Pai e filho estão entre as vítimas, e uma pessoa sobreviveu; a última chacina com mesmo número mortes aconteceu em janeiro de 2018, na Vila Miriam, também na zona norte de SP
“O bagulho foi louco ontem aqui”, disse para um colega o rapaz que mexia em materiais de construção bem em frente ao local onde, por volta das 23h30 desta segunda-feira (6/5), quatro pessoas foram assassinadas, no Jardim Peri Alto, zona norte de São Paulo. Uma quinta vítima foi socorrida e levada ao Hospital Geral de Vila Nova Cachoeirinha onde permanece internada na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI). O estado de saúde não foi informado.
A última chacina com mesmo número de mortos em São Paulo aconteceu há mais de um ano, em 7 janeiro de 2018, na Vila Miriam, entre Pirituba e Brasilândia, também na zona norte. No mês seguinte, em 10 de fevereiro, novamente a região assistiu a uma chacina: foram 3 execuções na Praça Jequiê, no Jardim Maracanã.
As marcas de sangue na rua Gervásio Leite Rebelo ainda estavam aparentes na tarde desta terça-feira. Segundo testemunhas, os disparos partiram de um veículo prata. Três pessoas foram assassinadas dentro de um táxi. A quarta vítima, esbarrou em um veículo estacionado e caiu no meio da rua. No bar na esquina com a travessa Bom Pastor, pelo menos dois disparos na porta de ferro e sangue do lado esquerdo da escada.
Um grupo de jovens entra na travessa. Os meninos olham desconfortáveis para a equipe de reportagem e comentam: “Tá doido”, enquanto caminham em direção oposta ao local do assassinato.
“Aqui é a lei do silêncio”, diz uma desconfiada jovem moradora de uma casa “a umas duas quadras do local” do crime. “Não vi nada, mas ouvi e foi muito tiro, sequencial, sem intervalo, sabe? Foi horrível, aterrorizante”, diz outra. Uma outra moradora da região confirma a narrativa de que os disparos foram sequenciais. A mulher, que mora há duas quadras da rua Gervásio Leite Rebelo, confirma que a Polícia Militar chegou rapidamente até o local, mas não soube informar em quanto tempo. Ela ainda relata que, entre as mortes, três aconteceram dentro do táxi, e a quarta vítima foi atingida na rua e “morreu bem rápido”. O primeiro registro foi feito pelo 72º DP, da Vila Penteado.
As vítimas eram todas negras e, segundo moradores, não eram da região: Donizete de Araujo Silva, 39, Douglas Jacinto da Silva, 20, Everton Alves dos Santos, 37 anos, e o taxista David Gomes dos Santos, 65. Um ambulante de 45 anos é o único sobrevivente. Donizete, que era procurado da Justiça e estava com documento falso, e Douglas eram pai e filho.
Policiais do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa), que investiga o caso, encontraram próximo ao táxi 26 estojos deflagrados de calibre 556, seis estojos deflagrados de calibre 223, dois estojos deflagrados de calibre 762 e dois estojos deflagrados de calibre 45. “Não foram encontrados objetos ilícitos no interior do veículo, tampouco alguma soma em dinheiro. Da mesma forma, em poder das vítimas foram apreendidos tão só os objetos relacionados no boletim de ocorrência e quantias módicas de dinheiro”, diz trecho do boletim de ocorrência.
De acordo com a investigação, Donizete e o sobrevivente trabalhavam em Campinas, no interior de São Paulo, com transporte alternativo. Pouco antes da chacina, estavam voltando da cidade na companhia de Douglas e David, proprietário do táxi. O sobrevivente teria dito que o grupo foi até a cidade do interior a fim de buscar “algum dinheiro” e, quando voltaram para a capital, passaram pelo terminal do Tietê e desconfiaram que poderiam estar sendo seguidos por um veículo. Pouco depois, “acabaram sendo atacados no local dos fatos”. A polícia ainda não sabe a motivação do crime e nem a autoria.
A SSP-SP (Secretaria de Segurança Pública de São Paulo) confirmou, em nota, que a Polícia Militar “foi acionada para atender uma ocorrência de homicídio” e os policiais encontraram cinco feridos, sendo que “quatro deles morreram no local”.