Juliano BigBoss: ‘Emicida, Rashid, Flora e Ogi abriram o leque para que eu prestasse mais atenção no rap nacional’

Convidado do oitavo episódio do Papo de Rap, o podcaster Juliano BigBoss compartilhou seus conhecimentos sobre rap internacional e nacional e contou sua trajetória até se tornar manager do rapper Coruja BC1

O Papo de Rap da última quarta-feira (7/7) fez uma viagem no tempo para falar como a cena do rap se transformou ao longo dos anos e o que se tornou referência nacional e internacional. O editor de Ponte, Amauri Gonzo, recebeu Juliano BigBoss, um dos grandes conhecedores e admiradores do hip hop no Brasil. A primeira entrevista concedida por BigBoss foi transmitida no canal da Ponte no Youtube.

BigBoss não só acompanha o rap, como também dedicou sua carreira profissional ao gênero. Atualmente, ele apresenta o podcast Rap Cru, ao lado de Ronald Rios e Rodrigo Ogi, é seletor musical do podcast Frequência Modulada e é manager do rapper Coruja BC1.

Influenciado pela black music na adolescência, BigBoss contou durante a conversa que o rap chamou sua atenção na década de 90. Nos filmes, o podcaster pode conhecer o norte-americano Tupac Shakur, que além de ator também ficou conhecido como um dos principais rappers da história, e as músicas do disco “Enter the Wu-Tang (36 Chambers)” lançado pelo grupo Wu-Tang Clan.

Leia também: GOG conecta Brasília e diáspora africana para falar de seus 30 anos de hip hop

Assim, a relação dele com a cultura hip hop nasceu primeiro com rap internacional, explorando os discos na Galeria Presidente. “Morava em Itaquera e ia para o centro [de São Paulo] ouvir disco de rap. Eu via o Sabotage direto, pois ele passava em várias lojas”, relembra.

De ouvinte a atuante na cultura hip hop

Nas idas e vindas do centro, Juliano BigBoss foi se tornando um especialista no universo do rap. Aos poucos, ele conheceu e fez amizades com rappers e produtores da área. “Comecei minha saga no hip hop com a questão da imprensa. Conheci Emicida e essa galera toda na época das batalhas.” Em 2003, BigBoss passou a contribuir em um blog escrevendo notas sobre a cena do hip hop, depois escreveu no Rap Evolução e cobriu eventos como o Black na Cena em 2011, uma das noites mais memoráveis pare ele, quando conheceu rappers internacionais como Redman e Method Man.

O podcaster ouvia as rimas favoritas nos discos e nas fitas cassete e ainda hoje tem todo o acervo guardado em casa. Com o avanço da música digital, BigBoss buscou músicas e clipes em arquivos de MP3 e relembrou um dos primeiros arquivos baixados: “Get Rich or Die Tryin‘” de 50 Cent.

A evolução do rap sempre esteve no radar de Juliano BigBoss. Acompanhando cada geração do gênero desde a década de 90, ele também frequentou as batalhas de rap que aconteciam na zona leste e no centro de São Paulo e conviveu com os rappers brasileiros ainda no começo da carreira. “Muita gente falava ‘esses caras do Freestyle [rimas de improviso], não sabe fazer música’. E olha onde os caras estão hoje. Emicida, Kamau, Rashid e o Projota, estão aí”, diz BigBoss sobre os grandes rappers atuais.

Leia também: Alexandre de Maio: ‘o rap, hoje, tem a voz que a gente construiu e batalhou para ter’

Nesse período, BigBoss mergulhou na cena do rap nacional e conheceu o rapper Coruja BC1 quando foi fazer uma entrevista com ele. Hoje, já são quase 10 anos administrando a carreira do artista que nasceu na periferia de Osasco e se tornou um dos grandes nomes do hip hop brasileiro. Ele conta que ouvia sempre Sabotage e Racionais MC’s, mas a geração dos rappers Kamau e Parteum foram as que mais o marcaram pessoalmente.

“Eu vejo muito essa transição que o rap nacional teve, com Kamau e outros, parecida com o que teve no começo dos anos 90 com o Native Tongues, que vieram falando de outra coisa”, compara. “Emicida, Rashid, Flora e o próprio Ogi abriram o leque para que eu prestasse mais atenção no rap nacional”, explica BigBoss recordando as batalhas de rap no começo dos anos 2000.

Mais recentemente, ele foi convidado a participar da organização da Discopédia, uma festa que valoriza o uso do vinil, e acabou se tornando podcaster no Rap Cru, um programa dedicado aos amantes da cultura hip hop.

História e estatísticas do rap

Entre os diferentes beats do rap, o preferido de Juliano BigBoss é o clássico boom bap que repercutiu a partir do fim dos anos 80, na era de ouro do gênero. Anos depois, foi a vez do trap ganhar mais notoriedade a partir dos anos 2000. “Não dá para falar de trap sem mencionar T.I.”, destaca BigBoss, sobre um dos pioneiros do trap. Entre eles, Rick Ross e Young Jeezy também não faltam na playlist do podcaster.

BigBoss também contou na live que estuda a história de grupos de rap e como surgiram. Em uma dessas pesquisas, ele contou a quantidade de vezes que um rapper fez músicas em parcerias. “Snoop Dogg é o que tem mais, fez 583, e Lil Wayne vem em segundo, com 430 [feats]”, revela. O editor da Ponte também lembrou na conversa que muitos rappers têm suas obras póstumas publicadas, como no caso de Tupac, em que boa parte do que foi produzido pelo artista só foi a público depois de seu assassinato em 1996 aos 25 anos.

Sobre os próximos projetos, BigBoss adiantou alguns detalhes do que está para lançar com o rapper Coruja BC1: “Estamos trabalhando muito. O disco do Coruja sai esse ano ainda, se chama Brasil Futurista e está bem diferente do que o pessoal costuma a ver dele. Ele tem experimentado outras coisas, está mais maduro”.

Apoie a Ponte!

Como criador de conteúdo, Juliano tem feito uma série de vídeos no próprio Instagram sobre grandes gravadoras e os bastidores do rap. “Contei a história da Death Row Records, como surgiu, falei também da Ruff Ryders. Conto algumas histórias e falo de algumas brigas entre artistas”, diz BigBoss.

Já que Tamo junto até aqui…

Que tal entrar de vez para o time da Ponte? Você sabe que o nosso trabalho incomoda muita gente. Não por acaso, somos vítimas constantes de ataques, que já até colocaram o nosso site fora do ar. Justamente por isso nunca fez tanto sentido pedir ajuda para quem tá junto, pra quem defende a Ponte e a luta por justiça: você.

Com o Tamo Junto, você ajuda a manter a Ponte de pé com uma contribuição mensal ou anual. Também passa a participar ativamente do dia a dia do jornal, com acesso aos bastidores da nossa redação e matérias como a que você acabou de ler. Acesse: ponte.colabore.com/tamojunto.

Todo jornalismo tem um lado. Ajude quem está do seu.

Ajude

mais lidas