Disparos foram feitos por duas pessoas numa moto. Há dois anos outras três pessoas morreram no mesmo local e nas mesmas circunstâncias

Duas pessoas foram mortas no início da manhã do último sábado (13/11), na Favela da Ilha, localizada na Vila Elba, distrito de Sapopemba, zona leste de São Paulo. Dois homens em uma moto atiraram contra as vítimas que estavam em diferentes pontos da Avenida Marginal do Oratório. Os primeiros a serem executados foram Stevie Fernando dos Santos, de 32 anos e uma mulher conhecida na região como Cris Café. Os dois morreram na hora. A terceira vítima, conhecido como Chocolate, foi baleado momentos depois a poucos metros de onde ocorreram os primeiros disparos.
“Mataram o Stevie na porta da casa da mãe dele. Ele estava lá para tomar o remédio dele, já que ele era esquizofrênico e tomava medicação controlada”, afirma um parente da vítima que prefere não se identificar. “Eu ouvi os disparos e saí correndo e escutei os gritos da mãe dele. Quando cheguei lá ele estava morto”, completa.
De acordo com relatos de quem mora na vizinhança, não é a primeira vez que ocorrem crimes deste tipo na região e que em abordagens policiais recentes havia ameaças que poderia haver novos homicídios.
“Um pessoal da comunidade comentou que em umas das abordagens os policiais ficavam falando ‘o Evaldo está com saudade’. Isso é referência a um rapaz que foi morto aqui na região pela polícia em 2014. Isso dá a entender que eles fariam algo parecido em breve”, relata Hélio Augusto, membro do Coletivo Nome dos Números.
No final de setembro de 2019, outras três pessoas morreram na mesma região e uma quarta ficou ferida. Na época, a Ponte denunciou que, após as mortes de Vitória Noemi da Silva, 21, Augusto Carlos de Souza, 41, e Jailson Lima Mota, 44, assassinados a tiros, o único sobrevivente da ação entrou para o programa Provita (Programa Estadual de Proteção a Vítimas e Testemunhas), responsável por proteger pessoas que sofrem ameaças por colaborarem em inquéritos policiais ou processos criminais. A solicitação de ajuda se deu por suspeita de envolvimento de policiais no crime.
Em julho de 2020, a Rede de Proteção e Resistência Contra o Genocídio, movimento que atua com violação de direitos humanos nas periferias, denunciou que policiais militares da Força Tática agrediram jovens durante uma abordagem, efetuaram disparos em direção ao familiar de um deles e ameaçaram um rapaz de morte na mesma localidade.
Dois meses depois, três pessoas foram mortas e duas ficaram feridas depois que quatro homens chegaram perguntando quem comandava o tráfico de drogas do local. Em seguida, atacaram as vítimas. Foram dois ataques: um contra dois rapazes na Avenida do Oratório, altura do número 6.600, o outro conta um homem, na Rua Salvador de Mesquita.
“Eles nunca param de matar, só dão um tempo. A comunidade pede paz. Aqui tem gente que se levanta cedo para trabalhar. É muito triste tudo isso e nunca ninguém faz nada”, relata o parente de um dos mortos.
O crime deste final de semana ocorreu por volta das 6h30. Os moradores estranharam a velocidade que a polícia chegou ao local. “Às 7h já tinha viatura no local preservando os corpos e a perícia da Polícia Civil também chegou muito rápido. Geralmente quando a gente liga para a polícia para pedir socorro demora horas e horas”, afirma Hélio Augusto.
Em nota, a assessoria de imprensa da Secretaria de Segurança de São Paulo informou que o caso foi registrado como homicídio, consumado e tentado, pelo 69º DP (Teotônio Vilela), que acionou o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa, para prosseguimento das diligências.
A Ponte pediu entrevista com os delegados responsáveis pelas investigações, mas a solicitação não foi atendida pelo governo de SP, por meio da SSP.
A reportagem também questionou sobre as ameaças sofridas pelos moradores da região e se houve indiciados na chacina ocorrida em 2019 e está esperando a resposta da pasta.