Dois são mortos em ação policial e 17 ficam feridos em ataque a tiros na zona sul de SP

    No Parque Bristol, atiradores feriram 17 pessoas em baile funk; mortes aconteceram em Paraisópolis e filho de uma das vítimas lembrou, em post, que perdeu a mãe há menos de um ano

    Josemar Gonçalves de Sousa e o filho dele, Diego | Foto: Reprodução Facebook

    Duas pessoas foram mortas durante uma ação policial na favela de Paraisópolis, na zona sul de São Paulo, neste domingo (27/5). Segundo o registro da ocorrência, policiais perseguiam suspeitos em um veículo, quando entraram na comunidade e, durante troca de tiros, atingiram Rodrigo da Silva Pereira, de 26 anos. Ele estava conduzindo o Ford Ka que teria sido roubado. O motociclista Josemar Gonçalves de Sousa, de 57 anos, passava pela Rua das Jangadas e acabou também sendo atingido por disparos e não resistiu. O filho dele, Diego Sousa, postou uma mensagem emocionada nas redes sociais lembrando que, há menos de um ano, perdeu a mãe. “Meu Deus a única pessoa que eu tinha o senhor levou!”, diz logo no começo da postagem. “Infelizmente aconteceu com meu pai que estava no lugar errado na hora errada só peço a Deus que cuide bem do meu coroa que esteja em um lugar bom ao lado da minha mãe te amo pai meu herói”, conclui.

    Na versão dos policiais, eles estavam fazendo um patrulhamento na região, quando deram ordem para que o carro suspeito parasse, mas o pedido foi ignorado. Uma perseguição pelas ruas de Paraisópolis terminou na Rua das Jangadas, onde havia um grupo de pessoas ouvindo música e bebendo. Houve troca de tiros. Os PMs, ainda de acordo com o boletim de ocorrência, teriam encontrado duas armas no interior do Ford Ka: uma espingarda calibre 12 e uma pistola 9mm.

    Outros três outros ocupantes do carro, Theo Henrique Pereira, Josué Oliveira Souza e Everton Rezende Pereira, ficaram feridos e foram levados ao Hospital do Campo Limpo. O trio foi autuado por posse ou porte de arma de fogo de uso restrito, lesão corporal decorrente de oposição à intervenção policial, homicídio qualificado e por estar com um carro produto de roubo.

    Dois mortos na Rua das Jangadas | Foto: arquivo pessoal

    Um vídeo que foi postado por testemunhas da ação policial nas redes sociais, mostra quando moradores chamam os policiais de “covardes” e o momento em que um homem ferido está sendo socorrido e se queixa: “Nois trabaia também. Nois trabaia pra chega em casa em paz”. As mortes aconteceram na Rua das Jangadas, perto da Rua Dr. Laerte Setúbal, um dos acessos à favela. Como houve morte em decorrência de ação da polícia, o DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa) foi acionado para tocar a investigação, ainda de acordo com o boletim de ocorrência.

     

    Disparos de 12 no ‘fluxo’

    Na mesma noite, mas em outro local também na zona sul de São Paulo, entre o Jardim São Savério e o Parque Bristol, pelo menos 17 pessoas ficaram feridas depois de um ataque a tiros durante um baile funk na Rua Menino do Engenho. Os atiradores estavam em uma moto e fugiram logo depois de disparar contra a multidão. Pelo menos 15 pessoas foram atingidas por estilhaços provocados pelos tiros.

    Uma das vítimas, não identificada, teria passado por cirurgia no Hospital Saboya, na mesma região, e recebeu alta na tarde desta segunda-feira, segundo informações do hospital. Uma menina de 9 anos também foi atingida, mas depois de passar por atendimento, foi liberada.

    A distância entre as ocorrências é de cerca de 17 quilômetros e, até o momento, não há informações de relação entre as duas.

    O Parque Bristol tem histórico de ataques a tiros. Nos Crimes de Maio de 2006, o local foi um dos alvos de chacina, onde 4 pessoas foram assassinadas. A PGR (Procuradoria Geral da República) chegou a solicitar a federalização do caso. Em março deste ano, inclusive, o Movimento Mães de Maio relembrou esse caso na Comissão Interamericana de Direitos Humanos e pediu a reabertura das investigações de todas as mortes ocorridas naquele mês. Em 2014, uma ação da Rota (tropa de elite da PM paulista) teria terminado com a morte de Bruno Rocha e o desparecimento de Luciano Meneses. A suspeita é que a morte e o sumiço tivessem ligação com o assassinato de um policial militar. Pouco tempo depois, Meneses foi encontrado preso  suspeito de tráfico de drogas.

    As ações, embora com características distintas e ocorridas em pontos diferentes da zona sul, geraram pânico em comunidades próximas. Áudios recebidos pela Ponte davam conta de boatos de toque de recolher no final da noite de ontem em Heliópolis e de supostas ameaças em Paraisópolis, que indicavam que “outras pessoas morreriam ainda na madrugada”.

    Em nota, a Secretaria da Segurança Pública informa que a Polícia Civil trata o caso de Paraisópolis como uma troca de tiros. “Durante patrulhamento, policiais militares suspeitaram de quatro homens em um carro que ignoraram a ordem de parada e passaram a atirar contra os agentes. Após troca de tiros, os quatro homens foram atingidos e socorridos ao Hospital. Na ação, uma pessoa que passava pelo local foi atingida e socorrida, vindo a falecer. O caso está sendo registrado no 89º DP”, informa.

    A Ponte procurou a Secretaria da Segurança Pública para saber se há algum tipo de relação entre os casos. Em nota*, a pasta informa que “a ocorrência em Paraisópolis está sendo investigada pelo DHPP. PM acompanha as investigações, como de praxe em ocorrências de morte decorrente de oposição à intervenção policial (MDOIP). Quanto ao ocorrido na Rua Menino do Engenho, no Jardim São Savério, o caso segue em investigação pelo 83º DP. Testemunhas estão sendo ouvidas e a unidade trabalha para identificar o autor e esclarecer a motivação do crime”, diz a nota.

    *Reportagem atualizada em 29/5 às 11h28

     

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