Ação policial termina com 4 mortos em Guararema (SP)

    Para especialista, “uma ação que resulta em mortes não deve ser elogiada”; caso ocorre um ano após PM matar 11 na mesma cidade

    Base da Força Tática do 17º batalhão, na Grande São Paulo, que atuou na ação | Foto: Divulgação

    Policiais militares mataram quatro homens em uma ação na noite de domingo (5/4), em Guararema, localizada na região metropolitana de São Paulo, durante o roubo de uma chácara na área rural da cidade.

    Segundo informações oficiais da Secretaria da Segurança Pública, comandada pelo general João Camilo Pires de Campos nesta gestão do governador João Doria (PSDB), os suspeitos fizeram uma família refém por volta de 22h e roubaram R$ 2 mil.

    Uma das quatro vítimas conseguiu fugir dos homens, entrar no banheiro da chácara e ligar para a polícia. A versão oficial aponta que os quatro homens receberam os PMs do 17º Batalhão de Polícia Militar Metropolitano a tiros.

    Os PMs, então, revidaram e mataram todos os integrantes do grupo. Ainda de acordo com a secretaria, o grupo utilizou duas armas, de calibres .32 e .38, no crime.

    A ação policial aconteceu um ano após ocorrência envolvendo a Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar),a tropa mais letal da PM paulista, e o COE (Comandos e Operações Especiais) terminar com 11 mortos.

    À época, a PM recebeu informação do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) do Ministério Público Estadual de que um grupo tentaria roubar bancos na região e interceptou dois carros da quadrilha em Guararema. Os 11 homens morreram.

    Um relatório elaborado pela Ouvidoria da Polícia de São Paulo identificou que ao menos quatro dos mortos não reagiram à ação policial e, ainda assim, foram mortos. Um deles sequestrou uma família, como detalhou a Ponte em abril de 2019.

    Apesar da coincidência de data e de local, o tenente-coronel aposentado da PM paulista, Adilson Paes de Souza, mestre em Direitos Humanos e autor do livro “O Guardião da Cidade – Reflexões sobre Casos de Violência Praticados por Policiais Militares”, pondera que é cedo para fazer paralelo entre as duas ações policiais.

    “Não consigo ver similaridades com o que aconteceu o ano passado com os poucos dados da ocorrência. Agora, o local do crime e os mortos dizem”, afirma o especialista, antes de ressaltar a importância da perícia.

    Local das mortes fica em área rural próxima à Rodovia Carvalho Pinto | Foto: Reprodução/Google Street View

    “Um bom exame de local de crime e de corpo de delito pode ajudar a esclarecer a dinâmica dos fatos”, explica, citando a posição dos corpos, os ferimentos dos disparos recebidos e as lesões nos corpos como elementos que podem apontar uma ação legítima ou de uso excessivo da força.

    A mesma avaliação tem Rafael Alcadipani, professor da Fundação Getúlio Vargas e integrante do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. “Não dá para fazer relação ainda, a menos que surja alguma coisa. Fica a versão dos policiais. Óbvio que uma ação que resulta em tantas mortes não deve ser elogiada”, disse Alcadipani.

    Cauteloso em apontar semelhanças entre as mortes, o professor alerta para o risco de a letalidade policial crescer em meio à pandemia de coronavírus.

    “Com pandemia e decréscimo de dinheiro no crime cotidiano e da venda das drogas, a tendência é que esse tipo de ação criminosa aumente e que haja mais confrontos. Tanto legítimos, quanto ilegítimos”, justifica, cobrando ações do governo paulista.

    “É preciso que a secretaria e o comando [da PM] estejam atentos. Até hoje não se tem uma política pública de combate à letalidade policial em São Paulo”, critica.

    Em 2019, a polícia de São Paulo matou 845 pessoas, aumento de 11,5% em relação às 821 vítimas a longo do ano anterior. Neste intervalo, somente a Rota matou 101 civis em serviço, aumento de 98% quando comparado aos 51 homicídios em 2018.

    A Secretaria da Segurança Pública explicou à Ponte que o Setor de Homicídios da Delegacia Seccional de Mogi das Cruzes comandará a investigação das quatro mortes em Guararema.

    “O caso foi registrado pela Delegacia de Guararema como roubo à residência, resistência, porte ilegal de arma de fogo, morte decorrente de intervenção policial, legítima defesa e promover organização criminosa”, detalhou a pasta.

    Já que Tamo junto até aqui…

    Que tal entrar de vez para o time da Ponte? Você sabe que o nosso trabalho incomoda muita gente. Não por acaso, somos vítimas constantes de ataques, que já até colocaram o nosso site fora do ar. Justamente por isso nunca fez tanto sentido pedir ajuda para quem tá junto, pra quem defende a Ponte e a luta por justiça: você.

    Com o Tamo Junto, você ajuda a manter a Ponte de pé com uma contribuição mensal ou anual. Também passa a participar ativamente do dia a dia do jornal, com acesso aos bastidores da nossa redação e matérias como a que você acabou de ler. Acesse: ponte.colabore.com/tamojunto.

    Todo jornalismo tem um lado. Ajude quem está do seu.

    Ajude

    mais lidas