Na quarentena, Cooperifa e Bloco do Beco doam cestas e livros na quebrada

    Cestas têm alimento, álcool em gel e poesia; poeta Sérgio Vaz, idealizador da Cooperifa, afirma que, em tempos de pandemia, é importante “alimentar o corpo e a alma”

    Cestas da segunda leva serão entregues a partir de segunda-feira (22/6) | Foto: Divulgação

    Os saraus da Cooperifa, realizados todas as terças-feiras no Bar do Zé Batidão, no Jardim Guarujá, zona sul da cidade de São Paulo, pararam por conta da pandemia. Com o isolamento social, as ações passaram a ser voltadas para quem está sendo atingido pela crise do coronavírus.

    Com a economia em marcha lenta afetou sensivelmente a renda de quem vive na quebrada. Do trabalhador informal impedido de exercer suas atividades ou mesmo sem clientela por causa do coronavírus, até pessoas contratadas que perderam seus empregos formais, todo mundo viu a renda cair na direção oposta que as mortes pela Covid-19 aumentam.

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    Vendo a situação na zona sul da capital paulista, o poeta Sérgio Vaz, criador do sarau da Cooperifa, começou a se movimentar para ajudar os atingidos pelas crises de saúde e da economia.

    À Ponte, o Dom Quixote de la Perifa, como Vaz também é conhecido, aponta a ausência de ações dos governos como motivação para se juntar a outras pessoas e mobilizar a doação na periferia.

    Alimentos (abaixo) acompanham itens de higiene (saco transparente) e livros (sacola amarela) | Foto: Divulgação

    “Sempre pensamos que é nós por nós, não tem jeito. Nunca podemos depender do Estado. Com o tempo, começamos a perceber que com os artistas, o povo a nossa volta, bateu a fome”, cita Vaz.

    Uma primeira ação ocorreu na primeira semana se junho, com a entrega de 70 cestas na zona sul paulistana, no Jardim Santo Antônio, Capão Redondo, Jardim São Luís.

    Mas não havia só comida. “Pensei na ideia de colocar um livro também. A pessoa está dentro de casa e não tem essa de dizer que não tem tempo”, brinca.

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    A ação precisou de reforço para seguir adiante. Em uma segunda leva de doações, o Bloco do Beco, coletivo que atua levando ações culturais ao Jardim Ibirapuera, também na zona sul da capital paulista, colou junto.

    “Como faltou livro, vamos fazer campanha de arrecadação com o Bloco do Beco. Nessa cesta vamos entregar comida, álcool em gel, livros, canetas, lápis, imãs com poesia… Uma ação para alimentar o corpo e alma”, conta Sérgio Vaz.

    A próxima ação está prevista para ter início na segunda-feira (22/6), mantendo a atuação na zona sul de São Paulo, com previsão de dois a três dias de trabalho.

    Vaz recebeu prêmio Santo Dias de direitos humanos em 2019 | Foto: Arthur Stabile/Ponte Jornalismo

    “Nesse momento precisamos estar fortalecidos nas ideias, sabendo o que está acontecendo para não esmorecer a luta”, diz. “É um momento de muita fragilidade e é hora de dizer que está todo mundo junto. Precisamos voltar a entrega de comida!”, lamenta.

    A ação conta com o apoio do Ministério Publico do Trabalho em São Paulo, com reversão de multas de TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) para aquisições de cestas básicas. A procuradora do Trabalho Elisiane Santos explica à Ponte que esta ação é fundamental para apoiar famílias vulneráveis no enfrentamento a pandemia.

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    “Essas multas são decorrentes de empresas investigadas em inquéritos civis por descumprimento da legislação trabalhista, por exemplo quando não atendem medidas de saúde e segurança, praticam assédio moral ou discriminações, utilizam trabalho infantil ou degradante na sua atividade produtiva ou outras práticas que violam a dignidade do trabalhador ou as condições de trabalho”, explica Santos.

    Segundo a procuradora, a ação da Cooperifa com o Bloco do Beco tem importância ressaltada ao incluir a literatura para atingir crianças e adolescentes, “contribuindo para a prevenção de violências e violações de direitos nesse período de escola a distância”, diz.

    Atualização às 16h06 de sábado (20/6) para incluir entrevista com procuradora do MPT.

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