou como dito pelo PM que estava no banco do passageiro do carro. O PM, ainda segundo “795”, disse que ia colocar drogas onde ela mora para “ferrar com todo mundo”.

    Enquanto era ameaçado pelo PM passageiro, o PM motorista dava risadas. Esses dois PMs também já eram conhecidos de “795”, pois fazem trabalhos como segurança particular em um açougue e em um supermercado de Carapicuíba. Os dois comércios têm seus esquemas de segurança controlados pelo Victor Cristilder Silva dos Santos, o PM conhecido como “boy”.

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    Somente depois de vários dias da morte do amigo, “795” resolveu contar o que sabia à Polícia Civil. Segundo a testemunha, o PM “boy” estava tentando intimidá-la e, toda vez que o via pelas ruas de Carapicuíba, encostava seu carro, um Sandero prata, perto dela e baixava o vidro para ficar a encarando. Um Sandero prata também foi usado nos ataques ocorridos em Barueri.

    A testemunha “795” também afirmou à Polícia Civil que “boy”, o PM, comanda um esquema de segurança particular e fornecendo os serviços de PMs e GCMs para os comércios de Carapicuíba. Somente em um mercado, “boy” montou uma força privada de vigilância que conta com cinco PMs – três para o dia e dois para o turno da noite. Para “795”, “boy” é comandante de uma milícia que age em parte de Carapicuíba.

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    Um dos PMs com quem “boy” tem ligações, segundo a investigação, é conhecido como De Paula. O pai desse PM é dono da casa onde “boy” mora.

    Acordo entre o PM “boy” e chefe do PCC

    Um dos pontos revelados por “795” sobre a morte de Oliveira investigados pela Polícia Civil diz respeito a um encontro entre “boy”, o PM, e um homem conhecido em Carapicuíba como Irmão China, investigado sob a suspeita de integrar e chefiar a facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) em parte da região oeste da Grande São Paulo.

    A testemunha revelou aos investigadores que, em 19 de setembro, “boy” e China se encontraram para firmar um acordo: ninguém deveria abrir a boca sobre a morte de Oliveira, o amigo de “795”. Caso alguém falasse, essa pessoa seria morta.

    Um dia após a reunião entre o PM e China, “795” foi procurado por China para uma conversa, mas ele se recusou a ir ao encontro. A testemunha fez o reconhecimento fotográfico de China e sua identidade foi revelada como Adalberto Elias de Sousa.

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    Outro PM apontado como do ciclo de relacionamentos de Boy é investigado como dono de uma pizzaria em Carapicuíba. O irmão desse PM, também ex-dono de uma agência de carros na cidade, é conhecido como Júnior ou Panda e, segundo “795”, envolvido com um esquema de roubo de cargas e de explosões de caixas eletrônicos.

    Em seu depoimento à Polícia Civil, “795” também contou aos investigadores Oliveira, o amigo de “795” morto em agosto, havia recebido um convite do PM “boy”: os dois amigos receberiam R$ 500 para descarregar um carga roubada. A testemunha “795” afirmou ter recusado a oferta, mas não sabe dizer se Oliveira fez ou não o trabalho.

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