Denúncia aponta que PMs da Força Tática agrediram rapazes em mesma avenida onde chacina deixou três mortos, em 2019, em Sapopemba, na zona leste de SP
A Rede de Proteção e Resistência Contra o Genocídio, movimento que atua com violação de direitos humanos nas periferias, denunciou que policiais militares da Força Tática agrediram jovens durante uma abordagem, efetuaram disparos em direção ao familiar de um deles e ameaçaram um rapaz de morte, na noite deste sábado (4/7), em Sapopemba, na zona leste da capital paulista.
Segundo a denúncia, dois homens andavam de moto pela avenida Custódio de Sá e Faria, altura do número 672, quando receberam ordem de parada pelos policiais em uma viatura. A avenida é a mesma onde, em setembro de 2019, aconteceu uma chacina com três mortos e um ferido.
“Um dos meninos parou, o outro acelerou e parou mais a frente, e começaram as agressões”, afirma um dos denunciantes à Rede. “Os policiais começaram a agredir eles com vários tapas”.
Em seguida, de acordo com ele, apareceu o sobrinho de um dos jovens de carro. “Quando ele presenciou o tio sendo agredido, ele dá ré no carro e os policiais deixam os que estavam sendo abordados e dão vários disparos contra o carro dele, um Crossfox, e ele começa a empreender fuga”, relata. Ele afirma que escutou cerca de quatro disparos.
Um dos denunciantes disse que o rapaz no carro parou em frente à casa dele. “Começou a gritar pedindo ‘socorro, socorro’ e acelera, a polícia atirando”, descreve.
“A gente conseguiu encontrar esse jovem numa rua erma, bem escura. Ele estava com o carro parado, assustado, dizendo que os policiais pegaram a chave do carro e levaram e fizeram ameaças”, prossegue.
De acordo com ele, os policiais teriam assumido a autoria da chacina que aconteceu na região, no ano passado, e que ameaçaram “fazer o mesmo” com os jovens. “O rapaz estava dizendo que os policiais disseram ‘ lembra da menina e dos rapazes que foram mortos por nós, voltaremos aqui e faremos igual”, aponta. Os policiais também teriam fotografado os rapazes que, segundo eles, alguns são familiares dos mortos da chacina.
Na época, a Ponte denunciou que, após as mortes de Vitória Noemi da Silva, 21, Augusto Carlos de Souza, 41, e Jailson Lima Mota, 44, assassinados a tiros, o único sobrevivente da ação entrou para o programa Provita (Programa Estadual de Proteção a Vítimas e Testemunhas), responsável por proteger pessoas que sofrem ameaças por colaborarem em inquéritos policiais ou processos criminais. A solicitação de ajuda se deu por suspeita de envolvimento de policiais no crime.
Ele foi atingido no ombro e relatou que se escondeu atrás de uma caçamba de lixo. “Eu ouvi os tiros e saí correndo para trás das caçambas de lixo. Fiquei me mexendo e as arrastando para me proteger enquanto ele disparava. Deu tempo de parar, recarregar e continuar atirando”, declarou à Ponte na época.
Na ocasião, moradores e testemunhas relataram que PMs da Força Tática apareceram poucas horas antes e na mesma viela onde a chacina aconteceu dizendo que “voltariam para matar“. Por volta das 23h30, do dia 30 de setembro de 2019, um homem em uma moto escura parou e descarregou dois cartuchos de calibre 9 milímetros nas vítimas. Moradores recolheram parte dos cartuchos que ficaram pelo chão e disseram que o atirador era escoltado por veículo Fiat Siena prata. Quatro minutos depois, de acordo com as testemunhas, uma viatura apareceu.
Na época, a reportagem também noticiou sobre novas ameaças feitas na região três dias depois das mortes. O relato era de que dois jovens que moram na favela que tem como uma das entradas a viela onde aconteceu a chacina foram ameaçados por PMs. “Se eles não voltarem a pagar, mais um CPF vai desaparecer”, teriam dito dois policiais fardados. O “pagar” seria uma referência a uma quantia paga pela biqueira que funciona no local. Quem estava presente na rua disse que flagrou quando PMs procuraram pelo sobrevivente da chacina.
A Rede de Proteção e Resistência ao Genocídio informou o ocorrido ao ouvidor Elizeu Lopes e ao promotor Arthur Lemos. A denúncia também foi remetida à Secretaria de Segurança Pública de SP.
Outro lado
A Ponte procurou as assessorias de imprensa da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, do Ministério Público Estadual e da Ouvidoria das polícias e aguarda um posicionamento.