Em entrevista à Ponte, Tadeu Alencar defendeu que governo federal precisa adotar equipamento para estimular estados a seguir medida
Depois de o diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal (PRF) sinalizar pelo uso de câmeras corporais na corporação a partir de 2024, o secretário nacional de Segurança Pública, Tadeu Alencar, quer que a Força Nacional também adote o equipamento. Em entrevista à Ponte, Alencar, destacou a importância do item, mas frisou que é necessário também uma mudança na matriz curricular das polícias “sob uma nova ótica de direitos humanos”.
“Quando eu fui nomeado pelo ministro Flávio Dino, não tinha uma compreensão de que a gente deveria insistir nela [câmera corporal]. A gente foi amadurecendo e hoje diz com clareza que não só é prioridade, como a Polícia Rodoviária Federal vai usar e nós queremos usar na Força Nacional também, para que sinalize ‘olha se você quer que os estados usem, porque as polícias vinculadas à União não estão usando?’”, disse Alencar.
O secretário participou na terça-feira (20/6) do 17° Fórum Brasileiro de Segurança Pública, que ocorre em Belém (PA). A Ponte também participa do evento.
O uso de câmeras corporais pela PRF deve ser implementado no ano que vem. Em maio, Antônio Fernando, diretor-geral da corporação, apresentou projeto prevendo o uso do equipamento em um evento que marcou um ano da morte de Genivaldo de Jesus dos Santos. O homem de 38 anos foi asfixiado em abordagem por policiais rodoviários federais em Sergipe.
No caso da Força Nacional, Alencar não deu mais detalhes sobre a implementação do projeto, custos e prazo para que o equipamento seja de fato usado. Essa tropa é formada por policiais militares, bombeiros e policiais civis e é vinculada ao Ministério da Justiça e Segurança Pública. Ela atua apenas em situações de emergência ou calamidade pública.
Secretário fala em mudança interna na polícia
Apesar de defender o uso de câmeras corporais, o secretário pontuou que o equipamento sozinho não resolve ou diminui a letalidade policial. Alencar avalia que é necessário uma mudança interna nas polícias.
“A câmara sozinha não faz milagre. Ela tem que estar associada a uma mudança na matriz curricular. Você tem que formar as nossas polícias desde a academia sob uma nova ótica de respeito aos direitos humanos”, afirmou.
Outro ponto é o estímulo para que mais estados adotem o equipamento para uso das forças de segurança. Segundo levantamento do jornal O Globo, apenas São Paulo, Santa Catarina e Rondônia adotaram as câmeras.
Alencar diz que que o governo federal “não vai impor” o uso, mas sim “persuadir e financiar” essa política por meio do Fundo Nacional de Segurança Pública.
“Nós estamos discutindo com os estados, defendendo claramente o que nós entendemos que é uma política assertiva, que deve ser utilizada. Mas exatamente porque eu não posso impor, tem que ser negociado. Nós estamos discutindo quais são os modelos, as tecnologias”, comenta.
*A Ponte viajou a Belém a convite do Fórum Brasileiro de Segurança Pública