Amigos e familiares do adolescente foram às ruas do bairro onde ele foi assassinado em novembro de 2017. PM que o matou será julgado em 2022
“Por que se foi, irmão? Quanta saudade vai deixar aqui. Não entendi por que teve que partir. Será que Deus está precisando de ti?”. Foi com esse funk do MC Roger que amigos e familiares de Luan Gabriel Nogueira de Souza foram para as ruas do Parque João Ramalho, em Santo André (Grande SP), na tarde deste domingo (7/11), para homenagear o menino morto pela Polícia Militar do Estado de São Paulo em 5 de novembro de 2017, quando tinha apenas 14 anos.
Luan morreu em uma tarde de domingo, próximo da casa onde morava com a família. Ele levou um tiro na nuca enquanto ia ao mercado para comprar bolacha. “Até hoje eu fico pensando o que poderia ter feito, se podia ter pedido para ele não comprar a bolacha ou ir em outro lugar”, diz Maria Medina Costa Ribeiro, 47 anos, mãe do menino. O julgamento no tribunal do júri do PM que o matou, Alécio José de Souza, está previsto para março de 2022. Alécio alega que confundiu o menino com ladrões de motos.
A homenagem deste domingo começou em frente à viela onde a família morava e aconteceu o crime. Os participantes caminharam até a igreja da paróquia São João Batista, no mesmo bairro. Amigos e familiares vestiam camisetas brancas, a maioria com o rosto de Luan estampado, e carregavam bexigas da mesma cor. Uma faixa dizendo que o garoto segue presente abriu a caminhada.
“Ele nunca vai ser esquecido. Nem por mim, nem pelos amigos. E sei que, se as mães lutarem, pedirem por justiça como eu, nós vamos fazer eles pensarem duas vezes antes de matar uma pessoa”, disse Maria.
Para o padrasto de Luan, William Xavier de Oliveira, 36, a homenagem é também uma das demonstrações de que o menino não será esquecido e que os pedidos por justiça seguem com força. Além disso, mostra como a mãe nunca deixou de sofrer pela morte do filho.
“Desde que aconteceu, ela se transformou em uma outra pessoa. Não tem uma semana que ela passe sem falar dele, sem chorar. Em datas comemorativas, a dor é ainda maior. E não importa quanto tempo passar, nada vai apagar esse sofrimento”, afirma Oliveira. Ele está com a mãe de Luan desde quando o menino tinha sete anos.
A empresária Marcelly Fernandes Rocha, 17, amiga de Luan, ressalta que, mesmo se o autor do crime for punido, a dor e as homenagens ao menino devem continuar. “Pode até ter a condenação do policial, mas nada vai diminuir a dor, ou apagar o que sentimos. Ele sempre será muito especial para nós”, afirma.
O julgamento de Alécio José de Souza, policial militar acusado de matar Luan, vai acontecer em 29 de março do ano que vem. O julgamento será presidido pela juíza Milena Dias, no Fórum de Santo André. A família espera ver, finalmente, Alécio preso. “Estou muito ansiosa para a audiência porque quero ver a justiça sendo feita”, disse a mãe.
Na época do crime, a Polícia Militar disse que foi ao local do crime para verificar suposto furto de motocicleta na região, e o policial disse que atirou em Luan para se defender.
Um ano depois da morte de Luan, em novembro de 2018, duas testemunhas do crime foram baleadas por policiais militares à paisana. Das vítimas, Rodrigo Nascimento de Santana, 16 anos, que era amigo do menino assassinado, não resistiu e morreu.
Nesse caso, a polícia alegou que os jovens estavam envolvidos em um suposto roubo de motocicleta. O PM Antônio Noronha Barboza, de folga e sem farda, teria visto os adolescentes praticando roubo, interveio e baleou os dois.
Familiares de Rodrigo relataram que o jovem sofria ameaças da polícia desde quando presenciou o amigo sendo morto, e disse que o adolescente era inocente.
Em 2019, a investigação sobre o ataque que matou Rodrigo e deixou outro jovem ferido foi arquivada pela Polícia Civil.