“Medida que visa coagir os juízes”, diz Ivan Sartori sobre reclamação no CNJ

    Ponte questionou quais são órgãos de imprensa e de direitos humanos que Sartori disse serem financiados pelo crime e se ele vê como constitucional anular decisão de júri popular. Sobre isso, desembargador não falou

    Desembargador Ivan Sartori é condecorado (Foto: Reprodução/Facebook)
    Desembargador Ivan Sartori é condecorado (Foto: Reprodução/Facebook)

    Entidades e personalidades ligadas à defesa dos Direitos Humanos no Brasil apresentaram, nesta terça-feira (18), uma reclamação disciplinar contra o desembargador Ivan Ricardo Garisio Sartori, do TJ-SP (Tribunal de Justiça de São Paulo). O magistrado foi o relator do processo que anulou os julgamentos do Massacre do Carandiru. Em seu voto, ele afirmou que “aqueles que entregaram suas armas, saíram ilesos”. O documento foi encaminhado à presidente do CNJ (Conselho Nacional de Justiça), ministra Carmen Lúcia.

    Em entrevista exclusiva à Ponte Jornalismo, o desembargador afirmou que a questão é jurisdicional e não está sujeita à apreciação do CNJ”. De acordo com ele, “trata-se de uma medida visando coagir os juízes que ainda apreciarão a pendência – e, portanto, o próprio Judiciário -, a agir de acordo com o que pensa essa minoria que assina a representação”.

    Ainda de acordo com o desembargador Ivan Sartori, a Justiça brasileira é atacada pela reclamação disciplinar que pede que o órgão apure abusos, falta de isonomia e imparcialidade em sua atuação no julgamento do Massacre do Carandiru. “Repudia-se, com veemência, essa violência contra a democracia e a Constituição Federal. A independência do Judiciário, último reduto do cidadão, é algo indisponível”, afirmou à Ponte.

    Artigo: No Carandiru, devemos falar sobre o PCC
    Filha de vítima do Massacre do Carandiru processa SP por posição de desembargador
    TJ-SP anula julgamentos que condenaram PMs envolvidos no Massacre do Carandiru
    Massacre do Carandiru: “Detentos que entregaram armas saíram ilesos”
    Carandiru: “Decisão injustificável”, critica sobrevivente sobre anular julgamentos
    Entidades repudiam anulação de julgamentos do Massacre do Carandiru
    PM envolvido no Massacre do Carandiru é nomeado por Serra ao Itamaraty
    Depois das Grades – As cicatrizes de quem passou pelo Carandiru
    Magistrado que anulou júris do Carandiru condenou rapaz por furto de 8 chocolates
    Dos ‘carandirus’ ao cotidiano das periferias, os massacres continuam

    A reportagem questionou ao desembargador Ivan Sartori quais são os órgãos de imprensa e de direitos humanos que ele acredita que são financiados pelo crime organizado e se o magistrado vê como constitucional o ato de anular a decisão de um júri popular. Para as duas perguntas, ele decidiu não se manifestar.

    As organizações que assinaram o documento defendem o afastamento provisório de Ivan Sartori, “para evitar que haja influência nas decisões dos demais desembargadores no caso, e, posteriormente, a aposentadoria compulsória do juiz, caso a investigação do CNJ confirme as violações”.

    Relator do processo que anulou julgamentos anteriores de 74 PMs envolvidos no Massacre do Carandiru (Foto: Reprodução/Facebook)
    Relator do processo que anulou julgamentos anteriores de 74 PMs envolvidos no Massacre do Carandiru (Foto: Reprodução/Facebook)

    A reclamação disciplinar relembra a postura apresentada pelo desembargador nas redes sociais, em que insinua que a repercussão negativa de sua decisão sobre o Carandiru estaria relacionada ao financiamento de parte da imprensa e e de organizações ligadas aos direitos humanos pelo crime organizado.

    “O argumento de legítima defesa para anular o veredicto do júri popular foi apresentado sem relação com todo o conteúdo de provas apresentadas. O voto do desembargador é incabível em crimes contra direitos humanos na qual os policiais militares excederam seu poder, matando os presos que não apresentavam resistência”, afirmam as entidades no documento.

    Ivan Sartori sentado à mesa com Michel Temer e Geraldo Alckmin em 7 de fevereiro de 2012 (Foto: Reprodução/Facebook)
    Ivan Sartori sentado à mesa com Michel Temer e Geraldo Alckmin em 7 de fevereiro de 2012 (Foto: Reprodução/Facebook)

    Já que Tamo junto até aqui…

    Que tal entrar de vez para o time da Ponte? Você sabe que o nosso trabalho incomoda muita gente. Não por acaso, somos vítimas constantes de ataques, que já até colocaram o nosso site fora do ar. Justamente por isso nunca fez tanto sentido pedir ajuda para quem tá junto, pra quem defende a Ponte e a luta por justiça: você.

    Com o Tamo Junto, você ajuda a manter a Ponte de pé com uma contribuição mensal ou anual. Também passa a participar ativamente do dia a dia do jornal, com acesso aos bastidores da nossa redação e matérias como a que você acabou de ler. Acesse: ponte.colabore.com/tamojunto.

    Todo jornalismo tem um lado. Ajude quem está do seu.

    Ajude

    mais lidas