Justiça de SP liberta MC Kawex, rapper preso por uma condenação de desacato

    Grupo de doadores anônimos pagou a multa de 1 salário mínimo e juiz determinou a soltura imediata de Antonio Carlos do Nascimento, o MC Kawex, preso desde domingo quando se apresentar em um teatro da zona oeste de SP

    O rapper Kawex, o Sabotage da Cracolândia, durante apresentação na Luz, em SP | Foto: Leandro HBL

    Antonio Carlos do Nascimento, o MC Kawex, teve a liberdade concedida, nesta sexta-feira (24/5), e não deve mais nada à Justiça de São Paulo. A decisão do juiz Ulisses Augusto Pascolati Junior determinou “com urgência, alvará de soltura”, considerando que o pagamento da multa de 1 salário mínimo referente a uma condenação de 2014 foi paga. “Defiro a reconversão da pena privativa de liberdade em pena restritiva de direitos e, tendo em vista seu integral cumprimento, julgo-a extinta”, escreveu.

    A multa foi paga por pessoas que não querem se identificar, mas que souberam do caso e se solidarizaram.

    O rapper foi preso durante uma abordagem da PM no domingo (19/5), quando estava com outras 4 pessoas indo para o Teatro Cacilda Becker, na Lapa, zona oeste de São Paulo, para participar do espetáculo “Dr. Palhaço e o fluxo”, concebido pelo médico-palhaço Flavio Falcone com direção de Diogo Granato. Na abordagem, foi descoberto que Kawex tinha uma condenação por desacato a autoridade de 2014, quando foi impedir que policiais entrassem em um hotel da região da Luz sem mandado, e que teria que ter pago uma multa no valor de um salário mínimo para não ser preso.

    Falcone, que tem trajetória de 7 anos trabalhando com redução de danos na região da Luz, conhecida como Cracolândia por causa do comércio e uso de drogas, no centro de São Paulo, e criou a peça para contar dessa experiência e para mostrar os talentos escondidos no abandono da região.

    Kawex demonstrou seu talento durante uma atividade criada por Falcone, quando ainda atuava em programas governamentais na Cracolândia: uma rádio. Nesse momento, percebeu que, muito mais que a figura do palhaço ou os signos do circo, os moradores de lá se identificavam com a linguagem do rap. O psiquiatra-palhaço então criou uma peça e convidou Kawex e outros rappers da região para compor, juntos, a história e poderem mostrar ao público suas rimas.

    No dia em que foi preso, aconteceria a terceira sessão da temporada da peça, que vai até a primeira semana de junho. O médico Flavio Falcone ficou indignado com a situação. “Como uma pessoa que mora na rua vai ter dinheiro para pagar um salário mínimo de multa? É a criminalização da pobreza”, desabafou.

    Falcone relatou que no dia da prisão, as informações foram desencontradas: os policiais não disseram o motivo da prisão, apenas que ele constava como “procurado” e não informaram para onde Kawex estava sendo levado. “Só conseguimos saber dele na terça-feira, quase dois dias depois”, disse.

    A confusão de informações continuou depois que a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo (SAP-SP) confirmou a transferência dele do 77º DP, onde havia ficado preso, para uma unidade prisional do interior. Na nota enviada à Ponte, a pasta confirmava a informação, mas não dizia qual era o presídio.

    A primeira informação que amigos e defensores que acompanhavam a história de Kawex é que ele teria ido para Bragança Paulista, interior de São Paulo. Munido da decisão judicial, uma pessoa que estava ajudando no processo de liberdade do rapper entrou em contato por telefone com a unidade prisional informada, mas soube que Kawex, na verdade, tinha ido para o Centro de Progressão Penitenciária de Hortolândia, também no interior do estado.

    O alvará de soltura já foi expedido. A unidade prisional providenciará a ida de Kawex até a rodoviária de Campinas, onde ele deve apresentar o documento e embarcar em um ônibus até São Paulo, chegando na Rodoviária do Tietê. “Eu deixei 20 reais com ele quando ele foi preso, se ele tiver o dinheiro ainda, consegue vir do Tietê para o fluxo. Assim espero”, conta Falcone, que se diz aliviado.

    Já que Tamo junto até aqui…

    Que tal entrar de vez para o time da Ponte? Você sabe que o nosso trabalho incomoda muita gente. Não por acaso, somos vítimas constantes de ataques, que já até colocaram o nosso site fora do ar. Justamente por isso nunca fez tanto sentido pedir ajuda para quem tá junto, pra quem defende a Ponte e a luta por justiça: você.

    Com o Tamo Junto, você ajuda a manter a Ponte de pé com uma contribuição mensal ou anual. Também passa a participar ativamente do dia a dia do jornal, com acesso aos bastidores da nossa redação e matérias como a que você acabou de ler. Acesse: ponte.colabore.com/tamojunto.

    Todo jornalismo tem um lado. Ajude quem está do seu.

    Ajude
    3 Comentários
    Mais antigo
    Mais recente Mais votado
    Inline Feedbacks
    Ver todos os comentários
    trackback

    […] quando foi preso pelo não pagamento de uma multa num caso antigo de desacato. Segundo a Ponte Jornalismo, o rapper foi condenado em 2014 por tentar impedir que policiais entrassem sem mandado (ou seja, […]

    trackback

    […] quando foi preso pelo não pagamento de uma multa num caso antigo de desacato. Segundo a Ponte Jornalismo, o rapper foi condenado em 2014 por tentar impedir que policiais entrassem sem mandado (ou seja, […]

    trackback

    […] atuaria quando foi preso pelo não pagamento de uma multa num caso antigo de desacato. Segundo a Ponte Jornalismo, o rapper foi condenado em 2014 por tentar impedir que policiais entrassem sem mandado (ou seja, […]

    mais lidas