Policiais de SP usaram armas da corporação em tiroteio com policiais de MG

    Em depoimento à Justiça, um dos delegados revelou que deveria estar em plantão no dia em que viajou para fazer escolta vip em Juiz de Fora, local da troca de tiros; dois morreram

    Policiais civis de SP são ouvidos pela Justiça de MG sobre tiroteio com policiais civis mineiros | Foto: Reprodução/TJMG

    Policiais civis de São Paulo envolvidos em tiroteio com policiais civis de Minas Gerais usaram armas da corporação paulista durante escolta vip para o empresário Flávio de Souza Guimarães, 30 anos. Um deles não estava de folga, pois era dia de seu plantão.

    O episódio, ocorrido no último dia 19, terminou em tiroteio e culminou com as mortes do investigador de Minas Gerais, Rodrigo Francisco, 39 anos, e do empresário Jerônimo Leal da Silva Júnior, 42 anos, dono de empresa de segurança e responsável por recrutar os policiais paulistas para fazer a escolta.

    A revelação de que os policiais paulistas usaram armas da corporação para fazer o bico, o serviço particular, foi feita pelo investigador Caio Augusto Freitas Ferreira de Lira (canto superior direito da foto), 36 anos, em depoimento à Justiça de Minas Gerais.

    Lira, o investigador Jorge Alexandre Barbosa de Miranda (canto inferior esquerdo da imagem), 50 anos, e os delegados Bruno Martins Magalhães Alves (canto superior esquerdo), 30 anos, e Rodrigo Castro Salgado da Costa (canto inferior direito), 31 anos, todos da Polícia Civil de São Paulo, estão presos.

    Os quatro foram ouvidos em audiência judicial. Eles estão recolhidos na Penitenciária Nélson Hungria, em Contagem, região metropolitana de Belo Horizonte. Ao ser interrogado por um juiz, o delegado Bruno Alves admitiu que na sexta-feira, 19 de outubro, quando viajou para Juiz de Fora, era dia de seu plantão.

    Nos depoimentos prestados à Justiça de Minas Gerais, os policiais paulistas disseram que foram contratados para fazer uma escolta vip e que não sabiam nem conheciam o empresário que os contratou.

    Eles foram autuados por lavagem de dinheiro, pois, segundo a Justiça de Minas Gerais, fizeram a escolta de Guimarães, que foi para Juiz de Fora com o objetivo de trocar ilicitamente dólares por reais com o doleiro Antônio Vilela, 66 anos.

    Assim como os quatro policiais paulistas, Vilela também está com prisão preventiva decretada. Durante o tiroteio, ele foi ferido no pé. Porém já teve alta hospitalar e foi removido para um presídio de Juiz de Fora. As suspeitas da Justiça de Minas Gerais são de que Guimarães pretendia trocar dólares por R$ 14 milhões com Antônio Vilela.

    O dinheiro, apreendido pela polícia, estava em seis malas e o tiroteio teve início depois que Jerônimo Júnior percebeu que as notas eram falsas e que Guimarães, o empresário que o contratou para cuidar da escolta vip, estaria sendo vítima de um golpe.

    Depois do tiroteio, Guimarães, o empresário Roberto Uyvare Júnior e um advogado voltaram para São Paulo no mesmo avião fretado que os levou para Juiz de Fora. Também estavam na aeronave, na ida para a cidade mineira, o delegado Rodrigo Costa e o empresário Jerônimo Júnior.

    Jerônimo foi baleado no abdome e ficou seis dias internado. Ele morreu ontem e era irmão, por parte de mãe, do investigador Jorge Miranda. Na lista de clientes da empresa dele figuram uma rede de grandes hotéis e até uma construtora envolvida em vários processos de corrupção na operação Lava-Lato.

    Outros cinco policiais de São Paulo também foram para Juiz de Fora, com os quatro colegas que acabaram presos, para fazer a escolta a Guimarães. Porém, como não estavam no local do tiroteio, foram liberados.

    Já o doleiro Antônio Vilela teria contratado quatro policiais civis de Minas Gerais para cuidar de sua segurança durante as negociações para a troca de dinheiro. Os três que escaparam ilesos na troca de tiros foram autuados por prevaricação, crime cometido por funcionário público que deixa de cumprir ato de ofício.

    O empresário Guimarães prestou depoimento à Corregedoria da Polícia Civil de São Paulo e negou que fosse trocar dólares por reais. Ele também afirmou que sua ida à Juiz de Fora não tem nenhuma relação com atividade político partidária. O empresário está proibido de deixar o país.

    Guimarães é da cidade de Oswaldo Cruz, no Oeste de São Paulo. Ele chegou a ficar preso durante três dias no ano passado, naquela cidade, por descumprir medidas protetivas em relação à guarda de seu filho menor, que está sob a responsabilidade de sua ex-mulher.

    A procuradora de Justiça Cássia Virgínia Teixeira Gontijo, do Gaeco (Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado), órgão do Ministério Público de Minas Gerais, acompanha as investigações do episódio de Juiz de Fora. Ela disse à Ponte que aguarda o resultado dos exames de balísticas das armas apreendidas com os policiais civis dos dois estados para saber quem matou o investigador mineiro Rodrigo Francisco e o empresário paulista Jerônimo Júnior.

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