Três pessoas foram mortas neste fim de semana após assassinato de policial da Rota na manhã de sábado; há 12 dias, cabo da mesma tropa foi executado em Santos e resposta foram três mortes no litoral paulista
Três pessoas foram mortas neste domingo (5/5) pouco mais de 36 horas depois da execução do cabo da Rota Fernando Flávio Flores na porta de sua casa, em Interlagos, na zona sul de São Paulo. Bruno Cosme Amorim Figueiredo, 26 anos, e Rodrigo Eduardo da Silva, 35, foram mortos em suposta troca de tiros com policiais da Rota, a tropa mais letal da PM paulista, na Avenida Raimundo Pereira de Magalhães, na zona norte de São Paulo, por volta das 19h30, e Thiago Gabriel de Souza, 24, foi baleado na Rua Carlos Fachinna, em Americanópolis, na zona sul, cerca de meia hora depois, e morreu nesta segunda-feira (6/5).
Bruno tinha passagem por furto e receptação, Rodrigo por roubo e tráfico, e Thiago por um roubo cometido em 2004. Isso poderia indicar um modus operandi da Rota ao procurar responder à morte de Cabo Fernando em caçar pessoas com antecedentes criminais e eliminá-las. Essa forma de agir já foi vista em outras situações em que há atuação de grupos de extermínio, como foi na Chacina de Osasco, a maior da história de São Paulo com comprovada atuação de policiais militares, quando atiradores perguntaram antecedentes antes de atirar nas vítimas. Os ataques de 2015 aconteceram depois da morte de um PM e de um GCM (Guarda Civil Metropolitano).
A Ponte apurou que Bruno e Rodrigo teriam envolvimento com o PCC (Primeiro Comando da Capital).
Com as três mortes deste fim de semana, já chega a seis o número de pessoas mortas após as execuções de dois policiais da Rota: Fernando Flavio Flores, neste sábado, e Daniel Gonçalves Correa, em Santos, litoral paulista, na quinta-feira retrasada (25/4). No dia seguinte ao assassinato do Cabo Gonçalves, a Rota aterrorizou moradores na Vila do Siri, periferia da Baixada Santista, onde matou três pessoas. A Ponte questionou a SSP-SP (Secretaria da Segurança Pública de São Paulo) sobre a possível ligação entre as mortes, mas, na nota enviada pela In Press, a pergunta não foi respondida.
A viúva de Fernando Flores, Alecssandra, fez uma postagem emocionada neste domingo de uma foto ao lado do marido com a legenda: “O combinado era envelhecermos juntos, mas tiraram você de mim. Sei que vou ser forte pelos nossos filhos, mas vai doer para o resto da minha vida. Te amo”.
As duas mortes dos agentes geraram reação nas redes sociais no sentido de pedir vingança. As manifestações mais diretas aconteceram após a segunda morte, no sábado (4/5). Em sua página no Facebook, o senador Major Olímpio (PSL), horas após a morte de Cabo Flores, gravou um vídeo pedindo vingança: “sentem o dedo nesses malditos”. Nesta segunda-feira, compartilhou a notícia do portal G1 sobre as mortes dos suspeitos e escreveu: “Atirou na polícia, a resposta não seria diferente”. Na fanpage “Admiradores da Rota”, uma postagem minutos depois das três mortes de suspeitos nas zonas norte e sul da capital paulista dizia: “E começou a resposta”.
O deputado estadual e ex-comandante da Rota, Coronel Telhada (PP), havia se manifestado sobre a morte do cabo da Rota ainda no sábado com a frase “não ficará assim”.
O governador João Doria (PSDB), que em mais de uma oportunidade defendeu a violência policial e homenageou os policiais de Guararema, disse em coletiva nesta segunda-feira: “Quando há alguma outra circunstância, inclusive de morte de bandido, as entidades que defendem os direitos humanos, ou várias delas, se manifestam. Eu não vi nenhuma manifestação de nenhuma entidade que defende direitos humanos da crueldade como foram assassinados”, disse.
Guararema: o começo de tudo
As duas mortes de policiais da Rota estão ligadas com a ação policial capitaneada pela tropa em Guararema, interior de São Paulo, que deixou 11 mortos, no início de abril, segundo um promotor que investiga o PCC. Ele explicou que os dois PMs mortos foram seguidos e tiveram suas rotinas observadas.
Na sexta-feira (3/5), o Ministério Público Estadual de São Paulo, através do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), em parceria com a PM, desbaratou uma célula da facção especializada justamente nisso: realizar levantamentos de dados de desafetos para possíveis ataques. Promotores e policiais militares são apontados como alvos desse grupo.
Poucas horas após o crime contra Cabo Flores, uma testemunha, também policial da Rota, afirmou, segundo boletim de ocorrência, que a vítima teria sido ameaçada cerca de 6 meses antes por um indivíduo conhecido como “Ze Bedeu”. O apelido é de Fábio da Silva, integrante do PCC, preso desde 2012 e que, em junho do ano passado, foi para o RDD (Regime Disciplinar Diferenciado) por mal comportamento dentro do sistema e por incitar motins.
Se a estimativa de data da suposta ameaça estiver correta, Ze Bedeu não teria condições de ameaçar Cabo Flores estando em um regime de total restrição e vigilância, muito menos de encomendar sua morte.
A SSP-SP informou em nota que o assassinato do Cabo Flores está sendo apurado pelo DHPP (Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa) e que “diligências estão sendo realizadas para identificar e prender os envolvidos no crime”.
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