Após 2 anos, Polícia Civil de SP não esclareceu crimes que marcaram racha no PCC

    Investigação de ao menos quatro mortes, três delas ocorridas em 2018, está na “estaca zero”; assassinatos de PMs no ano passado seguem sem solução

    Cabelo Duro foi executado a tiros na frente de hotel de luxo no Tatuapé, na zona leste de SP, após ter matado dois parceiros de crime do PCC no Ceará | Foto: reprodução

    O Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), considerado pela Polícia Civil como unidade de elite e apontado como uma dos melhores da corporação, não conseguiu esclarecer assassinatos de repercussão envolvendo integrantes do crime organizado em São Paulo.

    Segundo a assessoria de imprensa da SSP (Secretaria Estadual da Segurança Pública), as investigações do DHPP continuam na estaca zero em ao menos quatro crimes, três deles ocorridos há mais de dois anos.

    Um dos homicídios investigados pelo DHPP tem como vítima Eduardo Ferreira da Silva, morto a tiros em 10 de fevereiro de 2018 na rua Serra do Japi, Tatuapé, zona leste da capital paulista.

    Eduardo estava em um veículo Mercedes Benz quando foi executado com 26 tiros. O MPE (Ministério Publico Estadual) suspeita que a vítima tinha ligações com o PCC (Primeiro Comando da Capital), a maior facção criminosa do Brasil.

    O assassinato, que chocou os moradores do Tatuapé, teve grande repercussão porque a vítima ocupava um veículo de luxo e por causa da quantidade de tiros disparados.

    A execução de Eduardo completou dois anos e um mês nesta terça-feira (10/3). Em nota, a assessoria de imprensa da SSP-SP informa apenas que o inquérito policial foi relatado e encaminhado ao Fórum em junho de 2019, não retornando ao DHPP até o momento.

    Outros crimes não esclarecidos pelo DHPP também foram registrados no Tatuapé e, segundo o MPE (Ministério Público Estadual de SP), ocorreram em razão de uma das maiores brigas internas no PCC.

    Um deles envolve o assassinato de Wagner Ferreira da Silva, o Cabelo Duro, executado com tiros de fuzil na porta de um hotel de luxo na rua Eleonora Cintra, em 22 de fevereiro de 2018.

    Para o MPE, Cabelo Duro foi morto porque seis dias antes havia matado os parceiros de crime Rogério Jeremias de Simone, o Gegê do Mangue, e Fabiano Alves de Souza, o Paca, em Fortaleza, no Ceará.

    Gegê do Mangue e Paca foram assassinados em fevereiro de 2018 | Foto: reprodução

    Gegê do Mangue e Paca eram homens da cúpula do PCC e, de acordo com investigações do MPE, foram mortos porque desviaram dinheiro da facção criminosa na capital cearense.

    A Polícia Civil do Ceará foi muito mais rápida que o DHPP paulista e esclareceu as mortes dos ex-líderes do PCC naquele estado nas primeiras 24 horas após o duplo homicídio.

    No meio policial, há uma hipótese de que o DHPP atribui a autoria da morte de Cabelo Duro a outro integrante do PCC, identificado como Cláudio Roberto Ferreira, o Galo Cego. Oficialmente, no entanto, não há confirmação dessa informação.

    Ligado ao bando que roubou R$ 164 milhões do Banco Central de Fortaleza em agosto de 2005, Galo Cego foi morto a tiros em 23 de julho de 2018 na rua Coelho Lisboa, uma das mais importantes do Tatuapé.

    Galo Cego ocupava um luxuoso Audi. Atiradores se aproximaram dele e dispararam ao menos 70 tiros na vítima. Moradores do bairro ficaram estarrecidos com tamanha violência.

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    Esses quatro assassinatos marcaram o até então tranquilo Tatuapé. A nota da assessoria de imprensa da SSP-SP indica que os crimes não foram esclarecidos até agora.

    Em 7 de março de 2019, o ex-policial militar Gilson Terra morreu a tiros em uma emboscada na avenida Ragueb Chohfi, em São Mateus, também na zona leste da capital paulista.

    As circunstâncias desse assassinato também continuam um mistério. Policiais civis suspeitam que o ex-PM era um “soldado” do PCC e que poderia estar envolvido no assassinato de Galo Cego.

    O DHPP também não conseguiu esclarecer o assassinato de Fernando Flávio Flores, cabo da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar), unidade de elite e a tropa mais letal da Polícia Militar do Estado de São Paulo.

    O policial militar foi morto com tiros de fuzil às 6h30 do dia 4 de maio de 2019, em Interlagos, zona sul da capital paulista, menos de dois meses depois de Gilson Terra. Ele havia tirado o carro da garagem e pretendia seguir para o trabalho, no quartel, na Luz, no centro de SP.

    Imagens de câmeras de segurança filmaram a ação dos criminosos. O veículo usado pelos assassinos foi encontrado minutos depois em Parelheiros, também na zona sul. O cabo da Rota era casado e deixou três filhos.

    Outro lado

    A Ponte procurou a assessoria de imprensa da SSP no último sábado (07/03) para saber se o DHPP havia esclarecido algum dos crimes citados acima e se os autores foram identificados e presos.

    A nota enviada pela assessoria de imprensa privada da SSP-SP, a InPress, à Ponte, na última segunda-feira (09/03) não fala sobre as autorias dos crimes nem de prisões e informa apenas que as investigações estão em andamento. Confira a íntegra do documento: “O inquérito policial referente ao caso ocorrido em 10 de fevereiro de 2018 foi relatado e encaminhado ao Fórum em junho de 2019, não retornando até o momento ao DHPP. As demais ocorrências seguem em investigação pelo departamento, que trabalha em busca de elementos que auxiliem no esclarecimento dos fatos e identificação da autoria”.

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