Pela primeira vez, a data mais sagrada da população carcerária não terá comemoração; mães lamentam não passar o Dia das Mães com os filhos
Pela primeira vez na história do sistema prisional brasileiro, o Dia das Mães, a data mais sagrada para a população carcerária, não poderá ser comemorado atrás das grades.
Por causa da pandemia de coronavírus, as visitas continuam suspensas em todo o território nacional. A ordem partiu do Ministério da Justiça e Segurança Pública, de governos estaduais e de decisões judiciais, em março deste ano, para evitar a propagação de Covid-19 nas prisões.
Neste domingo (10/5), mães não poderão abraçar filhos e filhas. O preso não vai poder beijar a mãe. As mulheres presas também ficarão sem receber as visitas dos filhos. As presidiárias, dessa vez, permanecerão distante das mães. Não haverá danças, cânticos nem entregas de bolos. Só lágrimas e saudades na solidão dividida entre celas e muralhas.
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A saidinha temporária do Dia das Mães, uma das mais esperadas pela massa prisional, quando milhares de detentos com bom comportamento são autorizados pela justiça a ir para casa, também foi suspensa.
Em São Paulo, na última vez que a saída do Dia das Mães foi suspensa, foi em maio de 2006, quando o crime organizado parou o Estado com ataques às forças de segurança e rebeliões simultâneas em 74 presídios.
Na ocasião, pelo menos 48 agentes entre policiais militares e civis e servidores penitenciários foram mortos. Em seguida, PMs mataram dez vezes mais pessoas, no chamado “Crimes de Maio”.
Nice (prefere não revelar o nome completo) se recorda bem desse episódio. Ela é uma das milhares de mães com o coração apertado por não poder reencontrar o filho no segundo domingo de maio deste ano.
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Há 25 anos, Nice visita o filho e nunca faltou em uma no Dia das Mães. Ele agora cumpre pena em um presídio federal, distante de São Paulo, e ela está desde 15 de março deste ano sem notícias dele.
“É muito triste para uma mãe não poder ver o filho numa data tão importante, tão especial como essa. É a primeira vez que isso acontece. Só peço a Deus que me dê forças para um dia reencontrar meu filho livre. Aí Deus pode me levar. E eu irei em paz”, acrescenta Nice, aos prantos.
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Eliana é outra mãe desesperada. O filho dela cumpre pena na Penitenciária 1 de Mirandópolis, no interior de São Paulo. A aflição materna aumentou no último dia 22, quando soube que um preso de 54 anos havia morrido de Covid naquela unidade.
“A gente fica sem notícias do filho. Não sabe se ele está bem, se precisa de algo, de um remédio. É horrível ficar sem poder visitar. É uma tortura dobrada tanto para o preso quanto para os parentes”, desabafa.
Lúcia mandou ao menos cinco cartas para o filho condenado a 12 anos por roubo. Ele está preso em Martinópolis, no interior paulista. “Eu nem sei se ele recebeu minhas correspondências. Até hoje não tive resposta. A falta de notícias é uma angústia. E não poder visitar no Dia das Mães é terrível”, reclama.
Sílvia Aparecida Sanches tem certeza de que a vontade de Iago, preso no CDP (Centro de Detenção Provisória) de Praia Grande, no litoral paulista, era abraçar e beijar a mãe dele. “Eu espero estarmos juntos no ano que vem no Dia das Mães”, afirma ela.
O filho de Denise também está no CDP de Praia Grande. Ela lamenta não poder estar com ele neste domingo: “Eu gostaria que ele soubesse que eu o amo mais a cada dia. Meu coração vai estar pertinho dele nesse dia Das Mães”.
Para amenizar a tristeza de muitas mães e parentes de detentos, uma emissora de rádio evangélica levou ao ar, na noite de sexta-feira (8/5), o programa “Momento do Presidiário”.
Foi uma transmissão ao vivo, que teve início às 21h. Mães e mulheres puderam transmitir uma palavra de carinho e de consolo para o filho ou marido atrás das grades.
O anúncio do programa foi postado na página “Amor Atrás das Grades”, no Facebook. As mensagens das mães e parentes de presos divulgadas na programação também foram compartilhadas na mesma página.
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Uma das mensagens é de Elenida. Ela mandou um recado emocionado para o filho Anderson, preso no CDP 2 (Centro de Detenção Provisória) de Pacaembu, também no interior paulista.
“Meu filho amado. Quero te dizer que aqui estamos todos bem e que a saudade é grande. Aguenta firme. Estou orando muito por você. Essa tempestade vai passar em nome do Senhor Jesus Cristo”, dizia a mensagem.
Alexandra também aproveitou o “Momento do Presidiário” para dar sua bênção ao filho Júnior, recolhido em Álvaro de Carvalho: “Estamos todos bem aqui em Pirajuí e com muitas saudades. Te amamos”.
Roberta deu o seu recado para a filha Thaís, presa no CPP (Centro de Progressão Penitenciária) do Butantã, zona oeste da capital paulista: “Espero que esteja bem. Tenha fé. Logo a liberdade vai chegar”.
Jeniffer deixou um abraço apertado para o marido custodiado na Penitenciária 2 de Mirandópolis: “Cada dia que passa a saudade machuca mais. Mas a esperança nunca morre. Se cuida”.
E esperança é o que não falta para a senhora Montanhini, cujo marido Christian encontra-se preso no raio 3 da Penitenciária 1 de Hortolândia. “Amor, estou bem graças a Deus. Estamos com muita saudade. Hoje fiz uma biópsia. Mantenha-se firme, pois estamos à sua espera. Te amo”.