Conheça Gigante, o pequeno campeão do Complexo do Alemão, no Rio

Atleta do projeto de kickboxing em Nova Brasília, Pedro Cardoso, negro e morador da comunidade, tem apenas 9 anos e um talento de gente grande

Os olhos são expressivos. Ele ostenta no peito com orgulho a medalha da última competição. O troféu da 1ª Copa de Artes Marciais do Complexo do Alemão também está em suas mãos. Pedro Cardoso, 9 anos, o Gigante, é um dos alunos do mestre Henrique Silva, que toca o projeto de kickboxing que leva seu nome, em Nova Brasilia, no Complexo do Alemão, na zona norte do Rio de Janeiro. “Eu vou ficar para sempre [no kickboxing]. Estou feliz com essa luta que eu fiz”, disse o reservado Pedro. Afinal, ele não quer mesmo muita conversa. Quer saber é de lutar.

O projeto existe desde 2008 e, de lá para cá, segundo Henrique, 148 crianças e jovens já passaram pelo processo de formação. Alguns treinaram por um tempo e depois seguiram a vida. Outros, descobriram nessa modalidade de luta um ofício: até agora foram formados cinco professores faixa-preta, todos moradores da comunidade.

“É um excelente menino e tem se mostrado um excelente atleta”, avalia Henrique sobre o pupilo. Pedro está no projeto há cerca de 5 meses, competiu três vezes e ganhou todas.

O Complexo do Alemão tem sido recorrente alvo de operações policiais, que aumentaram consideravelmente depois que Wilson Witzel (PSC) assumiu o governo fluminense. Não raro, essas ações resultam em mortes, como as 5 ocorridas em 18 de setembro, ou prisões ilegais. O caso mais recente, ocorrido em agosto, foi a prisão do estudante negro Wesley Rodrigues, 21 anos, morador da Grota, mesmo local onde Pedro vive. “Quando tem tiro, eu já volto correndo para a casa”, diz à Ponte.

Mestre Henrique, como todos o conhecem, explica que o sentido do projeto vai muito além de descobrir potenciais talentos. “Eu vejo o esporte como um método para sair um pouco dessa vida que vivemos dentro da nossa comunidade, da violência. Porque a gente tira a criança da rua, de ficar naquela de sem nada para fazer, cria um sentido”, conclui.