‘Eu me esforço para acreditar que não tenha sido homofobia’

    Policial Militar Leandro Prior, proibido de usar farda em pedido de casamento na Parada LGBT+, lamenta decisão da PM e cobra esclarecimentos; segundo a corporação, negativa se deve às regras de que policiais não usem uniforme em manifestações

    Em 2018, Prior foi alvo de ataques homofóbicos e ameças de morte após ser filmado beijando um homem | Foto: Arthur Stabile/Ponte Jornalismo

    Leandro Prior pretendia ir à Parada LGBT+ da mesma forma como na rotina do trabalho: vestindo a farda da Polícia Militar do Estado de São Paulo. Soldado, ele iria à Avenida Paulista para pedir o namorado em casamento. No entanto, a própria corporação, comandada pelo governador João Doria (PSDB), frustou o seu sonho ao negar o uso do uniforme.

    “Apesar deste revés tomado pela negativa de realizar um pedido de noivado a meu companheiro trajando de forma orgulhosa a honrosa farda da Polícia militar me esforço a acreditar que tal negativa não tenha sido motivada por homofobia”, diz Prior, em mensagem enviada à Ponte através de seu advogado.

    Ele protocolou a solicitação para usar o fardamento da polícia na tarde de quarta-feira (19/6). Usou como base para o pedido as “Revoltas de Stonewall“, manifestações da população LGBT+ em 1969 nos Estados Unidos, contra a tortura da comunidade por parte da Polícia de Nova York e que completam 50 anos em 2019. Destaca que o movimento iniciou a luta pelos direitos LGBT+.

    No período da noite, a corporação enviou a resposta negativa, argumentando que o regulamento interno impossibilita o uso da farda em manifestações. “Tenho orgulho de ser quem sou e orgulho de servir a população como membro desta corporação. No entanto, através dos meios legais iremos apurar tais fatos para que sejam esclarecidos e que se houver alguma tendência homofóbica seja extraída de uma vez por todas. Todos temos o direto de ser quem é”, complementou o policial.

    Em nota para a imprensa, a Polícia Militar usou como exemplo a realização da Marcha para Jesus, além da Parada LGBT+, entre os eventos que aconteceriam na capital paulista no domingo (23/6). Assim, o proibiu.

    A nota da polícia enviada à imprensa ainda sustenta que esses eventos “estimam atrair cerca de 5 milhões de pessoas, havendo necessidade de reforço no policiamento, bem como emprego de todo o efetivo disponível, e afim de se garantir a segurança de todos os participantes, está sendo empregado efetivo administrativo do CPA/M-1, com reforço do Comando da Capital e apoio do Comando de Policiamento de Choque”, diz a PM paulista, sem especificar se neste dia específico o soldado Leandro Prior está de serviço ou não.

    Nas redes sociais, o soldado publicou ao menos quatro fotos de policiais militares homens pedindo suas companheiras mulheres em casamento. Uma das fotos aparece com o logo da instituição, aparentando ter sido compartilhada nas redes sociais da própria PM. “Repitam comigo: não é regulamentar! Eles dizem. Detalhe para o logotipo oficial”, criticou o policial militar impedido de fazer o mesmo ato.

    Foto compartilhada por Prior em suas redes sociais em que um PM homem pede uma mulher em casamento usando a farda da corporação | Foto: Reprodução

    Em junho de 2018, Prior virou alvo de ataques homofóbicos após ser filmado dando beijos em um homem no metro de São Paulo. A reação foi a repreensão e o ódio. O governador do estado na época, Márcio França (PSB), declarou que a farda “deveria ser respeitada”.

    O sargento da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar) Renato Nobile chamou Leandro de “desgraçado, canalha safado. Desonra para a minha corporação. Esse tinha que morrer na pedrada!”, conforme publicou em seu perfil no Facebook – posteriormente, Nobile disse que a página havia sido hackeada

    Prior denunciou as ameaças à Ouvidoria da Polícia de São Paulo. “A PM vai ter que me engolir”, disse, em entrevista à Ponte logo após realizar a denúncia. “A máscara da homofobia da instituição caiu. Hoje ela mostra a sua verdadeira faceta, a do preconceito, do ódio, a da não aceitação”, criticou Prior.

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