Irmã de Gabriel Pacheco Ferreira, preso pelo assassinato de Pamela Cruz Ville, afirma que ele é inocente; Justiça de SP determinou prisão preventiva do jovem
“Dói muito falar que foi minha mãe, mas foi ela, não foi o Gabriel”. A declaração dada aos prantos é de uma das irmãs de Gabriel Pacheco Ferreira, 21 anos, que pediu para não ser identificada. Ela argumentou que o irmão é inocente do assassinato de Pamela Cruz Villle, 27 anos, morta na noite de 21 de novembro de 2019, no Morro Doce, zona norte da cidade de SP.
Gabriel foi preso no dia 6 de maio, suspeito de esfaquear Pamela após uma briga motivada por uma suposta “brincadeira” em que a adolescente de 17 anos, uma das irmãs de Gabriel, foi atingida no olho por um brinquedo. Desde o dia 19 de junho, ele está detido no CDP (Centro de Detenção Provisória) Belém I, na zona leste da cidade.
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À Ponte, uma das irmãs mais velhas de Gabriel detalhou como tudo aconteceu naquela noite. “Tinha quatro dias que eu tinha arrumado meu primeiro emprego. Eu estava chegando do trabalho cansada, desci no ponto de ônibus na Praça dos Canudos, onde todo mundo desce, e vi que umas mulheres estavam fazendo uma brincadeira de assustar as pessoas na rua. Mas elas não falaram nada para mim”, relata.
Um pouco mais tarde, continua a jovem, a irmã de 17 anos chegou em sua casa gritando, desesperada. Foi quando a jovem acordou e foi correndo ver o que estava acontecendo. “Ela estava toda machucada e eu perguntando o que tinha acontecido. Era mais ou menos 00h20. Ela me disse ‘a mãe acabou de fazer uma besteira, a mãe acabou de esfaquear uma menina’. Pedi para ela me contar a história direito e a minha mãe me ligou”.
“Perguntei o que estava acontecendo, falei que estava indo buscar o Gabriel e minha mãe mandou eu voltar para casa. Levei minha irmã pra casa e ela me explicou tudo o que aconteceu. Ela tava chorando, meus dois irmãos mais novos em estado de choque e eu sozinha com os três”, explicou.
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“Minha irmã teve um dia bem complicado nessa data. Ela tinha ido no médico porque estava com muita dor na barriga e depois foi fazer um trabalho de escola na casa de umas amigas. Voltando desse trabalho, por volta das 23h e pouco, ela desceu da lotação e a Rosana acabou fazendo uma brincadeira de mau gosto com ela, que acertou o olho dela”, explica.
A jovem afirma que a irmã não foi para cima de Pamela e suas irmãs, como a família informou à Ponte e à Polícia Civil. “Como uma menina de 17 anos vai para cima de três mulheres? As três bateram nela, mas depois a Pamela tentou separar. Elas jogaram o material da minha irmã em uma ribanceira”.
Embora os autos do processo afirmem que duas testemunhas protegidas ouvidas, além dos familiares de Pamela, informaram à Polícia Civil que Gabriel esfaqueou Pamela e tentou matar outro parente da jovem, a irmã de Gabriel afirma que foi sua mãe que cometeu o crime.
“Como a sua filha chega em casa, espancada, e você fica calma? Minha irmã é muito estudiosa, é a irmã mais exemplar da família. Quando minha irmã falou que tinham jogado o material escolar dela fora, sendo que era fim de ano, época de prova, minha mãe falou para elas irem lá para buscar o material”, argumentou.
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Quando a família Pacheco chegou no local, foi recebida pela família de Pamela. “Minha mãe questionou quem bateu na minha irmã. A Rosana pulou da laje, que não é muita alta, em direção a minha mãe. Disse que foi ela e que bateria de novo. Começou então uma discussão”.
Segundo a irmã de Gabriel, Pamela teria se assumido, no lugar de Rosana, como a agressora. “Foi quando o Gabriel chegou e falou para falarem baixo com a nossa mãe, porque ela tinha batido na minha irmã e ela estava errada. Nisso a Rosana deu um tapa na cara dele, começou a puxar meu irmão pela blusa de frio. Eles caíram no chão. Minha mãe tava mais pra cima com a Pamela e a minha irmã. Foi quando a Pamela foi pra cima da minha mãe e minha mãe acabou fazendo o que fez”, detalha.
A irmã afirma que a família “em nenhum momento se orgulhou disso”. “Eu tentei entrar em contato com um irmão delas, que era amigo do meu ex-marido, mas eles não quiseram conversa”, afirma.
Ela argumenta que o irmão não estava fugindo, mas esperando, conforme orientação do então advogado, ser chamado para depor. Meses depois, quando a polícia apareceu para prender Gabriel, falaram para família que ele não seria preso. “Então falei para ele ir lá. Minha mãe contou que foi ela, que foi para se defender. Ela jamais passaria a mão na cabeça do meu irmão. Ela sempre nos ensinou que temos que pagar pelas coisas que fazemos”.
A mãe de Gabriel, segundo a jovem, está destruída com o que aconteceu. “Ela não consegue comer, dormir. Está perturbada porque o filho dela está na cadeia por uma coisa que ela fez. Ela quer pagar pelo que fez. Não sei o que é pior: sua mãe na cadeia ou seu irmão que tá preso por um bagulho que ele não fez. Ninguém queria que isso tivesse acontecido”.
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Para o Ministério Público, a versão dada pela família de Pamela é a versão que os fatos aconteceram. A irmã mais nova de Gabriel, dois tios maternos e um vizinho foram denunciadas pelo MP-SP por falso testemunho. Gabriel foi denunciado por homicídio e tentativa de homicídio qualificado.
Contra Claudia Pacheco Falcão, mãe de Gabriel, o MP denuncia o crime de auto-acusação falsa. Segundo o promotor, a investigação policial apontou “vasta prova” contra o jovem.
Segundo o MP, “quando Gabriel finalmente foi preso, isso meses depois, sua mãe resolveu montar uma versão falaciosa e mendaz, certamente com a intenção de tentar beneficiar seu filho, confundindo a administração da Justiça”.
Após a família de Pamela alegar que está sendo ameaçada, o promotor Rodrigo Merli Antunes pediu a conversão da prisão temporária em preventiva em 16 de junho de 2020. Um dia depois, o juiz Adilson Paukoski Simoni decretou o pedido de prisão preventiva. Até então, Gabriel estava detido na carceragem do 2º DP (Bom Retiro), na zona central da cidade.
O que diz a polícia
Procurada, a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo informou que “o caso foi investigado pelo 46º DP (Perus) e, após solicitação da autoridade policial, a Justiça decretou a prisão preventiva do autor”. Sobre as alegações da família Pacheco, a SSP disse que “a mãe dele foi ouvida e o inquérito policial relatado para apreciação do Poder Judiciário”.