Órgão apura denúncia de que dois soldados da ativa e um PM aposentado estariam ameaçando famílias da Ocupação Pinharal, no Jardim Copacabana, extremo sul de São Paulo, após reintegração de posse parcial no terreno em abril
A Corregedoria da Polícia Militar do Estado de São Paulo está investigando dois soldados da ativa e um PM da reserva sob acusação deles terem ameaçado famílias que integram a Ocupação Pinharal, localizada no Jardim Copacabana, no extremo sul da cidade de São Paulo.
A denúncia tem como base reportagem da Ponte que, no início de junho, publicou relatos de moradores que afirmavam que Milton Vieira da Silva, PM aposentado desde 2015 e advogado, atuaria com “mais dois homens” para ampliar os limites do terreno que foi desocupado em abril. Eles teriam atuado a serviço do proprietário, atingindo área que não estava registrada em decisão judicial.
De acordo com os moradores, os dois homens apareciam junto com Milton, à paisana, ameaçando destruir casas e expulsá-los. “Tem dois seguranças, um é policial militar reformado que toma conta do terreno do seu Basile [Pedro Basile, de 87 anos, dono da área], que a gente só conhece por Vieira, que também se apresenta como advogado. Ele começou a medir, falando que era melhor sair porque se não iam quebrar tudo, e todo o dia ele manda outros caras esticarem a cerca. Eles apontam o dedo, vem o carro de uma empresa e faz a cerca”, contou na época um morador que pediu para não ser identificado com medo de represálias. Um dia após a publicação da matéria (2/6), eles informaram à reportagem que a Corregedoria da PM foi até a ocupação ouvir as famílias.
Inicialmente, os moradores disseram que não sabiam que a dupla era de policiais militares e que os conheciam apenas como “Andrade” e “Antônio Carlos”, mas depois suspeitaram que fossem PMs por eles andarem armados. A reportagem identificou que se trata dos soldados Israel Antônio de Andrade e Antônio Marcos dos Santos Silva. A denúncia foi formalizada na corregedoria da PM na segunda-feira (24/6), quando moradores foram chamados para serem ouvidos.
Segundo o Major Rodrigo Fernandes Cabral, porta-voz da PM, a partir da publicação da Ponte, os policiais passaram a ser investigados e, nesta semana, foram ouvidos, mas negaram as acusações – inclusive Milton, que é da reserva. “A Corregedoria está apurando a conduta dos três. O policial da reserva, mesmo aposentado, não deixa de responder à corporação e está submetido ao Código Penal Militar assim como os da ativa. A diferença é que, além das punições, se for comprovada a acusação, o PM da reserva também pode sofrer descontos de dias de salário, mas vai depender do caso”, explica.
Milton Vieira também foi denunciado à Polícia Civil por ameaça por um dos moradores em B.O. (Boletim de Ocorrência) registrado no 100º DP (Distrito Policial), localizado no Jardim Herculano. No processo de reintegração de posse, ele aparece como “tomador de conta” do terreno do aposentado Pedro Basile.
A ocupação está localizada em quatro terrenos, cada um tem um proprietário diferente: as empresas Mimax Com. e Construções Ltda., Faix e Rádio Mulher Ltda, José Nilson Correia de Lima e Pedro Basile. Em abril, a propriedade pertencente a Pedro Basile foi reintegrada e 100 famílias ficaram sem casa. Para elas, a ação não teria respeitado as delimitações do terreno e teria ampliado a área que foi desocupada. Segundo os moradores, há ainda 250 famílias no local e a Defensoria Pública solicitou perícia para apurar as delimitações das propriedades.
Outro lado
A Ponte tentou localizar contatos de Milton Vieira por meio do Cadastro Nacional de Advogados da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), mas não havia telefones ou endereços disponíveis. Também tentamos falar com o advogado do aposentado Pedro Basile, Valdeci Codignoto, que não retornou os contatos até a publicação desta matéria. A reportagem não localizou as defesas dos policiais Israel e Antônio Marcos.
Na época da denúncia da Ponte, no começo do mês, a InPress, assessoria de imprensa terceirizada da SSP (Secretaria de Segurança Pública), havia dito que não respondia pelos policiais aposentados, apenas os da ativa. Procuramos novamente a pasta a respeito das investigações tanto na Polícia Civil como na Corregedoria da PM. Até o momento, a SSP não respondeu sobre a denúncia dos moradores no 100º DP.