Governo do RJ vai mandar delegado que investigou caso Marielle para Itália

    Governador Wilson Witzel afirmou que Giniton Lages está cansado e deve passar um tempo na Itália, onde poderá trocar experiência no combate à máfia e aplicar na segurança pública do RJ; fontes da DH confirmam ‘sim’ do delegado

    Giniton Lajes (à dir.) será enviado para intercâmbio na Itália, segundo governador | Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil

    A segunda fase das investigações do assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes terá um novo comando na Polícia Civil do Rio de Janeiro. Segundo o governador do RJ, Wilson Witzel, a troca será pelo “cansaço” do delegado Giniton Lages, responsável por apontar o PM da reserva Ronnie Lessa e o ex-PM Elcio Vieira de Queiroz como autores do crime ocorrido em 14 de março de 2018.

    Witzel nega que Lages esteja sendo afastado por alguma insatisfação com relação às investigações e explicou que as apurações que duraram um ano até chegarem nos autores desgastaram o delegado, que sairá em férias. Posteriormente, poderá realizar um intercâmbio entre a corporação e a polícia da Itália, com o objetivo de aprender procedimentos adotados contra a máfia local e adaptá-los à realidade carioca.

    “Estamos com vários intercâmbios para fazer. Como ele [Giniton] está com a experiência adquirida e nós estamos com o intercâmbio com a Itália exatamente para estudar a máfia, os movimentos criminosos, ele vai fazer essa troca de experiência com a polícia italiana. Ontem (terça-feira, 12 de março) fiz o convite a ele, se ele poderia ser esse elemento de ligação”, explicou o governador.

    Fontes ligadas à DH (Divisão de Homicídios) da Polícia Civil do RJ, liderada por Lages, confirmam à Ponte que ele aceitou o convite feito pelo governo. Extraoficialmente, pessoas ligadas à Polícia Civil do Rio de Janeiro apontam que a saída é para promover a efetiva troca geral de comandos dentro das divisões da corporação, o que não foi possível na DH em meio às investigações do Caso Marielle.

    Já informações do jornal O Dia creditam a saída de Giniton da delegacia por uma insatisfação de seus superiores dentro da Polícia Civil. O entendimento é de que Lages não repassou informações dos processos de apuração feitos sobre a execução de Marielle e Anderson, como uma reconstituição ocorrida em 26 de fevereiro. Daniel Rosa, atualmente na DH da Baixada Fluminense, ocupará a vaga, ainda segundo O Dia.

    O delegado esteve na DH durante a manhã desta quarta-feira (13/3), um dia antes do crime completar um ano. Ele não prestou esclarecimentos para a imprensa nem sobre o convite feito por Witzel, nem sobre a suposta insatisfação de seus superiores.

    Integrantes do Psol criticam o apontamento tanto da Polícia Civil quanto do MP de que a ação teria sido motivada por “ódio”, conforme dito em entrevista coletiva nesta terça-feira (12/3), à figura de Marielle Franco. Membros do próprio MP questionam a tese do crime de ódio, afirmando que seria muito “amadorismo” um matador profissional agir com raiva.

    Rumos da Investigação

    A Polícia Civil e o Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) do MPRJ (Ministério Público Estadual do RJ) prenderam o sargento reformado da Polícia Militar Ronnie Lessa e o ex-PM Élcio Vieira de Queiroz, ambos acusados de participarem da execução de Marielle e Anderson. Lessa teria atirado com uma submetralhadora, enquanto Queiroz dirigia o carro. Agora, a Civil e o Gaeco investigam quem ordenou o assassinado de Marielle nesta segunda etapa.

    Fuzis apreendidos na casa de Alexandre Mota de Souza, que seriam de posse de Ronnie, segundo a Polícia Civil | Foto: Divulgação

    Os dois permanecem presos preventiva na própria DH do Rio de Janeiro. Lessa foi preso em sua cassa em um condomínio rico na Barra da Tijuca, mesmo local no qual o presidente Jair Bolsonaro possui uma residência. Segundo Giniton, o filho mais novo de Bolsonaro teria namorado uma filha de Ronnie, informação que, segundo ele, é irrelevante para as investigações do Caso Marielle.

    O PM da reserva Ronnie confessou ter sido avisado de que seria preso, motivo pelo qual a DH e o Gaeco anteciparam a operação que o prendeu. Tanto ele quanto Élcio, preso em sua casa, no Engenho de Dentro, zona norte da capital fluminense, não resistiram à prisão.

    Além deles, Alexandre Mota de Souza também está preso ao ter 117 fuzis encontrados em sua casa – a maior apreensão deste tipo de arma na história da corporação fluminense. A vistoria é parte das 32 ações cumpridas de busca e apreensão, divididas entre terça (12/3) e quarta-feira (13/3). A Polícia Civil interrogou Alexandre e Ronnie sobre as armas, que seriam de posse do PM. Eles passarão por audiência de custódia nesta quinta-feira (14/3) com o juiz, que vai decidir se eles devem ir presos preventivamente pela acusação de posse de armamento de uso exclusivo.

    Após a audiência, ambos retornam para a DH e, só aí, Lessa será interrogado em relação ao assassinato de Marielle e Anderson Gomes, do qual é acusado formalmente pelo MP. Sua defesa nega participação e descarta delação premiada, dispositivo que o governador Wilson Witzel por conta própria afirmou que poderia ser realizado. “[Meu cliente] nega de forma veemente ter feito o crime e, por isso, é impossível confessar algo que não fez”, alegou o advogado, Fernando Santana.

    O mesmo acontece com a defesa de Elcio Queiroz. De acordo com o advogado Luís Carlos Azenha, o cliente “não deve nada e não tem nada a delatar” e que delação premiada é para “criminoso confesso que está querendo algum benefício, como redução de pena. Meu cliente não, não há a menor hipótese de fazer delação”.

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