Nas três imagens investigadas, militar travestido de palhaço usa pulseira no braço direito
Uma nova imagem do PM Coringa, obtida pela reportagem, mostra o integrante da Polícia Militar de São Paulo posando dentro de um carro, muito provavelmente da corporação, segurando um rádio transmissor.
Essa é a terceira imagem do PM Coringa a ser revelada. Nas outras duas, o mesmo militar foi fotografado ao ameaçar um jovem negro com um machado e com a pistola .40 da Polícia Militar de São Paulo.
As duas imagens das ameaças contra o jovem negro foram distribuídas em grupos de WhatsApp restrito a policiais militares e também foram tornadas públicas pela Ponte Jornalismo, em 14 de julho. No mesmo dia, a Corregedoria (órgão fiscalizador) da PM passou a investigar as ameaças para tentar identificar o PM Coringa.
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Nelas, a pessoa que as distribuiu pelo WhatsApp escreveu: “Tem tatuagem de palhaço, mas quando vê um na frente fica com medo”.
Ao rastrear o local em que as duas imagens foram feitas, a reportagem descobriu que elas foram feitas na rua Isabel de Oliveira, no Parque das Cerejeiras, um dos diversos bairros que formam o Jardim Ângela, na zona sul de São Paulo.
A Isabel de Oliveira começa na Estrada do M´Boi Mirim, principal via do Jardim Ângela, e termina perto do Cemitério Memorial Parque das Cerejeiras.
Em fevereiro deste ano, cinco corpos foram encontrados em uma área de mata do Parque das Cerejeiras, bem perto da rua Isabel de Oliveira, onde foram feitas as imagens do PM com o machado ameaçando o jovem negro.
Na primeira busca, PMs, bombeiros e investigadores do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa), da Polícia Civil, encontraram três corpos em uma cova rasa. Numa segunda busca, mais duas vítimas foram localizadas com a ajuda de um cão farejador.
À época do encontro dos cinco corpos, o delegado Rodrigo Petrilli, do DHPP, disse suspeitar que as cinco vítimas teriam sido mortas a mando da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital), mas nada ficou comprovado até hoje.
Pulseira prata
Para a Corregedoria da PM, não há dúvida de que as imagens são autênticas e não sofreram nenhum tipo de manipulação digital. Desde a revelação da ameaça do PM Coringa ao jovem negro, também morador da zona sul de São Paulo, a Corregedoria da PM tenta extrair metadados (conjunto de informações digitais padronizadas) das duas imagens, mas até hoje não foi possível rastrear os dados.
A imagem do PM Coringa dentro de um carro com radiocomunicador mostra uma importante coincidência com as duas primeiras já conhecidas do militar travestido de palhaço: o policial também ostenta uma pulseira prata, no braço direito.
Um dos batalhões investigados como base do PM Coringa é o 37º, onde também atuavam os PMs Highlanders, assim chamados por executar pelo menos 12 jovens moradores do Jardim Ângela e decapitá-los, isso no ano de 2008.
Outro detalhe que serve para a Corregedoria descobrir a identidade do PM Coringa: ele circulava em um carro da PM modelo Palio Weekend e as rondas nesse tipo de veículo são feitas apenas por dois militares _um motorista e outro no banco passageiro. O autor das imagens é o parceiro de trabalho do PM travestido de palhaço.
Gestão Alckmin
Assim que soube das imagens do PM Coringa, o secretário da Segurança Pública da gestão de Geraldo Alckmin (PSDB), Mágino Alves Barbosa Filho, determinou que a Corregedoria da Polícia Militar apurasse o caso.
Barbosa Filho foi informado sobre a atuação do PM Coringa pelo Condepe (Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana), e garantiu não concordar com atitudes como as que são reveladas nas fotos.
A Polícia Militar informou, também após a divulgação das fotos, que “a instituição tomou conhecimento das imagens no dia 11 de julho e, imediatamente, a Corregedoria da PM abriu investigação, pois sugerem grave violação de direitos humanos”. A corporação afirmou, ainda, que, caso sejam confirmadas as irregularidades, os envolvidos poderão ser processados criminalmente e expulsos da Polícia Militar.