O ex-catador de latas foi lembrado em pelo menos mais seis países durante o mês de novembro. Ato-sarau no Centro do Rio nesta sexta-feira (2/12) marcou a internacionalização da Campanha Pela Liberdade de Rafael Braga
Um ato-sarau no Centro do Rio de Janeiro na noite desta sexta-feira (2) marcou a reta final de um mês inteiro de atividades relacionadas ao Caso Rafael Braga em diversos estados brasileiros e nos Estados Unidos, França, Portugal, Alemanha, Itália e Reino Unido. Criada após a injusta prisão do ex-catador de latas negro Rafael Braga, cujo rosto estampa muros pela cidade do Rio, a Campanha pela Liberdade de Rafael Braga já contava com a adesão de movimentos sociais, ativistas, intelectuais e artistas brasileiros, como os rappers Emicida e Criolo, e agora é internacional.
As atividades realizadas durante o mês de novembro debateram a seletividade do Sistema Penal a partir do caso que virou símbolo de injustiça e pediram a liberdade do primeiro e único condenado preso no contexto das manifestações que tomaram as ruas em junho de 2013 em todo o Brasil. Houve debates, apresentações teatrais e musicais, projetos acadêmicos e saraus em cidades do estado de São Paulo, Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina, Ceará, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia, Goiás, Brasília e Minas Gerais, além do Rio de Janeiro, onde a campanha conta com o apoio de organizações como Justiça Global, Viva Rio e DDH, entre outras.
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Vários dos jovens que haviam sido detidos durante as manifestações onde Rafael nunca esteve revoltaram-se com a arbitrariedade de que o catador de latas foi vítima e fundaram a Campanha Pela Liberdade de Rafael Braga, com o objetivo de lutar pela libertação do jovem e prestar assistência à sua mãe, Adriana Braga, que vive com o marido, também catador, e mais quatro filhos menores em um pequeno casebre na favela Vila Cruzeiro, na Penha, zona norte do Rio. Filho mais velho, Rafael, hoje com 29 anos, era o único que a ajudava nas despesas. Tratado inicialmente pela imprensa como morador de rua, ele na realidade passava a semana dormindo no Centro, onde havia mais latas para catar, para vender na feira de sábado na Lapa e poder pagar a condução de volta para o barraco da família, a quem o parco dinheiro que conseguia se destinava.
“A campanha internacional tem o objetivo de dar um alcance maior ao caso do Rafael Braga, saindo do alcance limitado do Facebook. As diversas atividades por todo Brasil vão dialogar com pessoas nas ruas e o alcance internacional mostra o quão absurdo e simbólico é o caso dele”, afirma o engenheiro mecânico Fábio Campos, integrante da campanha. “Além de pedir a liberdade do Rafael e tentar sensibilizar de alguma forma o Judiciário, a campanha tem o objetivo de trazer à tona os debates de temas que circundam a prisão do Rafael como a seletividade do sistema penal, o racismo, a guerra às drogas como política de guerra racial e o encarceramento em massa”, completa.
Negro e morador da favela Vila Cruzeiro, no bairro da Penha, zona norte do Rio, Rafael foi abordado por dois policiais civis quando saía do local onde dormia durante a semana e armazenava latas, garrafas e demais objetos que recolhia nas ruas – uma loja abandonada em frente à DCAV (Delegacia da Criança e Adolescente Vítima), na Rua do Lavradio, bairro da Lapa, região central da cidade. Como a porta do local encontrava-se arrombada havia muito tempo, qualquer pessoa podia entrar. Mesmo sem haver nenhum indício de que o catador de latas pretendesse se aproximar da região onde o protesto acontecia, e a despeito de as garrafas plásticas que levava estarem lacradas, os policiais alegaram que os produtos que levava seriam usados como coquetel molotov (arma química incendiária comumente utilizada em protestos), o que bastou para que ele fosse enquadrado no inciso III do artigo 16 do Estatuto do Desarmamento (Lei 10826/03), que proíbe o porte, uso ou fabricação de “artefato explosivo ou incendiário, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar”, que prevê pena de três a seis anos de prisão e multa.
Em 12 de janeiro deste ano, entretanto, quando fazia o trajeto da casa de sua mãe para a padaria para comprar pães, usando bermuda e com a tornozeleira à mostra, foi violentamente abordado por policiais da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) da Penha, que o agrediram e o ameaçaram de atribuir arma e drogas a ele caso não delatasse os traficantes da região onde vive sua família. Mesmo tendo explicado que nada sabia e que trabalhava, foi agredido pelos policiais e a ameaça se concretizou: Rafael foi, mais uma vez, vítima de flagrante forjado, retornando à prisão, em Bangu, onde aguarda julgamento. Mais uma vez, todo o processo envolvendo Rafael está fundamentado somente na palavra de policiais.
[…] Fonte: Mobilização pela liberdade de Rafael Braga ganha seis países além do Brasil | Ponte Jornalismo […]
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