Paulo Bilynskyj acumulava série de processos administrativos durante os 10 anos que esteve na corporação. Ele acusou namorada de publicar vídeo com conteúdo racista em 2020 em seu canal; ela se suicidou após balear policial
Paulo Bilynskyj não é mais delegado da Polícia Civil de São Paulo. Sua demissão foi comunicada no final do mês de junho deste ano tendo como justificativa uma série de condutas que foram reprovadas pelos conselhos disciplinares da corporação. O episódio determinante para a retirada dele da corporação foi um vídeo feito por escola preparatória para concursos que fazia alusão do estupro de uma mulher branca por homens negros e compartilhado pelo policial.
“O concurseiro estuda com material pouco profundo, sem clareza, não faz questões da banca; ou seja, sem uma retaguarda de conhecimento que aguente a profundidade com que a banca introduz os conteúdos e diversas posições doutrinárias! E aí… a situação fica preta! Para não passar por isso e nem levar trolha na prova, esteja lá na live do dia 18/05, às 10h! Condições imperdíveis e que nunca mais se repetirão!!! (…) Marque aquele seu AMIGO (A) que já passou por esse momento tão DOLOROSO!”, dizia a legenda do vídeo que foi publicado em maio de 2020.
Durante a apuração da denúncia feita à Corregedoria Civil, Bilynskyj alegou em sua defesa que o vídeo teria sido postado pela sua noiva sem seu consentimento. Segundo disse em depoimento à Divisão de Processos Administrativos, assim que tomou conhecimento da repercussão da publicação, teria apagado as imagens imediatamente.
A noiva do policial, a modelo Priscila Delgado, morreu dias depois do vídeo ser publicado. A morte dela ganhou grande repercussão na mídia e teria ocorrido depois de uma briga entre o casal. Bilynskyj foi hospitalizado após receber três tiros e a namorada faleceu no apartamento onde os dois moravam. Este mês a Justiça arquivou o caso, confirmando o inquérito policial que diz que o policial sofreu uma tentativa de homicídio da companheira, que depois cometeu suícidio.
No documento onde determina a demissão de Paulo Bilynskyj da Polícia Civil paulista, o delegado Luís Augusto Castilho Storni, relator do caso, reprova a intenção de imputar à noiva já morta a responsabilidade pela publicação do vídeo.
“Além de ‘tentar’ se safar das consequências de seu ato, Paulo Bilynskyj mancha a reputação da mulher que, como é de conhecimento público, teve um fim trágico. Este lamentável episódio, do ataque da mulher contra a sua vida e posterior suicidio dela, aliado à convivência ‘more uxorio’ (união estável), por si só, seria suficiente para impedi-lo de atribuir a ela, em respeito a sua memória e ao lamentável passamento, a prática da postagem do vídeo alvo destes autos, pelo menos, é o que se esperaria do homem médio. Seu comportamento, como se vê, foge ao mínimo do razoável e do bom senso”, critica Storni no texto.
Na explicação das motivações para o pedido demissão do policial, são relembrados outros episódios que envolvem Bilynskyj e precisaram de apuração da Corregedoria. Em dez anos exercendo a função de delegado, ele ainda responde por 12 expedientes disciplinares, já tendo sido punido com advertência e suspensão.
“A título meramente exemplificativo, nos anos de 2013 e 2014 – ainda no curso do estágio probatório – inúmeros expedientes disciplinares foram instaurados em seu desfavor, baseados em fatos como ‘demora na conclusão e encaminhamento de procedimento ao Fórum’, ‘elaboração de TC (termo circunstanciado) em fato atípico’, ‘manobra brusca na condução de viatura policial e posterior colisão em veículo particular'”, informa o documento.
Sobre o acidente de trânsito com a viatura da Polícia Civil, o relatório informa que Paulo tentou forjar um flagrante de tráfico de drogas contra o motorista do outro veículo para justificar sua conduta ao volante.
“Inclusive, acerca do relatado acidente de trânsito, é teor dos assentamentos funcionais de Paulo Bilynskyj que ele chegou a ser investigado porque teria engendrado uma farsa para esquivar-se da responsabilidade quanto ao pagamento dos danos causados na viatura e no outro veículo, a qual teria resultado na prisão em flagrante, por tráfico de drogas, de Luciano de Medeiros”, diz o texto do relatório, observando que a única vez que policial sofreu uma suspensão de 90 dias foi por uma acusação de falsidade ideológica na cidade de Guararapes, no interior paulista.
Ataque da mídia
Utilizando sua conta no Instagram, o ex-policial, que informa ser pré-candidato a deputado federal, diz que teve que entregar sua arma e seu distintivo para seus superiores por conta de uma ação orquestrada pela mídia que o estaria acusando de lutar contra a esquerda. “Aqui, vocês veem um homem que serviu o país no combate à criminalidade por mais de 10 anos, tendo todo o seu direito de Defesa tirado, porque usou a sua voz pra lutar pela família brasileira, e essa é a pior ameaça para a Esquerda”, escreveu Bilynskyj na legenda do vídeo onde dá sua versão para a demissão.
O agora ex-delegado é conhecido nas redes sociais por publicar vídeos em seu canal do YouTube com instruções de tiro e mais recentemente mostrando apoio ao presidente da república Jair Bolsonaro (PL) e fazendo ataques a membros e partidos de esquerda. Comumente ele aparece armado nas imagens.
Outro lado
Através de uma nota, Paulo afirma que está lutando contra o crime, que sofre perseguição por parte da imprensa e que irá devbolver seu distintivo e arma para o polícia civil. “Faz 10 anos que estou na polícia lutando contra o crime. Vocês conhecem a minha história. A mesma imprensa criminosa que me acusou de homicídio 2 anos atrás, hoje me acusa de lutar contra o retorno da esquerda. E essa luta fez com que a Polícia Civil retirasse a chance de eu defender a mim e a minha família, retirando meu porte de arma. Por isso, hoje estou aqui no 100DP para cumprir a decisão do delegado geral a entregar minha arma, meu distintivo e minha carteira funcional”, diz um trecho da nota enviado pelo ex-policial.
(*) Atualizada em 02/8, às 14h28, para acrescentar o posicionamento de Paulo Bilynskyj