Dupla de funkeiras acusa YouTube de transfobia após ter canal excluído

Irmãs de Pau tinham vídeos com mais de 30 mil visualizações

Dupla Irmãs de Pau | Foto: Divulgação

Quem tentou assistir a algum clipe da dupla Irmãs de Pau no canal delas no Youtube, neste sábado (22/01), encontrou apenas uma mensagem, após clicar no link, que o vídeo estava indisponível, pois a conta estava encerrada. As cantoras Vita Pereira e Isma Almeida, juntamente com o produtor Vinícius Gomes, alegam que houve transfobia por parte da plataforma por excluir todo material audiovisual das artistas que havia na plataforma.

No comunicado que postaram em suas redes sociais, as Irmãs de Pau informaram que passaram mais de um ano trabalhando para colocar os dois clipes da dupla, um álbum e mais um single no ar. “Vocês sabem como é difícil viver neste mercado sendo artistas independentes, juntando as moedinhas e parceiros que colaboram com a nossa produção para realizar os nossos projetos”, diz um trecho da nota.

No email que enviou para avisar do encerramento do canal, o YouTube afirma que as cantoras violaram as diretrizes da plataforma com conteúdo considerado ofensivo. “Esta conta foi encerrada por diversas ou severas violações às políticas do YouTube sobre nudez e conteúdo sexual”, diz o comunicado.

As Irmãs de Pau são um grupo de funk formado por duas travestis que cantam abertamente letras com cunho sexual, assim como tantos outros artistas do mesmo gênero musical. “Minha consciência está tranquila referente aos nossos conteúdos. Nosso trabalho é incrível, cantamos putaria sim, mas e aí? A maioria dos funks que circulam no YouTube também são”, afirma Isma Almeida.

Em setembro do ano passado, o grupo chegou a receber um aviso da plataforma informando que uma das músicas do álbum do grupo estaria violando as regras da empresa. Para Vita Pereira, o episódio mostra que o Brasil ainda não aceita trabalhos artísticos feitos por travestis.

“Sabemos o que nosso som e corpo causariam nessa indústria fonográfica. Não estamos dispostas a negociar nossa vida. Esse episódio só mostra que esse país precisa cair, essa estrutura precisa ser derrubada. Nascemos mortas e cansadas disso tudo e recusamos a voltar para o lugar que eles desejam”, diz a cantora.

A dupla teve início no iníciodo ano passado com o lançamento do primeiro single, “Travequeiro”, que acumula mais de 70 mil plays nas plataformas digitais e teve 30 mil visualizações do clipe no YouTube. O produtor do grupo Vinicius Gomes afirma que vai tentar reaver o canal junto ao YouTube e que está buscando apoio de parceiros que possam auxiliar nisso.

“Estamos e faremos o possível para recuperar essa ferramenta de trabalho tão importante pras Irmãs de Pau nesse início de carreira. Não é possível que uma plataforma com essa magnitude, que se diz aliada da população LGBTQIA+, simplesmente silenciar as vozes de duas artistas dessa forma por denúncias transfóbicas”, afirma o produtor.

A Ponte entrou em contato com a assessoria de imprensa do Google, empresa dona do Youtube, mas até a publicação desta matéria não obtivemos retornos. Em sua parte de suporte para os usuários, o YouTube informa que não tolera conteúdos ofensivos e de cunho sexual.

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“Não é permitido publicar no YouTube conteúdo explícito com o objetivo de satisfação sexual. A publicação de pornografia pode causar a remoção do vídeo ou o encerramento do canal. Vídeos que apresentem conteúdo fetichista serão removidos ou receberão uma restrição de idade. Na maioria dos casos, a exibição de fetiches violentos, explícitos ou humilhantes é proibida no YouTube”.

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