Mães de Maio conquistam monumento em praça de Santos (SP)

    Após vetar projeto de lei que criava mausoléu para as vítimas dos Crimes de Maio de 2006, maior violência policial da história brasileira, prefeito Rogério Santos se comprometeu a construir monumento

    “A gente queria um memorial aqui onde os meninos nasceram, para dar vida a essa praça”, saudou a militante de direitos humanos Débora Maria da Silva, uma das fundadoras do grupo Mães de Maio, durante visita realizada pelo prefeito Rogério Santos (PSDB) à Praça Professor Domingos Aulicínio, no bairro santista do Bom Retiro, na última quinta-feira (12/8). Ali, o prefeito prometeu erguer um monumento, atentendo a um antigo pedido das Mães.

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    O prefeito havia vetado a proposta original, de construir um mausoléu para as vítimas dos Crimes de Maio de 2006 — o maior episódio de violência policial da história brasileira, quando grupos de extermínio formados por policiais mataram 505 pessoas no estado de São Paulo, numa retaliação contra pessoas negras e periféricas por conta de ataques do PCC (Primeiro Comando da Capital), que mataram 59 agentes públicos.

    Prefeito Rogério Santos (ao centro) com Débora Maria da Silva (à esquerda) | Foto: Ailton Martins/Ponte

    A proposta do mausoléu constava de um projeto de lei proposto no ano passado pelo vereador Francisco José Nogueira da Silva (PT), que previa a instalação do monumento fúnebre no cemitério da cidade, para onde seriam “trasladados os restos mortais de todos os jovens que foram assassinados entre 12 e 21 de maio de 2006, no Município de Santos”.

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    O projeto foi aprovado em maio deste ano pela Câmara Municipal, mas o prefeito Santos decidiu vetá-lo, alegando que o projeto era inconstitucional por aumentar as despesas do Executivo. Apesar do veto, o prefeito concordou em realizar uma homenagem, agora na forma de um monumento em um praça de Santos. As Mães pedem que o monumento faça uma homenagem à memória dos jovens assassinados em maio de 2006.

    Durante a visita à praça, Débora agradeceu a iniciativa: “Essa reparação é como se ressuscitasse um pouco da autoestima das mães”. Mas lembrou que a luta por justiça está longe de terminar: “As mortes continuam, não podemos aceitar isso, esse sangue que escorre, essas mães adoecidas, por falta de justiça, de reconhecimento do Estado. Nossos filhos não eram bandidos, trabalhavam, tinham nome, RG, família”.

    As Mães de Maio Nair Torres, Débora Maria da Silva e Ilza Maria | Foto: Ailton Martins/Ponte

    A Mãe de Maio também fez questão de lembrar a necessidade de cuidar dos restos mortais dos jovens — entres eles, o filho de Débora, o gari Edson Rogério Silva dos Santos. “Também se deve preocupar com o cemitério onde estão as ossadas deles. Não se pode colocar uma pedra. Onde estão as ossadas dos meninos é preciso fazer uma exumação e colocar numa urna para conservar, porque a OEA (Organização dos Estados Americanos) vai condenar o Brasil”, disse.

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    No início do mês, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA acatou uma petição da Defensoria Pública do Estado de São Paulo sobre 9 vítimas dos Crimes de Maio assassinadas em Santos. Na contramão desse avanço internacional, a Procuradoria-Geral da República, pouco depois, arquivou um pedido de federalização das investigações sobre as mortes de 12 pessoas na Baixada Santista em maio de 2006.

    Artista plástico Luiz Garcia Jorge mostra maquete do monumento | Foto: Ailton Martins/Ponte

    Durante a cerimônia de apresentação do projeto na praça, o artista plástico responsável pela obra, Luiz Garcia Jorge, apresentou a maquete do monumento, que mostra silhuetas humanas em roda segurando flores. Segundo o site da prefeitura, a obra custará R$ 48 mil, “recursos provenientes de emenda parlamentar”.

    O monumento, construído em fibra de vidro, terá dois metros e meio de altura e seis metros de diâmetro, instalado sobre uma plataforma circular de frente à Avenida Jovino de Melo. Tudo foi realizado segundo as orientações das Mães, conforme o artista explicou: “Foi em conjunto. A Débora me deu as diretrizes e eu criei. Esse trabalho foi uma satisfação enorme para mim. Senti algo diferente”.

    Visita à praça onde monumento deve ser construído | Foto: Ailton Martins/Ponte

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