Alejandro Juvenal Herbas Camacho Junior, irmão de Marcola, apontado como líder da facção, já estaria há duas semanas sem comer, segundo familiares
Presos do PCC (Primeiro Comando da Capital) recolhidos na Penitenciária Federal de Brasília ameaçam entrar em greve de fome por tempo indeterminado.
Segundo parentes de detentos, o movimento grevista é em protesto contra a falta de atendimento médico aos presidiários doentes, inclusive pacientes terminais, e também por conta da péssima alimentação servida na unidade prisional.
Um deles, Paulo César Souza Nascimento Júnior, o Paulinho Neblina, chegou a escrever duas cartas e enviar aos familiares denunciando a privação de alimentação adequada. Algumas dessas cartas foram enviadas à reportagem da Ponte. Paulinho Neblina tem síndrome de Chron, uma doença crônica no intestino, e já perdeu 25 quilos. Ele precisa de uma dieta específica e, segundo seus parentes, isso não está acontecendo.
A mulher de um preso que visitou o parente na semana passada contou que Júnior recebeu no mesmo dia a visita das filhas e que estava tão fraco que mal conseguia falar.
Há rumores de que o preso Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, apontado pelo Ministério Público do Estado de São Paulo como líder máximo do PCC, também vai aderir à greve.
O irmão dele, Alejandro Juvenal Herbas Camacho Júnior, já está sem comer há pelo menos duas semanas, e, segundo seus familiares, o preso tem sérios problemas de saúde e emagreceu 50 kg.
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Outro preso da mesma unidade, Felipe Batista Ribeiro, o Anjinho, sofre de câncer no cérebro e, segundo seus familiares e advogados, deveria ter tratamento médico adequado fora da prisão.
O juiz-corregedor da 15ª Vara Federal de Brasília, Francisco Codevila, havia autorizado, no mês passado, a transferência de Anjinho para o Amazonas, seu estado de origem, por causa da doença do preso.
O magistrado, no entanto, voltou atrás da decisão após o Depen (Departamento Penitenciário Nacional) informar que o detento é de alta periculosidade e representa um perigo à sociedade.
Na segunda-feira (9/03), o juiz também negou o pedido de autorização para que Anjinho pudesse realizar exames com médico particular dentro da unidade.
Anjinho tem convulsões diárias e constantemente perde a memória. Em uma de suas últimas visitas, o preso falava frases desconexas, tinha muita dor de cabeça e não sabia onde era a sua cela.
A Ponte vem recebendo desde o início deste ano queixas de parentes de presos da Penitenciária Federal de Brasília, principalmente em relação à alimentação e a falta de atendimento médico.
Os presos da unidade também estão revoltados com a medida que os proibiu de abraçar os filhos durante a visita. Os detentos internados nas unidades federais com bom comportamento durante um ano inteiro tinham esse direito.
Parentes de presos da Penitenciária de Brasília afirmaram que não está descartada a possibilidade de a greve de fome se estender por todas as cinco unidades prisionais federais do país e também nas prisões do Estado de São Paulo.
Informações obtidas pela reportagem com funcionários do sistema estadual apontam que, na manhã desta quarta-feira (11/3), em algumas unidades da capital paulista e Grande SP, presos estariam se recusando a sair para audiência no Fórum em solidariedade ao que está acontecendo no sistema federal.
Em novembro de 2006, Marcola e outros 40 presos do PCC fizeram greve de fome no CRP (Centro de Readaptação Penitenciária) de Presidente Bernardes, na região oeste do estado de São Paulo.
Os grevistas ficaram 13 dias sem comer em protesto contra as reformas no presídio, que recebeu reforço na segurança das celas e prejudicou a ventilação, diminuindo a entrada de ar pelas janelas.
Outro lado
A Ponte questionou a Secretaria de Administração Penitenciária de São Paulo sobre a informação do suposto movimento de solidariedade de presos no estado ao que acontece no sistema federal. Até o fechamento da reportagem, a pasta informou que estava apurando, mas não deu uma resposta.
O Depen enviou duas notas referentes às denúncias veiculadas pela Ponte. Ambas negam que esteja havendo privação de alimentação e falta de atendimento médico na Penitenciária Federal da Brasília. Não deu detalhes do preso Felipe Ribeiro Batista, o Anjinho, alegando sigilo ético previsto pelo Conselho Federal de Medicina. No entanto, destacou que o atendimento de saúde básica é feito dentro da unidade e casos de maiores complexidades podem ser tratados com convênios junto a hospitais maiores.
Destaca, ainda, que não há distinção entre presos. “As pessoas presas, qualquer que seja a natureza de sua transgressão, mantêm todos os direitos fundamentais a que fazem jus todas as pessoas humanas, e principalmente o direito de gozar dos mais elevados padrões de saúde física”.