Como foi a ação da Rota que matou 11 em Guararema (SP), segundo a polícia

    Boletim de Ocorrência detalha que PMs mataram um dos suspeitos que fez família de refém após entregar o fuzil que carregava e apontar outra arma em direção aos policiais

    Veículo IX35 onde estavam sete dos suspeitos mortos | Foto: Reprodução

    A Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar), considerada tropa de elite da Polícia Militar do Estado de São Paulo, fez dois cercos para tentar capturar o grupo que tentou assaltar dois bancos em Guararema, cidade na Grande São Paulo. No fim, os PMs mataram 11 pessoas, na terceira ação com mais mortos na história da corporação. o.

    Segundo o B.O. (Boletim de Ocorrência) do caso registrado no Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais), os policiais agiram após explosões nas agências bancárias do Banco do Brasil e Santander e de serem ouvidos “diversos tiros” no centro da cidade – duas viaturas de patrulhamento local foram atingidas, ainda de acordo com o documento.

    A informação de que o ataque teria começado chegou através do rádio, mesmo a tropa tendo recebido anteriormente investigação feita pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), do MP (Ministério Público) de Sorocaba, em que alertava sobre os possíveis roubos em Guararema, Jacareí ou Santa Branca, duas cidade vizinhas ao local das mortes.

    Pelas investigações anteriores, o MP solicitou à PM que enviasse a Rota para tentar evitar o crime. Nenhum integrante do Gaeco participou da operação feita pela Rota com apoio do COE (Comandos e Operações Especiais), a tropa de elite do Batalhão de Choque. Os policiais da Rota mataram 9 suspeitos, enquanto os integrantes do COE, 2.

    Ao saber das explosões, a Rota dividiu suas duas equipes presentes no entorno de Guararema: a Rota Noturna se posicionou na entrada do município, enquanto a Rota Vespertina montou seu cerco no limite da cidade com Santa Branca. O principal confronto, segundo o B.O., aconteceu neste segundo ponto.

    Os policiais, comandados pelo tenente Bruno Figueira monteiro, se protegeram na mureta (chamada no documento de guard rail) da Estrada Hércules Campagnoli quando viram dois veículos chegando, um Subaru Legacy e uma IX35, ambos blindados – os suspeitos também usaram um Fiat Pálio, modelo 1999, e um Volkswagem Gol, ano 1995. O registro baseado na versão dos PMs explica que o primeiro carro fez uma manobra e fugiu, já os integrantes do IX 35, teriam entrado em confronto.

    “Os sete ocupantes do veículo IX35, em curta distância com os policiais, procederam intenso revide atirando contra as equipes por grande período de tempo, sendo certo que alguns criminosos chegaram a descer do carro atirando contra os policiais, sendo finalmente desarmados notando em seguida que haviam sido alvejados”, detalha o B.O., dizendo que os PMs solicitaram socorro aos suspeitos baleados vivos, mas eles morreram enquanto aguardavam o resgate.

    Os PMs sustentam que todos os sete ocupantes vestiam coletes à prova de balas. Na área em que detalha os itens recolhidos e apreendidos depois das perícias, o B.O. identifica seis coletes à provas de bala, oito pares de luva, duas balaclavas e oito celulares presos com os integrantes do grupo. Um dos homens possuía R$ 400 na carteira, único valor encontrado com o grupo. Houve o acionamento do Gate (Grupamento de Ações Táticas Especiais) pela presença de explosivos na IX 35.

    Policiais do COE encontraram os homens que estavam no Subaru, carro abandonado a 1 quilômetro do confronto envolvendo o IX 35. Os PMs da Rota Noturna os encontraram, mas após os pneus de nove viaturas serem furados por miguelitos, pedaços de metais jogados pelos suspeitos na Rodovia Nicola Capucci.

    O tenente Marcello Cunha, comandante da Rota Noturna, deixou seus subordinados em frente ao Banco do Brasil e entrou em outra caminhonete da Rota, quando localizou o Subaru em frente ao condomínio residencial Alpes de Guararema. Um suspeito estava dentro do carro e morreu, segundo o B.O., após tiroteio.

    Três homens estavam na mata, sendo dois deles mortos pelos PMs do COE após “troca de tiros em meio ao matagal que perdurou por uns quarenta minutos sem a visualização de suspeitos”, segundo detalha Cunha. Ele acionou o Águia, helicóptero da PM paulista, e o COE, que encontrou um deles e o matou em confronto, ainda de acordo com o boletim. O outro morto pelo COE foi próximo a Jacareí, também em mata na Estrada de Igaratá.

    Um terceiro homem que estava no Subaru invadiu uma chácara e fez uma família refém. “[Teve] Início a uma negociação, contudo após entregar um fuzil aos policiais, o autor empunhou outra arma de fogo que portava apontando-a contra a equipe, sendo alvejado por um único disparo, vindo a óbito”, descreve o registro da ocorrência.

    Um dos três presos estava na Estrada de Igaratá e acabou pego após troca de tiros, de acordo com os policiais. O outro estava próximo ao Pálio abandonado próximo a Jacareí e o terceiro em uma pilha de lenha de uma madeireira na Estrada Hércules Campagnoli.

    Morreram nesta ação Rogério Machado Coelho, Carlos Eduardo Leonel, José Cláudio Borges de Castro, Ezequiel dos Santos, Jean Santos Souza, Claudinei Carvalho Nunes e outros cinco homens não identificados. Das vítimas, sete são identificadas no B.O. como pardos (negros), enquanto quatro não possuem descrição de cor de pele.

    Os três presos, Everaldo Pinto de Melo, Sérgio dos Santos e Manoel Adriano da Silva foram indiciados por roubo, posse ilegal de arma de uso restrito, sequestro/cárcere privado, organização criminosa e por explosão (definido no documento como incolumidade pública). O delegado do caso converteu as prisões em flagrante em prisões preventivas, sem prazo limite definido.

    As investigações sobre a ação policial com 11 MDIP (Morte decorrente de intervenção policial) serão feitas pelo Deic e, por conta dos homicídios cometidos pelos PMs, o DHPP (Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa) também investiga os acontecimentos, como ocorre em todo caso de MDIP. A Ouvidoria das Polícias de São Paulo, através do ouvidor Benedito Mariano, aponta que fará relatório daqui um mês, aguardando exames e laudos técnicos para basear o seu parecer e apontar se houve, ou não, alguma ilegalidade cometida pelos PMs da Rota e do COE.

    A ação com 11 mortos acontece na mesma semana em que a PM paulista matou 14 pessoas em apenas três dias, conforme publicado pela Ponte. Desde o início do ano, a média de pessoas mortas pela PM é de duas por dia, conforme registros de janeiro e fevereiro. Os registros deste bimestre mantém as mortes ocorridas no período igual de 2018, enquanto março de 2019 tem 40% a mais homicídios cometidos por PMs quando comparado com março do ano passado (74 frente a 53, respectivamente).

    Questionada pela reportagem, a SSP (Secretaria da Segurança Pública) de São Paulo, liderada pelo general João Pires de Campos neste governo de João Doria (PSDB), explica que “defende a investigação rigorosa de todas as ocorrências e tem trabalhado para reduzir os casos de morte em decorrência de intervenção policial. No primeiro bimestre deste ano, houve queda de 1% desses casos no Estado, em comparação ao mesmo período do ano passado”.

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