Determinação de expulsar Victor Cristilder Silva dos Santos, Fabrício Emmanuel Eleutério e Thiago Barbosa Henklain acontece às vésperas de julgamento de recurso que questiona provas do caso
A Polícia Militar de São Paulo expulsou da corporação o cabo Victor Cristilder e os soldados Fabrício Emmanuel Eleutério e Thiago Barbosa Henklain, no último sábado (20/7). Eles foram condenados a mais de 600 anos de prisão por participarem de pelo menos 17 das 23 mortes ocorridas em agosto de 2015, na região de Osasco, na Grande São Paulo. O episódio ficou conhecido como a maior chacina de São Paulo.
Além dos agora ex-policiais militares, o guarda civil Sérgio Manhanhã foi condenado a 100 anos pela participação nos ataques.
Na próxima quarta-feira (24/7), haverá o julgamento de recursos da defesa dos ex-policiais no TJ-SP (Tribunal de Justiça de São Paulo), que alegam que as provas são frágeis e desejam a anulação do júri. Eleutério e Henklain foram julgados e condenados a 255 e 247 anos de prisão, respectivamente, em setembro de 2017. Cristilder passou pelo Tribunal do Júri em março do ano passado e recebeu como pena 119 anos de prisão.
João Carlos Campanini, advogado do ex-cabo Victor Cristilder, afirmou que causa estranheza uma expulsão ser determinada às vésperas do julgamento do recurso que questiona justamente a condenação do seu cliente. “Estamos indo até a Corregedoria da PM para pegar os autos e ler a decisão em sua íntegra. De antemão, eu entendo que essa expulsão às vésperas do julgamento do recurso seja para tentar influenciar os desembargadores a não aceitarem os pedidos da defesa. Muito estranho o fato da PM ter apurado no passado, entendido que eles eram inocentes e agora mudado de ideia sem qualquer fato novo”, disse à Ponte.
Campanini destacou que acredita na justiça e que espera “um julgamento isento” na próxima quarta-feira para reverter a condenação de Cristilder.
O advogado Fernando Capano, responsável pela defesa de Fernando Capano, considerou a decisão de expulsão abusiva e fere o princípio de presunção de inocência, uma vez que o processo não está transitado em julgado. “A Administração Militar Paulista agiu de maneira equivocada e extemporânea. É fato que as esferas administrativa e judicial são independentes, desde que existam fatos que possam dar substância ao eventual resvalo disciplinar, sem considerar o resultado no processo judicial. Não é o caso que estamos analisando aqui, visto que, como disse, estão sendo desligados da PM com base em antecipação de culpa pelo quanto apurado no processo judicial”, declarou.
Capano ainda destacou que a decisão é ilegal e tentará ser revertida pela defesa.
A Ponte também entrou em contato com Flávia Artilheiro, que responde pela defesa de Fabrício Eleutério. Nesta terça-feira, a advogada enviou uma mensagem em que se diz surpresa. “A decisão surpreende não apenas por contrariar o Relatório do Conselho processante, mas principalmente por se dar às vésperas do julgamento. Tem claro viés político e o intento de influenciar no deslinde da causa. Apesar disso, continuamos firmes no propósito de anulação do júri, para que Fabrício possa ter um novo e correto julgamento”, declarou.
Relembre o caso
No dia 8 de agosto de 2015, seis pessoas foram mortas por homens encapuzados em Itapevi, Carapicuíba e Osasco, cidades da Grande São Paulo. Menos de uma semana depois, no dia 13, 17 pessoas foram assassinadas em ataques nas cidades de Osasco e Barueri. O episódio ficaria conhecido como a maior chacina da história de São Paulo.
Os PMs Thiago Henklain, Victor Cristilder e Fabrício Eleutério foram denunciados, julgados e condenados entre 2016 e 2018 pelas 17 mortes ocorridas no dia 13 de agosto. Além deles, Sérgio Manhanhã, agente de uma divisão especial da Guarda Civil Municipal de Barueri, também foi condenado por participação nos crimes. A chacina aconteceu em represália a dois crimes: o assassinato do PM Admilson Pereira de Oliveira, em 8 de agosto de 2015, e do GCM de Barueri Jeferson Luiz Rodrigues da Silva, cinco dias depois. Mensagens de Whatsapp foram fundamentais para ligar os acusados.
No ano passado, após a condenação do último acusado, Victor Cristilder, Zilda Maria de Paula, mãe de Luis Fernando, uma das vítimas da chacina, disse que sentiu a justiça sendo feita. “Eu vivo o dia 13 de agosto como se fosse hoje. Olho pro relógio e falo: ‘Foi essa hora’. Vou fazer 66 anos e, até o último dia que eu respirar, vou viver aquilo. Os nossos mortos não vão voltar”, desabafou, à época, Dona Zilda, que se transformou junto a outras mães em um símbolo de busca por justiça.
Reportagem atualizada às 12h21 do dia 23/7