PMs presos por chacina são suspeitos de integrar milícia

    Segundo Ministério Público, três policiais escoltavam traficantes e executaram integrantes de grupo rival ao PCC em julho de 2018

    Um dos locais da chacina ocorrida em julho de 2018 | Foto: Reprodução/Google Street View

    O TJ (Tribunal de Justiça) de São Paulo decretou prisão temporária e busca e apreensão para três policiais militares suspeitos de integrarem uma milícia que fazia proteção de traficantes concorrentes ao PCC, conhecida como Anjos da Noite, na periferia de São Paulo. As prisões, ocorridas nesta quarta-feira (2/10), decorrem de investigação de chacina que deixou quatro mortos no ano passado, na Vila Brasilândia, zona norte da capital paulista.

    Quatro pessoas foram assassinadas a tiros em dois ataques no dia 20 de julho de 2018, ações ocorridas em uma distância de aproximadamente 2 quilômetros. Os três PMs são suspeitos de participarem do primeiro ataque. Testemunhas relatam na apuração que o motivo seria a compra de drogas com traficantes que integram um grupo concorrente ao PCC (Primeiro Comando da Capital).

    De acordo com o MP (Ministério Público), o trio é suspeito de “pertencer a um grupo de extermínio conhecido como ‘Anjos da Noite’, que teria ligações espúrias com o tráfico de entorpecentes”, conforme aponta a promotora Cláudia Ferreira Mac Dowell. A função dos PMs era a de praticarem “homicídios nas imediações de ‘lojinhas’ de drogas de quem não integrasse o PCC”. “Dentre esses homicídios estaria o quadruplo atentado e outra chacina”, argumenta a promotora.

    O corregedor da PM paulista, Marcelino Fernandes, explica que existe a suspeita de que os policiais sejam milicianos. “Alguns moradores falam que esses jovens (vítimas) seriam usuários de entorpecentes e que compravam de fornecedores que não era de uma organização criminosa famosa, e talvez estariam utilizando essa milícia, que tem o nome Anjos da Noite, para fazer esses homicídios”, explicou Fernandes, responsável pela investigação.

    O cabo Antônio Carlos Miranda da Conceição, o terceiro sargento Fábio Donizete Paula da Silva e o soldado Renato Coutinho Campos, todos do 5º BPM (Batalhão de Polícia Militar Metropolitano), tiveram prisão decretada no dia 13 de setembro para cumprir prazo de 30 dias em regime fechado. A Justiça ainda decretou busca e apreensão para um quarto PM, o soldado Jonatan Lopes de Araújo. Eles também serão investigados pelo segundo ataque da noite, sobre o qual não há conclusões até o momento.

    As mortes da chacina aconteceram em dois momentos. Primeiro, atiradores efetuaram disparos de dentro de um carro na avenida Humberto Gomes Maia, na Vila Itaberaba. Duas pessoas morreram e outras duas ficaram feridas. Pouco depois, na rua Matilde Munhoz, no Jardim Maristela, outras duas pessoas morreram em outro ataque a tiros.

    Na época, os ataques foram registrados no no 72º DP (Vila Penteado) e se somaram a outras duas chacinas ocorridas na região. No dia 7 de janeiro de 2018, quatro pessoas foram assassinadas e outras duas ficaram feridas em chacina na Vila Miriam, bairro entre Pirituba e Brasilândia. As vítimas tinham entre 16 e 18 anos.

    Corregedor da PM, coronel Marcelino Fernandes, investiga participação dos policiais em milícia | Foto: Mariana Ferrari/Ponte Jornalismo

    O segundo ataque vitimou três jovens no Jardim Maracaná, na Brasilândia, em 10 de fevereiro do mesmo ano. Os amigos Deivid Vinicius Barros, Luiz Gustavo de Oliveira, ambos de 20 anos, e Leonardo Guilherme Garcia Svessia, 19 anos, foram atingidos por pelo menos dez disparos de pistola calibre 380 por três homens encapuzados que estavam em um Fiat Siena.

    De acordo com o coronel Fernandes, a investigação começou depois que a ex-namorada de um dos PMs denunciou as mortes na Corregedoria da corporação. Ela contou que, na época do namoro, o companheiro contava sobre pessoas que matou na mesma região em que ocorrera a chacina. Os PMs presos são acusados de homicídio qualificado e o DHPP (Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa) cuida das investigações.

    A reportagem entrou em contato com a SSP (Secretaria da Segurança Pública) de São Paulo, liderada pelo general João Camilo Pires de Campos na gestão de João Doria (PSDB), e a PM, comandada pelo coronel Marcelo Vieira Salles, sobre as prisões e as investigações. Questionamos também se o prazo das prisões será estendido. Não houve resposta até a publicação desta reportagem.

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