Governador Wilson Witzel afirmou que Giniton Lages está cansado e deve passar um tempo na Itália, onde poderá trocar experiência no combate à máfia e aplicar na segurança pública do RJ; fontes da DH confirmam ‘sim’ do delegado
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A segunda fase das investigações do assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes terá um novo comando na Polícia Civil do Rio de Janeiro. Segundo o governador do RJ, Wilson Witzel, a troca será pelo “cansaço” do delegado Giniton Lages, responsável por apontar o PM da reserva Ronnie Lessa e o ex-PM Elcio Vieira de Queiroz como autores do crime ocorrido em 14 de março de 2018.
Witzel nega que Lages esteja sendo afastado por alguma insatisfação com relação às investigações e explicou que as apurações que duraram um ano até chegarem nos autores desgastaram o delegado, que sairá em férias. Posteriormente, poderá realizar um intercâmbio entre a corporação e a polícia da Itália, com o objetivo de aprender procedimentos adotados contra a máfia local e adaptá-los à realidade carioca.
“Estamos com vários intercâmbios para fazer. Como ele [Giniton] está com a experiência adquirida e nós estamos com o intercâmbio com a Itália exatamente para estudar a máfia, os movimentos criminosos, ele vai fazer essa troca de experiência com a polícia italiana. Ontem (terça-feira, 12 de março) fiz o convite a ele, se ele poderia ser esse elemento de ligação”, explicou o governador.
Fontes ligadas à DH (Divisão de Homicídios) da Polícia Civil do RJ, liderada por Lages, confirmam à Ponte que ele aceitou o convite feito pelo governo. Extraoficialmente, pessoas ligadas à Polícia Civil do Rio de Janeiro apontam que a saída é para promover a efetiva troca geral de comandos dentro das divisões da corporação, o que não foi possível na DH em meio às investigações do Caso Marielle.
Já informações do jornal O Dia creditam a saída de Giniton da delegacia por uma insatisfação de seus superiores dentro da Polícia Civil. O entendimento é de que Lages não repassou informações dos processos de apuração feitos sobre a execução de Marielle e Anderson, como uma reconstituição ocorrida em 26 de fevereiro. Daniel Rosa, atualmente na DH da Baixada Fluminense, ocupará a vaga, ainda segundo O Dia.
O delegado esteve na DH durante a manhã desta quarta-feira (13/3), um dia antes do crime completar um ano. Ele não prestou esclarecimentos para a imprensa nem sobre o convite feito por Witzel, nem sobre a suposta insatisfação de seus superiores.
Integrantes do Psol criticam o apontamento tanto da Polícia Civil quanto do MP de que a ação teria sido motivada por “ódio”, conforme dito em entrevista coletiva nesta terça-feira (12/3), à figura de Marielle Franco. Membros do próprio MP questionam a tese do crime de ódio, afirmando que seria muito “amadorismo” um matador profissional agir com raiva.
Rumos da Investigação
A Polícia Civil e o Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) do MPRJ (Ministério Público Estadual do RJ) prenderam o sargento reformado da Polícia Militar Ronnie Lessa e o ex-PM Élcio Vieira de Queiroz, ambos acusados de participarem da execução de Marielle e Anderson. Lessa teria atirado com uma submetralhadora, enquanto Queiroz dirigia o carro. Agora, a Civil e o Gaeco investigam quem ordenou o assassinado de Marielle nesta segunda etapa.
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Os dois permanecem presos preventiva na própria DH do Rio de Janeiro. Lessa foi preso em sua cassa em um condomínio rico na Barra da Tijuca, mesmo local no qual o presidente Jair Bolsonaro possui uma residência. Segundo Giniton, o filho mais novo de Bolsonaro teria namorado uma filha de Ronnie, informação que, segundo ele, é irrelevante para as investigações do Caso Marielle.
O PM da reserva Ronnie confessou ter sido avisado de que seria preso, motivo pelo qual a DH e o Gaeco anteciparam a operação que o prendeu. Tanto ele quanto Élcio, preso em sua casa, no Engenho de Dentro, zona norte da capital fluminense, não resistiram à prisão.
Além deles, Alexandre Mota de Souza também está preso ao ter 117 fuzis encontrados em sua casa – a maior apreensão deste tipo de arma na história da corporação fluminense. A vistoria é parte das 32 ações cumpridas de busca e apreensão, divididas entre terça (12/3) e quarta-feira (13/3). A Polícia Civil interrogou Alexandre e Ronnie sobre as armas, que seriam de posse do PM. Eles passarão por audiência de custódia nesta quinta-feira (14/3) com o juiz, que vai decidir se eles devem ir presos preventivamente pela acusação de posse de armamento de uso exclusivo.
Após a audiência, ambos retornam para a DH e, só aí, Lessa será interrogado em relação ao assassinato de Marielle e Anderson Gomes, do qual é acusado formalmente pelo MP. Sua defesa nega participação e descarta delação premiada, dispositivo que o governador Wilson Witzel por conta própria afirmou que poderia ser realizado. “[Meu cliente] nega de forma veemente ter feito o crime e, por isso, é impossível confessar algo que não fez”, alegou o advogado, Fernando Santana.
O mesmo acontece com a defesa de Elcio Queiroz. De acordo com o advogado Luís Carlos Azenha, o cliente “não deve nada e não tem nada a delatar” e que delação premiada é para “criminoso confesso que está querendo algum benefício, como redução de pena. Meu cliente não, não há a menor hipótese de fazer delação”.