Com 12 tiros em 7 segundos, PMs matam dois jovens negros dentro de carro

    Policiais alegam que jovens estavam armados e atiraram por causa do “iminente” risco de agressão, no dia 9, em São Paulo. Ouvidor e ativista apontam indícios de que PMs agiram fora da lei

    Os jovens negros Felipe Barbosa da Silva, 23 anos, e Vinícius Alves Procópio, 19, bateram o carro que dirigiam, um Chevrolet Ônix, em outro veículo e, em seguida, pararam após colidir com um poste, no bairro de Santo Amaro, na zona sul da cidade de São Paulo, por volta das 19h30 da última quarta-feira (9/6). Mesmo com eles dentro de um carro já acidentado, dois policiais militares atiraram pelo menos 12 vezes em sete segundos e mataram os jovens, revela um vídeo obtido pela Ponte

    Atualização às 22h: Justiça Militar decreta prisão de PMs que mataram dois jovens negros com 30 tiros

    A ação foi registrada por um celular, de dentro de outro carro que passava pelo local. Após ver as imagens, o ouvidor das polícias de São Paulo, Elizeu Soares Lopes, disse que se tratava de “uma ação excessiva por parte dos policiais, portanto ilegal”, mas destacou que “é preciso apurar todas as circunstâncias dessa ocorrência”, acrescentando que “o estado de direito não comporta justiçamento”. 

    O advogado especialista em direitos humanos Ariel de Castro Alves, membro do Grupo Tortura Nunca Mais e que está acompanhando o caso, também destaca que “aparentemente os PMs não estão agindo como em uma situação de confronto, pois em nenhum momento eles se protegem de disparos”.

    Os policiais que mataram os jovens são o sargento André Chaves da Silva e o soldado Danilton Silveira da Silva, da Força Tática do 1º Batalhão da PM Metropolitano, responsável pela região de Santo Amaro. Em seu depoimento à Polícia Civil, os PMs disseram que mataram Felipe porque ele desceu do carro com uma arma na cintura e apresentava “iminente” risco de agressão, enquanto Vinícius, que ficou no banco traseiro do veículo, teria tentado atirar contra os policiais, mas a arma falhou. 

    O caso foi registrado no DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa), da Polícia Civil, como roubo, lesão corporal em acidente de trânsito e morte decorrente de intervenção policial. O boletim de ocorrência registrou apenas a versão apresentada pela Polícia Militar, que diz que os jovens estavam em um carro roubado e fugiram da abordagem policial. 

    Conforme as investigações iniciais — que não ouviram os familiares dos jovens mortos, apesar de terem ido à delegacia para levar os documentos dos dois —, o carro em que os jovens estavam pertencia a uma mulher que trabalhava como motorista de aplicativo e foi roubado no dia anterior da ocorrência, na terça-feira (8/6). 

    Com o carro roubado, os jovens teriam praticado outro roubo na região de Santo Amaro. Uma pessoa que teria presenciado esse assalto acionou a polícia via 190, e os policiais iniciaram a busca. Ao localizar o veículo com os jovens supostamente em “atitude suspeita”, na avaliação dos PMs, os policiais tentaram realizar uma abordagem e, em seguida, iniciaram a perseguição ao Chevrolet Ônix. 

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    Em determinado momento da perseguição, o carro parou e duas mulheres teriam descido pelas portas da frente do carro. Os rapazes, então, assumiram a direção do veículo e continuaram em fuga, só parando depois de colidir em um Honda Fit e, na sequência, em um poste de iluminação. O vídeo de 20 segundos da ação já mostra o Chevrolet Ônix com as portas abertas, os jovens dentro e a polícia cercando. 

    Para evitar esse tipo de ocorrência e auxiliar nas investigações, o ouvidor Lopes acredita que as câmeras acopladas ao uniforme dos policiais podem ser um caminho. Ele disse que “a Ouvidoria vai solicitar as autoridades do Estado para envidar esforços e acelerar a implementação de câmaras bodycam em todos os policiais”.

    Por meio de nota, a Secretaria de Segurança Pública da gestão João Doria (PSDB), comandada pelo general João Camilo Pires de Campos, disse que os policiais envolvidos na ocorrência foram afastados de suas funções, o que significa ter deixado as atividades nas ruas para seguir ganhando o mesmo salário trabalhando internamente na PM. 

    A Secretaria afirmou, ainda, que logo após a ocorrência foi instaurado um inquérito policial militar, que também vai analisar as imagens. A Corregedoria da PM conduz as investigações no âmbito militar e o DHPP conduz a investigação criminal.

    Para a Polícia Civil, os PMs apresentaram um revólver Taurus calibre 32 com numeração raspada e municiado com quatro cartuchos íntegros e um picotado, e um revólver Rossi calibre 38 com cinco cartuchos de munição atribuídos ao jovens. As armas dos dois policiais militares também foram apreendidas.

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