Manifestação nesta quarta-feira (1/6) lembra uma semana da morte de Genivaldo de Jesus Santos em uma câmara de gás improvisada em uma viatura em Sergipe
Um protesto organizado por movimentos negros e populares, como a Coalizão Negra por Direitos e rede de Proteção e Resistência ao Genocídio, ocupou a Avenida Paulista e parte da região central da cidade de São Paulo na noite desta quarta-feira (1/6).
O ato tinha a questão da violência policial como central, apontando para quatro situações recentes que ilustram a brutalidade do Estado brasileiro: a chacina com 26 mortos na Vila Cruzeiro, zona norte da cidade do Rio de Janeiro, no dia 24 de maio; a morte de Genivaldo de Jesus Santos em uma câmara de gás improvisada por policiais rodiviários federais no camburão de uma viatura na quarta-feira passada (25/5); as série de ações truculentas da Polícia Civil na “Cracolândia”, nome pejorativo para a cena aberta de consumo e venda de drogas no centro da capital paulista; e a Operação Sufoco da PM paulista, que tem focado em revistas arbitrárias a entregadores de apps na cidade de São Paulo.
A concentração começou or volta das 18h em frente ao Museu de Arte de São Paulo (Masp), reunindo familiares de vítimas de violência estatal para relembrarem seus mortos — caso de Talita Souza, 23, mãe de Hillary Souza Valadares, morta em 2 anos em 12 de fevereiro de 2019 ao ser baleada na cabeça. Segundo ela, uma perícia particular comprovou que o disparo que matou Hillary saiu da arma de um policial militar que estava perseguindo um veículo que tinha sido roubado. “Se não fosse a minha filha ia ser a filha de alguém. Quando o meu caso foi arquivado, senti como se a minha filha fosse um papelzinho, que eles amassam e jogam fora. E a minha filha não é só mais um”, conta Talita, que explica que o caso já foi desarquivado e segue em investigação.
Maria Cristina Quirino, mãe de Denys Henrique, 16, um dos jovens vítimas do massacre de Paraisópolis em 2019, conta como fica perplexa com a contínua violência policial que segue no pais: “Eles tiraram o ar do meu filho assim como do Genivaldo. Em 2019, eu pensei que não ia ter mais chacina, que não ia morrer mais ninguém. A gente acreditava que a morte dos nossos filhos ia servir de exemplo para eles barrarem esses assassinos fardados, mas isso não aconteceu”.
Ativistas pelos direitos humanos também falaram durante a concentração em frente ao Masp, como Edson Bazilio, do Movimento Raiz da Liberdade, que questionou: “Esses policiais com as armas na mão, com as leis a favor deles, se acham super-heróis. Que tipo de herói mata um homem asfixiado dentro de um camburão?”. Katiara Oliveira, articuladora da Proteção e Resistência ao Genocídio, deu um papo reto: “o Genivaldo é a prova que o genocídio não escolhe idade, não escolhe hora, não escolhe situação. A gente tá cansado gente. são mais de 40 casos em menos de um mês, a gente precisa de advogado voluntário, de TI, de psicólogo para ouvir as mães de luto”.
A manifestação desceu a Rua Frei Caneca e parou em frente ao prédio do Ministério Público Federal (MPF), terminando com um jogral lembrando dos temas do protesto, acrescentando ainda a violência contra a população de rua e o racismo ambiental, com as mais de 100 vítimas das chuvas intensas em Pernambuco nesta semana.
Veja abaixo mais fotos do ato: