Documentário conta a trajetória da cantora Linn da Quebrada de maneira sensível e descontraída
Liberdade é a palavra que define o documentário sobre a trajetória de Lina Pereira, conhecida como Linn da Quebrada. Aos 29 anos, a artista mostra que não veio para mudar só a cena musical brasileira, mas para quebrar todos os moldes do que conhecíamos por gênero.
“Bixa Travesty” fez muito barulho em 2018 quando estava no circuito dos festivais. A cantora, agora também atriz, trouxe para casa prêmios como “Teddy Award for Best Documentary” e foi apresentado no festival de Berlim 2018. O filme também ganhou prêmios nos festivais de Toronto, Barcelona, Brasília e no Mix Brasil.
Assistir “Bixa Travesty” é rir e chorar com a mesma frequência. Ao lado de importantes nomes da nova cena musical LGBT+, como Liniker, As Bahias e a Cozinha Mineira e Jup do Bairro, vemos a intimidade da artista. Sem segredos ou pudores.
Encarando a câmera durante boa parte do tempo, Linn aborda questões profundas da sua vida. Transexualidade, negritude e pobreza são alguns temas tratados em uma das cenas iniciais, em que Linn está na cozinha com a sua mãe e com sua amiga Liniker. É nessa cena que uma das tatuagens da artista é explica: “vou tatuar ELA na cabeça para você não esquecer”, diz Linn a sua mãe.
O roteiro do filme foi feito pela própria Linn e dirigido por Claudia Priscilla e Kiko Goifman. Outra cena marcante do longa é quando Linn está sentada com Assucena Assucena e Raquel Virgínia, cantoras do grupo As Bahias e a Cozinha Mineira, em que elas conversam sobre fazer ou não fazer cirurgias, tomar ou não hormônios, argumentam sobre os padrões que foram criados para corpos trans e e elas devem ou não segui-los para se dizerem mulheres trans e travestis.
Aliás, o termo “Bixa Travesty” vem muito daí. Ao longo do documentário essa explicação fica muito nítida: bixa travesty é um corpo feminino que não necessariamente precisa seguir os padrões de feminilidade impostos pela sociedade cisgênera, hétero patriarcal.
O afeto para mulheres trans e travestis, que Linn já havia conversado com a Ponte em abril de 2018, aparece com força no filme. As músicas da cantora conversam com as falas diretas dela olhando para a câmera e diálogos com amigos para mostrar a solidão da mulher trans e travesti, que encontra dificuldades para ter afeto. Um dos diálogos mais potentes desse tema é uma conversa entre Linn e Jup, em que as duas trazem duas questões individuais, mas que se complementam para mostrar que o corpo trans é muito desejado para sexo e pouco desejado para o afeto.
Pela primeira vez, Linn conta, com muitas fotos e vídeos, a luta contra o câncer, que começou quando ainda não se chamava Linn, mas Laura, primeiro nome que a artista escolheu na fase de transição. Foi nessa época, entre as internações e sessões de quimioterapia, relembra Linn, que ela começou a escrever as primeiras músicas.
“Bixa Travesty” tem alegria, angústia, dor, nudez e muitos trechos de shows que Linn fez ao longo de sua trajetória como cantora. É impossível sair da sala do cinema depois de assistir ao documentário sem querer, quase que imediatamente, seguir a cantora em suas redes sociais e acompanhar de perto a sua carreira.
O filme estreou no circuito nacional de cinema no último dia 21 de novembro e tem sessões espalhadas por todas as salas do Itaú Cinema do país. Em São Paulo, todas as quartas de dezembro, contaram com sessões especiais, com valores acessíveis (de R$ 6 a R$ 12), com batalhas de rimas, debates com diretores e elenco, e pockets shows.
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