Com rimas carregadas de revolta e denúncia, a artista desbancou cinco concorrentes na final, que aconteceu no boteco Humbalada, na zona sul
A poeta Cinthya Santos, conhecida como Kimani, vai representar o Grajaú no Slam SP deste ano, que acontece em novembro. Ela ganhou, na noite da última sexta-feira (13/10), a disputa com outros cinco vencedores de edições que aconteceram entre abril e setembro.
Com poesias carregadas de revolta, resistência e reivindicações, Kimani não perdeu nenhum décimo. Tirou nota dez dos cinco jurados, escolhidos aleatoriamente nas três baterias da final.
Durante as poesias, os nomes de Rafael Braga, do menino João Victor, de Luana Barbosa, entre outras vítimas do preconceito, foram lembrados pelos artistas e provocaram muitas vibrações das mais de 100 pessoas presentes. Houve ainda críticas às religiões cristãs, aos políticos – principalmente o atual governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e o deputado federal pelo PEN-RJ, Jair Bolsonaro – e denúncias contra o racismo, machismo, homofobia e desigualdade racial.
Além de Kimani, a disputa pela vaga no Slam SP contou com poesias de Cafuso, Kaya Matheus, Carol Peixoto, Aline Anaya e Bruna Mara. Aline e Bruna chegaram até a última bateria com Kimani.
A poeta vencedora diz ser “um pedacinho do Grajaú”, por isso está “feliz em representá-lo”. Kimani destaca que “não foi batalha o que aconteceu, foi uma vitória, por ter três manas pretas na final”.
A artista se junta a outros 25 campeões para disputarem a vaga paulista no Slam BR, que acontece em dezembro. Por sua vez, a disputa nacional garante vaga na Copa do Mundo de Poesia do ano que vem, na França.
O espaço
O palco da grande final do Slam Grajaú foi o Boteco Humbalada, que fica a poucos metros do Terminal Grajaú, periferia da zona sul de São Paulo, e recebe o Slam desde julho. O boteco tem como tema o respeito ao corpo das mulheres. O espaço é gerido pela companhia de teatro Humbalada.
Os próprios administradores do espaço, que trabalham atendendo aos clientes, usaram uma das pausas entre poesias e apresentaram uma peça teatral. Na performance, os artistas contaram sobre trabalhadores invisibilizados e denunciaram os tipos de emprego a que o povo pobre é submetido.
Antes do início da disputa da final, o Slam do Grajaú contou com apresentações de 15 artistas que recitaram poesias, cantaram ou dançaram. Teve ainda as intervenções poéticas do Grupo 011 e dos organizadores do slam (Luiz Semblantes, Ci Adorro, Leandro Mendes e Mayana Vieira).
A poeta Mayana também apresentou seu livro de poesias, “Motumbá”, desenvolvido em projeto junto com Sarau das Mina.