No quarto episódio de Papo de Rap, série de lives da Ponte, o apresentador e youtuber contou sobre suas referências para falar da ligação do hip hop com o universo dos quadrinhos
Ouvinte do rap nacional desde criança por influência do pai, Load cantava com os colegas na escola os versos de “Diário de Um Detento” e “Vida Loka pt. II”, músicas dos Racionais MCs. Já na adolescência, ele começou a se interessar pelos gibis, o universo dos quadrinhos e dos super-heróis. Hoje, Load é apresentador do site Omelete e dono de um canal no Youtube para falar das conexões entre as HQs e a cultura hip hop. Ele foi o convidado do Papo de Rap desta quarta-feira (04/02), série de lives da Ponte comandada pelo editor Amauri Gonzo.
A ideia de criar um canal em 2012 para falar de HQs veio pela falta de amigos na comunidade que se interessavam por essa leitura. “Nunca foi nada planejado. Eu trabalhava em metalúrgica e fazia grafite, gastava R$ 200 por mês comprando tinta e só gravava vídeo de quadrinhos para manter uma coleção. Percebi que dava para trabalhar com isso”. Morador de Guaianases, periferia da zona leste de São Paulo, Load não imaginava que um dia poderia ser apresentador e sempre teve como referência os seus pais.
Mas, não demorou muito para o seu canal despontar como um dos principais sobre cultura geek no YouTube. Inspirado pelos shows de rap, investiu em fazer palestras em casas culturais e acabou introduzindo aos poucos a cultura hip hop nos assuntos do seu canal. “Comecei a fazer vídeos sobre grafite, mostrava meu dia a dia grafitando, mas recebi várias ameaças. Quando fiz um vídeo com o Emicida, sobre [a HQ] Hip Hop Genealogia, parte da galera não gostou também”.
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Mesmo assim, Load entendeu que o seu diferencial seria apresentar e explicar a ligação entre as duas culturas, e que o Brasil ainda era um país que pouco abordava essa intersecção. Inspirado pelos rappers Ogi, Emicida, Rashid, Black Alien, Parteum – alguns chegaram a participar da CCXP, maior evento de cultura pop do Brasil – o Load percebeu a oportunidade de falar com quem não só ouvia o rap como também consumia os quadrinhos e estava na periferia.
O apresentador conta que se orgulha muito de um projeto pelo qual foi convidado a participar, a construção do livro comemorativo dos 10 anos da primeira mixtape de Emicida, Pra Quem Já Mordeu um Cachorro por Comida, até que Eu Cheguei Longe. “Fiz uma lista de 25 quadrinistas nacionais que me inspiraram e que eu achava que tinham a ver com as músicas dele, e mandei pra ele aprovar”, conta. Além disso, Load também foi convidado a escrever no livro sobre suas impressões em relação à mixtape, que o marcou bastante na juventude.
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Rap em quadrinhos
Mergulhado na cultura hip hop e no universo dos quadrinhos, Load contou na live sobre uma iniciativa de homenagear artistas que estavam inseridos nessas áreas. O “Rap em Quadrinhos” nasceu da ideia do Load e das ilustrações do designer Wagner Loud, para transformar artistas da cultura hip hop em super-heróis. “A gente ia mudar totalmente a etnia dos personagens, íamos dar um background nesses personagens de por que tal artista é tal herói, não só ilustrar por ilustrar. Fizemos a primeira parte com 20 artistas”. O Load ficou responsável por pensar nas características dos personagens das histórias em quadrinhos de editoras como Marvel e DC Comics e na representatividade de cada artista do hip hop.
Ele explica qual foi a linha de pensamento para definir que o Emicida seria ilustrado como Homem-Aranha: “Eu comecei a pensar no que o Miles [personagem da Marvel, segundo Homem-Aranha a aparecer em Ultimate Marvel] tem que o Emicida têm em comum. Os dois quando surgiram, o Emicida surgiu no rap e o Miles nos quadrinhos, a galera virou a cara, porque era a ‘nova geração do rap’ e ninguém queria saber dizendo que não era rap, e ao mesmo tempo, o Miles foi a mesma coisa, porque diziam que ele não era o Homem-Aranha por ser negro. E hoje, o Emicida é bem sucedido na carreira dele e o Miles Morales está ganhando filme, jogo”
O “Rap em Quadrinhos” lançou, nos traços do Loud, a cantora Negra Li como Tempestade, o rapper Sabotage como Dr. Manhattan, Mano Brown como Pantera Negra, Drik Barbosa como Riri Williams e Black Alien como Dr. Estranho. Load conta que o projeto começou a segunda temporada e que serão lançadas camisetas oficiais do projeto em breve.
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O apresentador fala no desejo de levar cada vez mais o seu trabalho de “pegar os conteúdos de alguns raps nacionais que temos, para mostrar a real importância de álbuns e artistas que nós temos, valorizar os artistas enquanto eles ainda estão vivos”. “Na CCXP, e todos esses eventos [de cultura pop] a gente vai ver a periferia invadindo cada vez mais”, afirma.
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