Ivan Storel foi acusado de desacato e resistência após policiais terem sido chamados para atender caso de violência doméstica em bairro rico da Grande SP
O Ministério Público Estadual denunciou o empresário Ivan Storel, 49, por desacato e resistência, após ele ter humilhado policiais militares que foram chamados para atender uma ocorrência de violência doméstica em Alphaville, bairro rico em Santana do Parnaíba, região metropolitana de São Paulo, no dia 29 de maio.
Na ocasião, a esposa do empresário, com quem é casado há 20 anos, havia chamado os PMs e relatou que o marido havia feito uso de bebidas alcoólicas e que estava agressivo, tendo a chamado de “idiota, vagabunda, puta” e dito que ia “foder” com a vida dela.
Ao chegarem no local, os policiais foram insultados e ameaçados. “Não pisa na minha calçada, não pisa na minha rua. Eu vou te chutar na cara, filho da puta”, grita Ivan em vídeo gravado por uma policial militar, proibindo a aproximação deles. “Você não me conhece. Você pode ser macho na periferia, mas aqui você é um bosta. Aqui é Alphaville, mano”, diz ele. Os policiais não esboçaram qualquer reação.
Os PMs tiveram que solicitar reforço ao Comando de Grupo Patrulha e o empresário foi conduzido algemado à Delegacia de Defesa da Mulher de Santana de Parnaíba. No local, Ivan disse não se lembrar de nada e assinou um termo circunstanciado (registro de infrações com menor potencial ofensivo) por resistência e desacato e foi liberado.
A esposa dele não quis dar continuidade à denúncia por injúria e ameaça e, dois dias depois, Ivan gravou um vídeo pedindo desculpas aos policiais, argumentando que estava sob efeito de álcool e fazendo tratamento psiquiátrico.
Com base no vídeo gravado pela policial, a promotora Renata Caetano Pereira da Silva Fuga denunciou o empresário destacando as ofensas proferidas por ele. Ela solicita que as partes sejam ouvidas, além de que a Patrulha Maria da Penha da GCM (Guarda Civil Metropolitana) acompanhe o caso.
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Na denúncia, o Ministério Público também oferece ao empresário a suspensão condicional do processo, ou seja, cumprimento de medidas para infrações de menor potencial ofensivo, que são as que contêm pena máxima de dois anos de prisão.
A promotora sugere comparecimento mensal em juízo por dois anos, proibição de frequentar bares e estabelecimentos onde haja consumo de bebidas alcoólicas, obrigatoriedade de comparecer ao Núcleo de Prevenção de Acidentes e Violências de Santana de Parnaíba para eventual tratamento psicológico por conta do “contexto de violência doméstica que antecedeu os fatos”, e pagamento de prestação pecuniária (pagamento de valor que pode ser remetido à vítima ou a instituições, diferentemente da multa) de R$ 100 mil, já que ele havia declarado no vídeo receber R$ 300 mil por mês.
A Ponte tentou entrar em contato com Ivan Storel, mas não houve resposta. A reportagem também procurou a esposa do empresário que, por meio do advogado Rafael Augusto Manari, encaminhou uma nota afirmando que o marido é bariátrico e foi diagnosticado com transtornos mentais devido ao uso de álcool, estando “sob cuidados psiquiátricos desde setembro de 2019”, mas que teve uma “piora na frequência e nas quantidades de uso de bebidas alcoólicas, como também, na ingestão de medicamentos psiquiátricos prescritos, sendo usados de forma irregular, em quantidade e frequência diversa do prescrito” devido ao isolamento social.
O texto também afirma que a esposa “se sentindo ameaçada e com medo, recorreu ao 190, pedindo auxilio à Polícia Militar para que pudesse ter sua integridade resguardada, reforçando inclusive que não havia sido agredida fisicamente”. No entanto, aponta que não representou criminalmente contra o marido por entender que ele precisa de “tratamentos psiquiátricos mais intensos”, já que havia sido “por mais de uma vez, recomendada sua internação em clínica especializada”.
Também solicitamos entrevista com os policiais por meio da Secretaria de Segurança Pública. A InPress, assessoria terceirizada da pasta, não respondeu sobre essa questão e informou que a esposa do empresário não quis representar criminalmente contra ele, mas que ela “foi orientada quanto ao prazo de seis meses para formalizar o ato”.