PM usa bombas e agride pessoas na comemoração do aniversário de Bauru (SP)

Vídeos mostram feridos e policiais invadindo comércios sob a desculpa de “dispersar” público no Parque Vitória Régia

Os três dias em comemoração aos 126 anos da cidade de Bauru, no interior de São Paulo, não ficaram marcados pelos shows e apresentações artísticas, mas pela truculência da Polícia Militar. Uma série de vídeos mostra os agentes públicos utilizando bombas de efeito moral e de gás lacrimogêneo, tiros de bala de borracha e cassetetes para dispersar o público ao final das festividades.

Segundo relatos de pessoas que participaram da festa e comerciantes locais, nas noites dos dias 30 e 31 julho, e 1º de agosto, policiais militares usaram força excessiva para retirar as pessoas do Parque Vitória Régia, que fica ao lado do Campus Bauru da Universidade de São Paulo (USP), onde ocorriam os principais eventos da festa da cidade.

Em um dos vídeos a que a Ponte teve acesso, uma mulher registra os policiais atirando bombas contra o público no último dia da festa, e feriado em Bauru. Idosos e crianças estão presentes em um local com diversas barracas de lanche e precisam correr para tentar se proteger da ação dos PMs. Em um dos registros, um homem aparece com um ferimento na cabeça alegando ter sido agredido pelos policiais.

Imagens captadas por câmeras de segurança de uma lanchonete que fica em frente ao parque mostram policiais invadindo o estabelecimento e expulsando todos os clientes do local. Um dos homens que estavam no espaço recebeu um golpe de cassetete de um policial quando saía.

Deisi Luci da Silva, dona da lanchonete, diz não entender o porquê de a polícia ter agido com tanta violência dentro do seu comércio. Ela afirma que a ação da PM ocorreu mais de uma vez no espaço durante aquele final de semana e que ela também chegou a ser agredida por policiais.

“Eles invadiram o meu estabelecimento, bateram com cassete na mesa e tiraram todo mundo lá dentro. Eles pediram meu documento e tinha deixado eles em casa, mas eu moro perto e pedi para irem buscar. Durante esse tempo um dos policiais ficou gritando comigo. Eu tentei argumentar que não estava ocorrendo nada de errado e ele meu bateu com o cassetete no braço”, contou a comerciante.

O advogado Kleytton Augusto Barbosa Messias diz que os episódios de violência protagonizados pela polícia ocorreram desde antes mesmo da festa promovida pela prefeitura de Bauru ter início. “Há vários relatos de que a polícia já estava agredindo pessoas naquela região desde  quinta-feira. No último dia, houve um boato que a dispersão violenta se deu por conta de uma briga, mas houve agressão por parte dos policiais antes e depois dessa briga”, conta.

Kleytton, que está defendendo Deisi e o estabelecimento dela, afirma que vai entrar com uma ação contra os policiais por abuso de autoridade. “Além das agressões, eles entraram em um local privado sem nenhum tipo de mandado judicial. Extrapolaram o que compete a eles. O bar estava aberto antes da 1h que é o horário que o alvará permite que ele fique aberto. Vamos entrar na Justiça para que haja alguma reparação.”

O defensor explica que esse não foi um caso isolado das forças de segurança do Estado no município por conta das festividades. Ele garante que é rotineiro que ações dispersando aglomerações ou para fechar comércios ocorram principalmente nos bairros periféricos de Bauru.

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“Eles chegam e mandam as pessoas saírem das praças e dos bares. Essa repressão acontece, sobretudo, contra a população negra e mais pobre da cidade, que também são as mesmas pessoas que foram agredidas durante o final de semana de aniversário da cidade. Era a camada mais popular da cidade que estava aproveitando a festa numa área nobre da cidade.”

Outro lado

A Ponte pediu explicações sobre a ação repressiva da Polícia Militar em Bauru para a Secretaria da Segurança Pública do Estado de São Paulo desde a semana passa e até a publicação deste texto não teve resposta. A reportagem também questionou a prefeitura de Bauru se houve algum pedido por parte do poder executivo muncipal para que a PM disperssasse o público, mas também não obteve retorno.

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