Informação inicial era de que atirador tinha usado pistola, mas Polícia Civil do Rio confirma que foi uma submetralhadora; fonte explica que crime organizado ‘aposentou’ este modelo de arma
As investigações do assassinato da vereadora carioca Marielle Franco (PSOL-RJ) e do motorista Anderson Gomes apontam que o assassino usou uma submetralhadora 9mm modelo HK MP5 e não uma pistola 9mm no ataque a tiros no dia 14 de março de 2018. Reportagem do Domingo Espetacular, da TV Record, trouxe esta informação e detalhes sobre erros cometidos nas perícia inicial dos homicídios.
Segundo a matéria, o trabalho inicial de investigação não analisou as ranhuras deixadas pela arma nos estojos disparados. Essa informação e as ranhuras deixadas nas balas são suficientes para determinar com exatidão a arma do crime e o calibre utilizado. Somente com as balas, os peritos afirmaram se tratar de uma pistola 9mm, mas a análise das cápsulas determinaram se tratar de uma submetralhadora.
O uso de tal armamento determina um poder de fogo maior na ação pela, porque a precisão dos tiros aumenta. Em um segundo, este modelo de submetralhadora é capaz de disparar exatos 13 tiros e com menor recuo da arma – 800 disparos por minuto. Quanto menor o recuo, menos espaçados serão os alvos atingidos. Isso é possível pela submetralhadora ter três bases de sustentação (duas para as mãos, e uma no ombro), enquanto a pistola tem apenas uma (o punho do atirador).
“A submetralhadora é uma arma de pequeno porte que cospe tiro para tudo quanto é lado. Ela é capaz de atingir o alvo pequeno com maior poder de fogo e mais vezes. A pistola com rajada, por ser menor, ela dá mais recuo, não agrupa tanto os tiros”, explica à Ponte uma fonte da DH (Delegacia de Homicídios) do Rio de Janeiro. “É incomum ver essa arma com o crime organizado. Anos atrás, era comum ver o modelo UZI com eles, mas perdeu a razão de uso. Agora se usa fuzil”, prossegue.
Segundo a reportagem da Record, a Polícia Civil do Rio de Janeiro tem 40 modelos da submetralhadora 9mm modelo HK MP5 e um lote menor está com as tropas de elite da Polícia Militar, como o Bope. Em nove anos, nove unidades foram apreendidas com criminosos. A DH solicitou à Coordenadoria de Armas e Explosivos do Estado informações sobre quem recebeu estas as armas e quais policiais fizeram treinamento específico para utilizá-la.
“No Brasil, pouquíssimas submetralhadoras desta existem. Não é comum a utilização de uma arma dessas importada aqui no Brasil. Isso restringe o universo da investigação”, aponta Domingos Tocchetto, perito por 40 anos e autor de livros sobre balística e investigação criminal, à reportagem da Record.
Além de a primeira perícia não verificar as ranhuras deixadas nos estojos, não se analisou a lataria do carro. Ali, uma segunda perícia encontrou novas balas. Deixar no relento o carro usado por Marielle e Anderson, principal prova dos assassinatos, foi outro erro cometido pela polícia, segundo especialistas ouvidos na reportagem da emissora. Na próxima quinta-feira (10/5), está prevista a reconstituição do crime.