Imagens reveladas pela Ponte desmentiram versão de troca de tiros, dada pelos policiais, e revelaram que David Nascimento dos Santos, 23 anos, foi colocado em viatura antes de ser morto
A Justiça Militar decretou a prisão preventiva dos 8 PMs suspeitos de envolvimento na morte do vendedor ambulante David Nascimento dos Santos, 23 anos, na noite de sexta-feira (24/4) na Favela do Areião, no Jaguaré, zona oeste da cidade de São Paulo. David tinha sinais de tortura. Os PMs estão detidos no Presídio Militar Romão Gomes, zona norte da capital paulista.
Imagens divulgadas pela Ponte mostraram o momento em que David foi abordado por PMs e colocado numa viatura do 5° Baep (Batalhão de Operações Especiais) horas antes de ser achado morto. As imagens contradizem a versão apresentada pelos PMs no 5º DP de Osasco, que foi registrada como morte decorrente de intervenção policial, resistência e a excludente de ilicitude foi citada para endossar uma suposta legítima defesa.
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Segundo o documento da Justiça Militar, emitido no último domingo (3/5), as imagens da abordagem de David sendo colocado no banco traseiro da viatura chegaram na Corregedoria da PM no dia 26 de abril. Duas horas depois do registro, David foi socorrido pela Unidade de Resgate ao Hospital Geral de Osasco, mas faleceu.
O juiz Ronaldo João Roth afirmou no documento que “a prisão cautelar dos indiciados é medida imperiosa da qual o Poder Judiciário não pode fechar os olhos, nem se omitir”, além de entender que “os fatos são gravíssimos, pois ocorreu a morte do civil David, duas horas antes abordado e conduzido pela viatura policial até o local dos fatos, em situação obscura”.
Na Corregedoria, os policiais confirmaram a abordagem, mas disseram que a pessoa não era David. Os familiares de David, no entanto, levaram duas testemunhas oculares que reconheceram, sem sombra de dúvida, que a pessoa abordada era o vendedor ambulante.
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A pessoa que os PMs disseram ter sido abordada no lugar de David negou que tenha saído de casa na noite do dia 24 de abril e afirmou que a última vez que foi parado pela polícia foi em dezembro de 2019.
A conclusão das investigações, afirma a Justiça Militar, é de que os policiais da equipe do Baep E-05207, composta pelo 1º sargento Carlos Antonio Rodrigues do Carmo, cabo Lucas dos Santos Espíndola, cabo Mauricio Sampaio da Silva e soldado Vagner da Silva Borges, e da equipe do Baep E-05303, composta pelo 2º sargento Carlos Alberto dos Santos Lins, cabo Cristiano Gonçalves Machado, soldado Antonio Carlos Rodrigues de Brito e soldado Cleber Firmino de Almeida, praticaram os crimes de homicídio e fraude processual, por apresentarem vestimentas diversas da vítima, cárcere privado e falsidade ideológica.
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Os policiais suspeitos da morte de David negam o crime. No boletim de ocorrências, a versão registrada no registrada no 5º DP de Osasco, na Grande São Paulo, pela delegada Maria Cristina da Silva Sá, afirma que os policiais militares do Baep alegaram que perseguiam, na avenida Presidente Altino, em Osasco, um veículo Onix prata ocupado por quatro homens em atitude suspeita.
Segundo os PMs, na favela do Areião estava o motorista de aplicativo Carlos César Cruz, 57 anos, que havia sido assaltado por três homens desconhecidos. A vítima declarou à Polícia Civil ser incapaz de reconhecer os criminosos.
Os PMs das viaturas E0527 e E05211 relataram, no registro da ocorrência, que os três homens abandonaram o carro e seguiram a pé pela favela. Acrescentaram que eles também saíram da viatura e foram a pé atrás dos suspeitos.
Na versão dos PMs, na rua Manoel Antônio Portela, perto de uma empresa desativada chamada Corneta, perto da favela, eles avistaram um homem atrás de uma moita. Em seguida, eles “ditaram palavras de ordem, se identificaram como policiais, mas um indivíduo saiu de mato atirando contra eles, que revidaram e efetuaram cinco disparos”.
Os PMs disseram ainda que acionaram a a Unidade de Resgate e David foi levado para o Hospital Regional de Osasco pela viatura UR 18115, comandada pelo cabo Félix. Os PMs do Baep afirmaram que ele chegou ao local já sem vida por volta das 21h35. De acordo com os PMs, David estava uma pistola 9 mm de marca israelense.
A família de David havia entrado em contato com a Ponte na última quinta-feira (30/4) para informar que estava sendo ameaçada. Eles acreditam que sejam policiais à paisana. “Nenhum visitante ou morador, quando entra na comunidade, para o carro e fica nos observando. Eles entraram lentamente, pararam na frente da câmera [que registrou a abordagem] e foram, tarde da noite, bater na porta da mãe do David, mas ela não estava em casa”, disse a familiar do jovem.
Raphael Blaselbauer, advogado da família de David, disse à Ponte que mais testemunhas serão ouvidas no DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa) nesta segunda-feira (4/5).
Outro lado
A Ponte procurou as assessorias da Secretaria da Segurança Pública e da Polícia Militar para contatar a defesa dos oitos policiais suspeitos da morte de David, mas não obteve retorno.
Em nota, a SSP-SP confirmou que “a Corregedoria da Polícia Militar solicitou a prisão preventiva dos policiais militares envolvidos na ocorrência à Justiça Militar, que deferiu o pedido”.
“Os oito policiais militares, que se apresentaram na sede do órgão corregedor da instituição neste domingo (3/5), foram encaminhados ao Presídio Militar Romão Gomes. As investigações seguem tanto pela PM, como pelo DHPP”.