Barracas foram desmontadas e 37 famílias deixaram o local depois de 101 dias de ocupação que começou com desabamento de prédio ao lado da praça
As 37 famílias que ainda estavam acampadas no Largo do Paissandu, no centro de São Paulo, concordaram em deixar o local nesta sexta-feira (10/8) depois de mais de 3 meses de negociação com a Prefeitura de São Paulo. A ocupação começou após o incêndio e desabamento do Edifício Wilton Paes de Almeida, a poucos metros do largo, no dia 1º de maio deste ano, que deixou quatro mortos. Inicialmente, o acampamento foi montado pelos sobreviventes da tragédia, bem em frente à Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos.
A ocupação do Paissandu chegou a ter 132 famílias e tinha por objetivo pressionar o poder público na direção de alguma solução: desde disponibilizar um novo local de moradia até o pagamento de auxílio-aluguel. Com o passar das semanas e um impasse difícil de se desenrolar, outros moradores de rua acabaram se unindo ao grupo vítima do desabamento, aumentando bastante o número de barracas e mesmo as demandas. Segundo a prefeitura, desde o desabamento, foram analisados casos de 435 famílias que se apresentaram como vítimas, sendo que apenas 291 comprovaram ser ex-moradores do Wilton Paes de Almeida e estão sendo atendidas.
O prefeito de São Paulo, Bruno Covas, avaliou, na manhã deste sábado (11/8), que o trabalho de negociação demorou mais do que o esperado, mas teve um desfecho positivo. “A gente conseguiu através do diálogo fazer com que as famílias deixassem o local. Levou um tempo um pouco mais do que deveria, mas não precisamos usar força policial, nada disso. As famílias que ainda estavam aqui ainda resistindo não conseguiram comprovar que era ex-moradores do prédio que desabou e, dessa forma, não tinha direito a auxílio”, explicou. Equipes da prefeitura ainda realizam trabalho de limpeza no local. “Entendemos que se não fosse a tragédia, não haveria a ocupação que aconteceu aqui. Vamos seguir com as atividades de zeladoria que já eram feitas aqui”, afirmou Covas.
A prefeitura estima que só na região central existam 4 mil moradores em situação de rua. As famílias remanescentes da ocupação foram encaminhadas para as 14,5 mil vagas da rede de assistência social (os albergues e casas de acolhimento), com estrutura para população em situação de rua e espaços adequados ao perfil familiar.
Ainda em nota, a prefeitura informa que vai reforçar as ações de zeladoria e limpeza no local, e critica a atitude das famílias durante a resistência no largo. “Por diversas vezes, impediram a lavagem do espaço o que gerou aumento da insalubridade da área e colocou em risco a saúde das famílias que insistem em permanecer no espaço público”, diz a nota oficial.
Durante os mais de três meses de ocupação, além de o número de barracas ter aumentado, os constantes embates com a prefeitura em busca de um acordo criaram uma área de constante tensão. E um dos primeiras foi justamente com relação ao asseio do local, reclamação corrente entre comerciantes. A alegação dos ocupantes é que o pedido de colocação de banheiros químicos não havia sido atendido por parte da administração municipal com o intuito de pressionar as famílias a deixarem o local. Em junho, por exemplo, quando a ocupação já durava 50 dias, a administração pública passou a alegar que precisaria limpar a área. Com medo de um possível despejo, os acampados impediram o acesso do serviço na área onde ficavam as barracas.
Em 7 de junho, uma outra tragédia se abateu na ocupação: a bebê de Jackeline Silva Moraes, 25 anos, grávida de 7 meses, morreu depois que a bolsa estourou e o atendimento demorou a chegar. Houve também um outro imbróglio, no final de junho, envolvendo um erro de grafia no nome de uma das beneficiárias do auxílio-aluguel no valor de R$ 400. Conforme mostrou reportagem da Ponte, a ausência de uma letra no registro do pedido de aluguel de Glivalda Conceição dos Santos fez com que a segunda parcela fosse bloqueada, impedindo que ela, o marido e o filho pequeno conseguissem dar conta de pagar para morar e fazendo com que tivessem que continuar no acampamento.
Ao mesmo tempo, foi um período de grande solidariedade. Mutirões de pessoas sensíveis à causa do direito à moradia na cidade de São Paulo passaram a se organizar para trazer donativos e comida para quem resistia na ocupação do largo, que, agora, teve seu fim.