Unidade policial que deveria proteger a população nigeriana é acusada, dentre outras coisas, de corrupção, extorsão, roubo, tortura, sequestro e execuções
Nas últimas semanas, a hashtag #EndSARS tem sido vista com frequência entre os assuntos mais comentados do momento nas redes sociais. Vinda da Nigéria, ela quer dizer “Acabe com o Sars” (sigla para Special Anti-Robbery Squad ou Esquadrão Especial Antirroubo, em tradução livre). Ao pesquisar o termo, é possível ver dezenas de vídeos e links de canais de notícias mostrando a juventude nigeriana nas ruas contra essa divisão da Força Policial Nigeriana. Mas como as coisas chegaram nesse ponto?
Criada em 1984 para conter os constantes furtos e roubos no país, o Sars tinha no uso da força sua maior tática, segundo a Sky News. No entanto, nos anos 90, grupos de defesa dos Direitos Humanos já denunciavam uma série de ações ilegais da unidade, que vieram crescendo ao longo dos últimos 30 anos até chegar ao estopim das últimas semanas.
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A lista de acusações é enorme: corrupção, extorsão, roubo, tortura, sequestro, execuções e assédio, agressões voltadas, na maioria das vezes, contra a população jovem e sem que os responsáveis fossem punidos. A Anistia Internacional registrou 82 casos de tortura e execução entre janeiro de 2017 e maio de 2020. Segundo relatório da organização, “a maioria das vítimas são homens de 18 a 35 anos, pobres e de grupos vulneráveis e que são torturados com fins de extrair confissões ou como punição pelos crimes a eles atribuídos”. Os membros da Sars também são acusados de confiscarem propriedades de pessoas suspeitas de terem cometido crime sem determinação judicial, o que vai contra a Constituição nigeriana.
Os protestos
Ninguém sabe com certeza como os protestos que varreram o país, ganhando apoio internacional, começaram. Mas o site especializado em tecnologia Tech Cabal rastreou o assunto até chegar em um tweet de 3 de outubro que dizia que policiais do Sars haviam atirado em um rapaz e o deixado para morrer sem prestar socorro diante de um hotel em Ughelli, cidade no estado de Delta, no sul do país, e ainda fugiram com o veículo do jovem falecido. A mensagem foi retuitada 10 mil vezes e logo jovens influencers nigerianos apoiaram a causa.
A crescente indignação nas redes, impulsionada pela hashtag #EndSARS, criada em 2017, logo foi para as ruas em forma de protestos que tomaram o país e encontraram apoio, moral e financeiro, ao redor do planeta. A diferença dos protestos atuais para os que os nigerianos vinham fazendo ao longo dos anos é o uso massivo das redes sociais para denunciar distorções de narrativa por parte da mídia tradicional e constranger publicamente empresas e jornalistas que fazem isso. Milhares têm saído as ruas da Nigéria desde o início de outubro pedindo não apenas o fim da violência policial e da Sars, mas reforma de todo o sistema policial nigeriano.
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Segundo a Anistia Internacional, nos últimos dias, 10 pessoas morreram e centenas ficaram feridas. Há informações de manifestantes sendo atacados por bandidos armados com armas, facas, cassetetes e facões.
Reação do governo
Segundo números da ONU, mais de 60% da população nigeriana tem menos de 24 anos e é esse público que toma as ruas. Em resposta, o Inspetor Geral da Polícia da Nigéria, Mohammed Adamu, anunciou a dissolução do Sars. A iniciativa, no entanto, não convenceu os manifestantes, que seguem nas ruas. Os governadores de diferentes estados nigerianos pediram o fim dos protestos, que seguem fechando cidades e, na manhã desta segunda (19/10), bloquearam o acesso ao Banco Central da Nigéria.
Após encontro com o presidente Muhammadu Buhari, o ministro da Juventude e do Desenvolvimento Esportivo, Sunday Dare, afirmou que, para o chefe do Executivo, “é importante que permitir que as gerações mais jovens excerçam a sua liberdade de protestar”. Buhari ainda teria prometido que não apenas fará as reformas, mas garantirá que elas durem para que o país tenha orgulho de sua força policial.
[…] de 2017 e maio de 2020, alguns meses antes da eclosão dos protestos. A maioria das vítimas, de acordo com a Ponte Jornalismo, são homens pobres e de grupos vulneráveis entre 18 e 35 […]
[…] financeiras de compra-los. Decide, então, a levar ao posto policial. O relato é de uma ação na Nigéria, mas caberia à realidade do […]
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